quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

TÂMEGA - GEOMORFOLOGIA: MAIS UM SISMO ASSOCIADO AO SISTEMA DE FALHAS DO TÂMEGA - José Emanuel Queirós

TÂMEGA - GEOMORFOLOGIA
MAIS UM SISMO ASSOCIADO AO SISTEMA DE FALHAS DO TÂMEGA

Embora ocupemos um relevo profundamente movimentado entre montes e vales, soerguido desde o nível de base do Tâmega, afundado à cota 62, até aos altaneiros dorsos do Marão rasgando as nuvens à altitude de 1415 metros, o território regional deve a sua morfologia a um subsolo granítico e xistoso, estruturalmente muito fracturado donde evoluiu um complexo campo de falhas.

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Até às 17H03 do último 6 de Junho (2017), em que o vale do Tâmega registou sismo de magnitude 3.6, seguido de um episódio sismológico de 11 réplicas, a tectónica era uma matéria impensável e um tema pronto a submergir definitivamente com a alienação do Tâmega para as barragens e para a massificação da produção hidroeléctrica com que começamos a dizer um adeus definitivo ao rio. 

As insistentes advertências quanto à falácia técnica contida no famigerado Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) e pelos perigos daí emergentes para a região e cidade de Amarante, emitidas por cidadãos responsáveis e independentes, caídas em 'saco roto' junto das instâncias da Administração Central – de efeito semelhante junto da hipócrita Administração Local, muito mais seduzida pelo farejo do saco de euros da EDP do que pela defesa da segurança ribeirinha –, naquele dia haviam de ter um sinal inequívoco da instabilidade morfo-tectónica a que todo o vale do Tâmega está sujeito.

Até então, não havia memória de que o chão sob os nossos pés na região produzisse algum tremor, mas, no espaço de meio ano (6.JUN – 7.DEZ), da terra dimanou novo aviso testemunhal de uma dinâmica natural subvalorizada ou ignorada pelos mais responsáveis.

Pouco mais de cinco minutos faltavam para as 13 horas (12:53:46) quando, hoje, com intervalo de dois ou três segundos, foram perceptíveis dois abalos telúricos distintos, correspondentes à passagem das ondas P e S de um sismo referenciado a Mesão Frio pelo IPMA e assim divulgado nos noticiários..
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Mesão Frio é uma referência locativa possível para assinalar o evento associado à linha de falha sismo-tectónica secundária que, na região, cruza em Amarante a falha do Tâmega, de SE para MW, (Montemuro - Caldas do Moledo - Amarante - Jugueiros...) por onde o rio Fornêlo corre e, mais abaixo, a incisão estrutural é ocupada pela ribeira de Padronelo.
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Embora a vila duriense de Mesão Frio seja a sede de concelho mais próxima do epicentro, o sismo de magnitude 3.6, ou 3.7, de facto, ocorreu na área da serra do Marão, em território do concelho de Baião, no limite com o de Amarante, mas está associado ao sistema de falhas de desenvolvimento regional que estão a dar provas de estarem activas e têm por lugar de encruzilhada a cidade de Amarante.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

PNBEPH - ALTO TÂMEGA - Pico de obra prestes a avançar no maior complexo de barragens do país






PNBEPH - ALTO TÂMEGA
Pico de obra prestes a avançar no maior complexo de barragens do país
Até 2023, a Iberdrola vai investir 1.500 milhões de euros na construção de três barragem no Alto Tâmega e em medidas de desenvolvimento social, económico e cultural da região.
Foto: DR

A construção das três barragens do Alto Tâmega, cuja conclusão se prevê para 2023, decorre a bom ritmo e emprega actualmente mil e quinhentas pessoas.

O Sistema Electroprodutor do Tâmega é um dos maiores projectos hidroelétricos realizados na Europa nos últimos 25 anos, compreende três barragens (Daivões, Gouvães e Alto Tâmega) e representa um investimento de 1.500 milhões de euros.
Segundo José Maria Otero, responsável pela área de licenciamento da Iberdrola, o empreendimento “está a cerca de 30 a 35% dos trabalhos”.
“Em Daivões, que é o empreendimento mais a jusante do Tâmega, já se fez o desvio do rio e estamos a começar as fundações da barragem”, avança José Otero.
Já em Gouvães, que é a parte central da bombagem, o responsável da Iberdrola refere que estão “a trabalhar em muitas frentes, porque o circuito hidráulico é um circuito de sete quilómetros, mas a parte mais vistosa que é a escavação da central já está quase pronta. Em Janeiro devemos começar com a betonagem e toda a montagem de grupos”.

A barragem do Alto Tâmega é aquela onde a obra começou mais tarde. “No próximo verão deverá ser feito o desvio do rio Tâmega e começar a escavação das fundações do paredão”.

