sábado, 27 de setembro de 2008

VALE DO TÂMEGA - AMARANTE: GRANDE DEBATE - A BARRAGEM DE FRIDÃO










VALE DO TÂMEGA - AMARANTE

GRANDE DEBATE: A BARRAGEM DE FRIDÃO
 


PCTP/MRPP (Vale do Tâmega), 27 de Setembro de 2008

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Douro e desenvolvimento sustentável







Douro e desenvolvimento sustentável

A construção de novas barragens no Sabor, no Tua e no Tâmega condena a bacia do Douro ao assassinato ecológico, o Partido Socialista sabe disso, os autarcas do PS também sabem, mas todos se conformam com a concessão do negócio da electricidade e da água a troco da destruição de recursos naturais preciosos.




Na medicina chama-se placebo a um medicamento que não tem nenhuma capacidade curativa, mas que também não faz mal a ninguém. É a classe dos medicamentos que serve para tranquilizar as consciências mas não tem verdadeiramente nenhum efeito real. Na política, depois dos vetos presidenciais que demonstraram o cariz mais conservador e autoritário do presidente, Cavaco Silva volta a refugiar-se em declarações que são verdadeiros placebos políticos. Agradam a toda a gente, porque consensuais e não têm nenhum efeito porque o Governo não espera retirar daí nenhuma consequência. Foi o caso das declarações do presidente durante a visita ao Douro Internacional e do apelo que proferiu em relação à defesa da sustentabilidade ambiental da bacia do Douro e à necessidade de conjugar desenvolvimento com qualidade dos recursos.

Nunes Correia, o ministro do ambiente ouviu, provavelmente terá dito que sim, "tem o Sr. Presidente muita razão, mas o Sabor, o Tua e o Tâmega estão condenados ao assassinato ecológico por imperativos do negócio da electricidade, da privatização das albufeiras e do comércio da água. Isso, Sr. Presidente é que são os negócios do progresso." Portugal é o país europeu que mais energia desperdiça, mas «saiba o Sr. Presidente que diminuir os gastos não beneficia os negócios das empresas, portanto a nossa prioridade é aumentar a produção, na expectativa de que Portugal venha a fazer negócio com a energia obtida a partir de recursos naturais únicos: dinâmica das bacias hidrográficas, sol, vento e mar. Ainda havemos de vender muita electricidade, assim que o mercado europeu de energia esteja preparado para a comprar. Não temos petróleo, mas temos rios, se eles morrerem tanto pior, vão-se os dedos e fiquem os anéis. Mas tem V.ª Ex.ª muita razão, esta região era muito linda!»

A bacia hidrográfica do Douro já conta neste momento com 40 embalses no Estado Espanhol, só Aldeia d'Ávila tem em armazenamento o dobro do volume da água que está retida nas 13 barragens nacionais. Os rios internacionais são objecto da Convenção de Albufeira entre Portugal e Espanha, que determina o volume dos caudais e a defesa da qualidade da água. No entanto, os parâmetros de cumprimento da convenção em matéria de caudais e qualidade da água permanecem no segredo dos deuses.

Aos embalses em território espanhol somam-se as já existentes barragens no território português. Agravar ainda mais este processo de retenção do caudal dos rios tem consequências da maior gravidade para a eutrofização da água bem como para a redução dos caudais e consequentemente a concentração de poluentes. Além disso as albufeiras representam uma perda irreversível de diversidade ecológica, a destruição das paisagens e arrastam a alteração das condições de clima numa região onde uma das actividades económicas mais importantes - a produção vinícola - depende das condições de microclima único no país.

É um risco demasiado elevado. A construção de novas barragens no Sabor, no Tua e no Tâmega condena a bacia do Douro ao assassinato ecológico, o Partido Socialista sabe disso, os autarcas do PS também sabem, mas todos se conformam com a concessão do negócio da electricidade e da água a troco da destruição de recursos naturais preciosos. Todos eles estão dispostos a ficar sem dedos, desde que haja anéis para distribuir pelos promotores privados, só se esquecem de que a prazo nem dedos nem anéis.

