quinta-feira, 8 de abril de 2010

Escândalo Nacional - 3,1 Milhões: Mexia explica prémios da EDP com objectivos superados





Escândalo Nacional - 3,1 Milhões
Mexia explica prémios da EDP com objectivos superados
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O presidente executivo da EDP, António Mexia, troca impressões com José Sócrates no lançamento do projecto InovCity

O presidente executivo da EDP socorreu-se esta terça-feira do argumento da superação de metas traçadas pelos accionistas da empresa para explicar os prémios plurianuais e remunerações de 3,1 milhões de euros que lhe foram atribuídos em 2009. À margem do lançamento de um projecto de electricidade inteligente, António Mexia sustentou que “as pessoas devem ser confrontadas quando não conseguem entregar o que é proposto”.

Em informação remetida à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a EDP indicou que António Mexia encaixou, no ano passado, 700 mil euros em salários fixos e outros 600 mil euros em remunerações variáveis, que oscilam consoante as metas alcançadas. A estes montantes acresce um prémio plurianual na ordem dos 1,8 milhões de euros, que é inscrito nas contas de 2009 e corresponde a 600 mil euros por cada um dos três anos de mandato. Ao todo, o presidente executivo da eléctrica portuguesa vai receber, este ano, 3,1 milhões de euros, assim que a assembleia-geral de accionistas da EDP, agendada para 16 de Abril, der luz verde às contas.
Confrontado com os números, António Mexia lembra que "foram fixados objectivos que toda a gente reconhece que eram ambiciosos": "A maioria das pessoas considerou que seriam difíceis de atingir e foram claramente ultrapassados. O que é que acontece? Se nós não tivéssemos atingido esses objectivos, a pergunta nem se colocaria, mas isso é que é pena".

"Eu acho que as pessoas devem ser confrontadas quando não conseguem entregar aquilo que era suposto e não quando entregam muito mais do que aquilo que é suposto com uma equipa de 12 mil pessoas. Essa é que é a questão. A questão é que a EDP, nesse período de 2006, 2007 e 2008, transformou a maior empresa portuguesa na maior multinacional portuguesa, no maior investidor português no estrangeiro com um contributo decisivo para o crescimento da economia portuguesa", contrapôs o CEO da eléctrica, que falava à margem da cerimónia de lançamento da InovCity, em Évora.

"Há outros bem altos"

Levando em linha de conta as remunerações fixas e variáveis, os valores atribuídos a António Mexia representam 0,19 por cento dos lucros da empresa em 2009, estimados em 1,024 mil milhões de euros, e 0,04 por cento do EBITDA - lucros calculados antes de juros, impostos, desvalorizações e amortizações -, que se cifrou em 3,363 mil milhões de euros.

Em 2009, o presidente executivo da Iberdrola, o mais significativo concorrente da EDP na Península Ibérica, foi remunerado em 5,34 milhões de euros, ou seja, 0,19 por cento dos lucros de 2,81 mil milhões de euros e 0,07 por cento do EBITDA, calculado em 6,81 mil milhões de euros. Ignacio Sánchez Galán averbou, ainda, 3,05 milhões de euros de "gratificação por objectivos estratégicos plurianuais e situações excepcionais e pontuais", segundo contas referidas pela agência Lusa. Em território português, o maior concorrente da EDP no domínio da energia, a petrolífera GALP, entregou ao seu presidente executivo, Manuel Ferreira de Oliveira, 1,337 milhões de euros de remuneração fixa e 236,84 mil euros de remuneração variável, valores que perfazem 1,573 milhões de euros - 0,74 por cento dos lucros em 2009 (213 milhões de euros) e 0,19 por cento do EBITDA (819 milhões de euros).

Mexia assinala que não aufere "nem de perto nem de longe o ordenado mais alto do PSI 20", isto sem contar com os bónus por objectivos. "Há outros bem altos", afiança o administrador, para depois explicar que tem uma intervenção "nula" em matéria de política de remunerações no seio da EDP: "Os salários foram fixados pelos accionistas num contexto de benchmarking".

Remunerações acima de um milhão de euros

Entre as entidades que formam o principal índice da bolsa portuguesa, a Portugal Telecom e o Banco Espírito Santo foram outras empresas em que os respectivos presidentes executivos receberam mais de um milhão de euros por ano. Na empresa de telecomunicações, Zeinal Bava auferiu, em 2009, 1,505 milhões de euros - 711 mil euros em remunerações fixas e 794 mil euros em remunerações variáveis, o que corresponde a 0,22 por cento dos lucros. O presidente do BES, Ricardo Salgado, recebeu 1,053 milhões de euros, ou seja, 0,20 por cento dos lucros.

No fim-de-semana, o antigo líder parlamentar do PS António José Seguro escrevia, na sua página na Internet, que os "valores remuneratórios" praticados na EDP constituíam "uma imoralidade". O dirigente socialista voltaria mais tarde à carga para notar, em declarações à Lusa, que a EDP é a entidade mais endividada do mercado de capitais do país, num total de 14,007 mil milhões de euros.

António Mexia multiplica, por sua vez, os elogios à política de remunerações praticada na eléctrica, por "desvalorizar o ordenado fixo e valorizar o atingir ou não de objectivos".

Carlos Santos Neves, in RTP - 6 de Abril de 2010

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