O maior volume dos trabalhos está previsto para 2018-2020, altura em que se perspectiva a criação de 13.500 empregos directos e indirectos.

A empresa espanhola afirma que um dos seus princípios é fomentar o emprego na região e contratar, o mais possível, localmente. Dos cerca de 1.500 trabalhadores afectos actualmente ao empreendimento, 15 a 20% são da região.
O complexo contará com uma potência instalada de 1.158 megawatts (MW), alcançando uma produção anual de 1.760 gigawatts hora (GWh), ou seja, 6% do consumo eléctrico do país.

Segundo o responsável da Iberdrola, em finais de 2021 deverão estar em serviço as barragens de Daivões e Gouvães, enquanto a do Alto Tâmega deverá estar concluída durante o primeiro semestre de 2023.

O Sistema Eletroprodutor do Tâmega é uma das maiores iniciativas da história de Portugal no sector da energia hidroelétrica, representando mais de 50% do objectivo do Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico (PNBEPH).

Ponte de arame, sobre o Tâmega. Foto Olímpia Mairos/RR

Ponte emblemática de arame sobre o rio Tâmega e mais de 50 casas afectadas

A construção das três barragens do Alto Tâmega vai afectar cerca de 50 habitações e obrigar à transladação de duas pontes de arame.

“Até ao momento, seis famílias já saíram das suas habitações por razões de segurança devido à proximidade à frente de obra em Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar, mas, ao todo, deverão ser entre 50 a 60 casas afectadas”, refere Sara Hoya, responsável ambiental da Iberdrola.

Ribeira de Pena é o concelho mais afectado, já que concentra cerca de 90% das casas de onde as famílias terão de sair até ao final da construção do Sistema Eletroprodutor do Tâmega.

Neste concelho também a emblemática ponte de arame sobre o rio Tâmega vai ser removida e recolocada em outro lugar. A estrutura “será recolocada num dos braços que vai ter a albufeira, perto do local onde se encontra actualmente”, explica Sara Hoya.

Esta ponte de arame foi, até 1963, a única travessia para a população local e é hoje uma importante atracção turística, em Ribeira de Pena. A centenária ponte pênsil tem mais de 20 metros de comprimento e está suspensa em mais de 100 cabos de arame torcido.

Também a ponte de arame que liga as aldeias de Monteiros, em Vila Pouca de Aguiar, e Veral, em Boticas, vai ser atingida pela subida das águas e, por isso, vai ser transladada.

 Foto: DR

Municípios afectados alvo de plano socioeconómico

O Plano de Acção Socioeconómico, assinado com as sete câmaras envolvidas nos projectos, destina cerca de 50 milhões de euros para o desenvolvimento económico, social e cultural da região onde estão a ser construídas as barragens.

Sara Hoya, responsável ambiental da Iberdrola, dá conta que a empresa já “aplicou 7,2 milhões de euros em medidas de compensação nos municípios afectados pela construção das barragens”.

O dinheiro foi aplicado, por indicação das respectivas autarquias, em “infraestruturas, como arruamentos, arranjos urbanísticos, abastecimento e saneamento público, obras de beneficiação de museus, casas mortuárias e cemitérios, habitações sociais, um balneário pedagógico, um parque de campismo, construção de praias fluviais e parques de lazer”, concretiza.

Em Ribeira de Pena, evidencia-se a Casa do Produtor, que é um centro de apoio para agricultores e o Museu Escola, que preserva a memória da história da população.

No vizinho concelho de Boticas, a Iberdrola apoia a potencialização do Boticas Parque – Natureza e Biodiversidade, financiando a construção de alojamentos para os visitantes e acções de compensação de fauna e flora da área envolvente e a construção de uma pista de desportos radicais em Boticas.

Em Vila Pouca de Aguiar, a concessionária espanhola financiou o Centro Hípico de Pedras Salgadas, bem como o Centro Interpretativo de Tresminas. Já em Chaves apoiou a beneficiação do Estádio Municipal Engenheiro Branco Teixeira.

Nos sete concelhos afectados pelo empreendimento foram ainda realizados investimentos em instalações desportivas, como campos de futebol, em equipamentos para bombeiros, viaturas e beneficiação de instalações.

A responsável indica que parte da verba global de 50 milhões de euros é reservada para gestão dos municípios (24 milhões de euros), enquanto a restante será aplicada em medidas de minimização como as expropriações, transladação de património ou monitorização ambiental (26 milhões de euros).

Os concelhos afectados pelo Sistema Electroprodutor do Tâmega são: Ribeira de Pena, Boticas, Vila Pouca de Aguiar, Chaves, Valpaços, Montalegre e Cabeceiras de Basto.

Olímpia Mairos, in Rádio Renascença - 04 de Dezembro de 2017