Alda Macedo, in Ecoblogue - 23 de Setembro de 2008

Programa Nacional de Barragens: Douro e desenvolvimento sustentável






Programa Nacional de Barragens
Douro e desenvolvimento sustentável

A construção de novas barragens no Sabor, no Tua e no Tâmega condena a bacia do Douro ao assassinato ecológico, o Partido Socialista sabe disso, os autarcas do PS também sabem, mas todos se conformam com a concessão do negócio da electricidade e da água a troco da destruição de recursos naturais preciosos.


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Na medicina chama-se placebo a um medicamento que não tem nenhuma capacidade curativa, mas que também não faz mal a ninguém. É a classe dos medicamentos que serve para tranquilizar as consciências mas não tem verdadeiramente nenhum efeito real. Na política, depois dos vetos presidenciais que demonstraram o cariz mais conservador e autoritário do presidente, Cavaco Silva volta a refugiar-se em declarações que são verdadeiros placebos políticos. Agradam a toda a gente, porque consensuais e não têm nenhum efeito porque o Governo não espera retirar daí nenhuma consequência. Foi o caso das declarações do presidente durante a visita ao Douro Internacional e do apelo que proferiu em relação à defesa da sustentabilidade ambiental da bacia do Douro e à necessidade de conjugar desenvolvimento com qualidade dos recursos.

Nunes Correia, o ministro do ambiente ouviu, provavelmente terá dito que sim, "tem o Sr. Presidente muita razão, mas o Sabor, o Tua e o Tâmega estão condenados ao assassinato ecológico por imperativos do negócio da electricidade, da privatização das albufeiras e do comércio da água. Isso, Sr. Presidente é que são os negócios do progresso." Portugal é o país europeu que mais energia desperdiça, mas «saiba o Sr. Presidente que diminuir os gastos não beneficia os negócios das empresas, portanto a nossa prioridade é aumentar a produção, na expectativa de que Portugal venha a fazer negócio com a energia obtida a partir de recursos naturais únicos: dinâmica das bacias hidrográficas, sol, vento e mar. Ainda havemos de vender muita electricidade, assim que o mercado europeu de energia esteja preparado para a comprar. Não temos petróleo, mas temos rios, se eles morrerem tanto pior, vão-se os dedos e fiquem os anéis. Mas tem V.ª Ex.ª muita razão, esta região era muito linda!»

A bacia hidrográfica do Douro já conta neste momento com 40 embalses no Estado Espanhol, só Aldeia d'Ávila tem em armazenamento o dobro do volume da água que está retida nas 13 barragens nacionais. Os rios internacionais são objecto da Convenção de Albufeira entre Portugal e Espanha, que determina o volume dos caudais e a defesa da qualidade da água. No entanto, os parâmetros de cumprimento da convenção em matéria de caudais e qualidade da água permanecem no segredo dos deuses.

Aos embalses em território espanhol somam-se as já existentes barragens no território português. Agravar ainda mais este processo de retenção do caudal dos rios tem consequências da maior gravidade para a eutrofização da água bem como para a redução dos caudais e consequentemente a concentração de poluentes. Além disso as albufeiras representam uma perda irreversível de diversidade ecológica, a destruição das paisagens e arrastam a alteração das condições de clima numa região onde uma das actividades económicas mais importantes - a produção vinícola - depende das condições de microclima único no país.

É um risco demasiado elevado. A construção de novas barragens no Sabor, no Tua e no Tâmega condena a bacia do Douro ao assassinato ecológico, o Partido Socialista sabe disso, os autarcas do PS também sabem, mas todos se conformam com a concessão do negócio da electricidade e da água a troco da destruição de recursos naturais preciosos. Todos eles estão dispostos a ficar sem dedos, desde que haja anéis para distribuir pelos promotores privados, só se esquecem de que a prazo nem dedos nem anéis.

Alda Macedo, in Ecoblogue - 23 de Setembro de 2008

sábado, 13 de setembro de 2008

As barragens são rejeitadas nos EUA por serem destrutivas. Contudo, ainda são promovidas na América Latina. Porquê?

