domingo, 11 de abril de 2010

BARRAGENS - Cheias param produção hidroeléctrica: Um país com energia a mais





BARRAGENS - Cheias param produção hidroeléctrica
Um país com energia a mais

Portugal tem 16.736 megawatts (MW) de potência instalada. No entanto, nas horas de pico de procura só precisa de 9000 MW

O povo costuma dizer que ‘não há fome que não dê em fartura’.
Os especialistas em energia não só confirmam este ditado popular como garantem que a ‘fartura’ de água e vento deste Inverno foi tanta que acabou momentaneamente com a ‘fome’ do sistema electroprodutor nacional, normalmente traduzida em necessidade de importação de electricidade de Espanha.

O saldo importador, aliás, conheceu uma inversão em Janeiro a favor de Portugal, visto que, segundo a REN, aumentámos as exportações em 830% e reduzimos as importações em 82%, face a igual mês no ano passado.

Contas feitas pela Associação de Energias Renováveis (APREN) ainda mostram mais que isso: garantem que entre 1 de Janeiro e 4 de Março de 2009 as importações de electricidade ascenderam a 760 gigawatts. Este ano, no período homólogo, o saldo é favorável a Portugal, com 172 megawatts (MW) exportados.

Parques eólicos parados

Outra informação a que o Expresso teve acesso junto daquela associação dá conta de que já há parques eólicos na zona de Montalegre, no distrito de Vila Real, a registarem paragens de 40 a 50 horas, este ano, por excesso de vento.

Tem havido muito vento e muita chuva, o que tem colocado as eólicas e as hídricas na base do sistema electroprodutor nacional. Em resultado disso está-se a assistir à paragem quase total de alguns grupos de centrais térmicas a carvão, a gás natural e a fuel. “Basicamente só entram no sistema nas horas de pico de procura e saem logo em seguida”, confirma Paulo Almirante, director regional para Portugal e Espanha da International Power, que detém a Central do Pego em conjunto com a Endesa.

Portugal está claramente perante uma situação de sobrecapacidade de potência instalada. As principais empresas electroprodutoras presentes no mercado português (nomeadamente a EDP e a Endesa) admitem-no a custo, mas reconhecem que, de facto, estamos na presença de uma conjugação de factores climatéricos pouco normais. Resultado: mesmo com o pico histórico de procura de energia eléctrica que Portugal registou no passado dia 11 de Janeiro, passava pouco das 19h00 (em que se chegou aos 9390 MW), o recurso à importação foi residual.

Centrais térmicas são seguras


Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal, alerta, no entanto, para o facto de estarmos a viver “uma situação anormal pois a regra é termos as centrais térmicas a assegurarem aquilo a que se chama potência garantida”. Ou seja, aquela com que o país pode sempre contar perante a intermitência própria das fontes renováveis.



Para que não haja falhas no abastecimento, basta ‘carregar no botão’ e será imediatamente disponibilizada na rede a potência que for necessária. Isso, aliás, também acontece com as barragens, que em 90 segundos podem injectar milhares de megawatts na rede. Têm é de ter água disponível. Há aqui um ‘se’, portanto. Coisa que não existe nas térmicas.

Em teoria, segundo os analistas do sector da energia, para um sistema ser absolutamente seguro deveria ter 110% a 120% das necessidades da procura em hora de pico asseguradas por carvão, gás e fuel. Actualmente Portugal não dispõe dessa segurança de potência, razão pela qual Ribeiro da Silva diz que ainda há espaço para crescer.

E vai-se crescer, de facto, em potência instalada. No final do Verão entram no sistema mais de 800 MW de uma nova central de ciclo combinado a gás natural, no Pego, e a partir de 2013 começam a estar disponíveis os primeiros de mais 3000 novos MW de potência hídrica, oriundos do Plano Nacional de Barragens. Mas ainda há mais cerca de 5000 MW de potência renovável (dos quais mais de 3000 de eólica) a adicionar à equação. Tudo somado ao que já existe dá perto de 25.000 MW de potência instalada num prazo de cinco/sete anos.

Então e o preço da electricidade não baixa? “Era bom, mas não é possível, pois a nossa factura continua a não cobrir os custos reais de produção”, nota Ribeiro da Silva. Se tal acontecesse, o que sucederia de imediato era um aumento do défice tarifário — que em 2009 começou finalmente a diminuir, tendo passado dos €2 mil milhões para €1,9 mil milhões.

Vítor Andrade, in Expresso (Economia - p. 15) - 13 de Março de 2010

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