As barragens são rejeitadas nos EUA por serem destrutivas. Contudo, ainda são promovidas na América Latina. Porquê?


Um excelente artigo, muito pertinente para a nossa causa, publicado na revista norte-americana The Newsweek intitulado de "Generating Conflict, Dams are rejected in America as too destructive. Yet they are still promoted in Latin America. Why?"

(o artigo pode ser lido aqui)

Mac Margolis, in The Newsweek - 13 de Setembro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

BARRAGENS: WHY LATIN AMERICA IS STILL BUILDING DAMS





BARRAGENS
WHY LATIN AMERICA IS STILL BUILDING DAMS

Almost 15 years ago, the top official at the U.S. government's Bureau of Reclamation, which is responsible for building massive dams throughout the American West, declared that the "era of big dams is over." Deemed unsafe, overly expensive and disastrous to the environment, hydroelectric power was dismissed throughout the developed world as a relic. Today less than 10 percent of electricity generated in the United States comes from dams, and throughout the developed world the trend is toward the decommissioning of dams, not building new ones. Not so in the developing world, where officials still tout big dams as the best way to tackle future energy needs and combat global warming. "We don't have the luxury not to take advantage of energy-generating resources," said center-left Chilean President Michelle Bachelet last year in her annual address to Congress, "especially during a time of climate change, in which countries should be promoting the greater use of nonpolluting energy such as hydroelectricity."

But the moves toward hydroelectric power have stirred up a flood of protest. In Mexico, there is fierce opposition to the La Parota dam, a 765-megawatt project planned for the Papagayo River. In Guatemala, activists have worked to halt plans for three dams slated for a nature reserve in the country's Rio Hondo area. Similar conflicts simmer in Panama, Ecuador, Brazil and Paraguay, and in parts of Asia and Africa. Particularly controversial are plans for a $3.2 billion, 2,750- megawatt series of dams in pristine southern Patagonia, in Chile, which its many critics say will imperil one of the world's most spectacular natural areas and the region's tourism economy.

Opponents of such mega-hydropower plants say they not only drown farmland and villages, but often, especially along the lazy rivers of the low-lying tropics, produce energy at exorbitant cost. The 2000 World Commission on Dams found that the construction of large dams cost, on average, 56 percent more than originally planned. Nor are they necessarily environmentally friendly. Big dams can destroy wildlife habitat, and in the Ganges, in India, and the Nile, in Egypt, have trapped silt, causing extensive soil erosion and land loss downstream. Drought is another concern. Ten years ago, the worst drought in decades dried up reservoirs and left Chile, which depends on hydroelectric power for more than half its electricity, with power outages stretching three or more hours a day.

Yet the dams keep getting built. Their backers, in government and the private sector, argue there are few other cost-competitive alternatives. After the expensive investment required on the front end for construction, dams can potentially produce power at a relatively cheaper cost over time, they say. For countries like Chile, which don't have substantial gas reserves, big dams are also seen as a way to avoid dependence on volatile international gas markets. "The president and all our ministers say that to face our energy needs, and to do that sustainably, we have to use our main richness in terms of energy resources, and that is hydroelectricity," says Marcelo Tokman, Chile's Energy minister.

The governments in the developing world have gotten help from, of all places, China, which is now home to half of the world's 50,000 large dams, and is financing more than 80 dams in developing countries in part to improve its access to commodities. In April 2006, for example, Nigeria awarded China four oil-drilling licenses in exchange for a commitment to invest $4 billion in infrastructure.
Concern over global warming is also aiding new construction of large dams in the south. The Clean Development Mechanism (CDM), set up to help implement the United Nations' Kyoto Protocol, allows governments and companies to offset their negative contributions to climate change by financing dams because hydropower does not emit carbon dioxide. About 25 percent of projects considered for CDM funding are dams. Yet studies show that dams can produce significant quantities of methane, a greenhouse gas 21 times more effective at warming the atmosphere than carbon dioxide. In Brazil, where 80 percent of the grid is from hydro, many hydro plants are so inefficient they issue as much carbon dioxide and methane, from rotting vegetation, as a thermoelectric plant.


The defenders of Patagonia and other pristine natural environments threatened by big dams are now urging decision makers to reject hydroelectricity and push ahead with more ecologically palatable alternatives like solar, geothermal and wind. But for many Chileans—like many in the developing world—the ultimate decision on whether to send their wild rivers to oblivion will come down to how best to meet their hunger for energy in the years ahead.
Jimmy Langman, in Newsweek - 12 de Setembro de 2008

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

PNBEPH - CASCATA DO TÂMEGA: Barragens poderão afectar Fisgas de Ermelo






PNBEPH - CASCATA DO TÂMEGA
Barragens poderão afectar fisgas de Ermelo

A maior queda de água de Portugal - as fisgas de Ermelo - localizada no Parque Natural do Alvão, poderá "ser seriamente" afectada com a construção da barragem de Gouvães, alertou um especialista da Universidade de Vila Real.

Rui Cortes, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e especialista da área do ambiente, afirmou à Agência Lusa que a construção de quatro barragens na bacia hidrográfica do Tâmega e de três derivações de cursos de água vão "alterar completamente" a zona envolvente a este rio e até mesmo o Parque Natural do Alvão (PNA).

Uma dessas derivações, refere, é o rio Olo, que alimenta as Fisgas de Ermelo, aquelas que são consideradas como as maiores quedas de água de Portugal e uma das maiores da Europa, anualmente visitadas por milhares de pessoas.


O projecto das quatro barragens da "cascata do Tâmega" - Alto Tâmega, Daivões, Padroselos e Gouvães - foi adjudicado ao grupo espanhol Iberdrola, que abriu concurso público para escolher a empresa que vai efectuar o Estudo de Impacte Ambiental (EIA). Estes empreendimentos fazem parte do Plano Nacional de Barragens anunciado pelo Governo de José Sócrates.

Segundo explicou o especialista, a barragem de Gouvães, a construir no rio Torno, vai derivar água de dois afluentes, o Olo - na zona a montante das Fisgas - e Alvadia. "Ou seja, o caudal que actualmente alimenta as fisgas será reduzido ao mínimo, afectando seriamente esta queda de água, que desaparecerá nos moldes em que a conhecemos actualmente, e o próprio PNA", sublinhou o responsável.

Rui Cortes diz que não está a por em causa a construção da barragem, mas sim a derivação de água do Olo. Por isso mesmo, o especialista espera que esta situação seja resolvida em sede do EIA.

As Fisgas de Ermelo estão localizadas na freguesia de Ermelo, Mondim de Basto, e possuem um desnível que se estende ao longo de 200 metros de extensão, separando as zonas graníticas das xistosas das terras envolventes.


Contactado pela Agência Lusa, o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), responsável pelo PNA, referiu que se vai pronunciar sobre o assunto em sede do EIA. Mas, Rui Cortes vai mais longe e diz que a construção das quatro barragens vai transformar o rio Tâmega "praticamente num grande albufeira" com cerca de 150 quilómetros, desde a fronteira, em Espanha, até Amarante. 

A tudo isto vai ser acrescentada, mais tarde, a construção de uma outra barragem - a de Fridão - próxima de Amarante. Cortes salientou ainda que a construção destas barragens vai afectar "parte das vilas de Mondim de Basto e Ribeira de Pena e mais de 10 aldeias ribeirinhas" deste território.

Ao contrário da barragem do Fridão, contestada pela população de Amarante, as restantes quatro, foram apoiadas pelos autarcas do Alto Tâmega (Chaves, Boticas, VP Aguiar, Valpaços, R. Pena e Montalegre), que, conjuntamente com a EDP, concorreram à construção das mesmas.

in
Jornal de Notícias - 11 de Setembro de 2008

PNBEPH - TÂMEGA: Especialista avisa que barragens do Alto Tâmega vão afectar Fisgas do Ermelo









PNBEPH - TÂMEGA

Especialista avisa que barragens do Alto Tâmega vão afectar Fisgas do Ermelo


A maior queda de água de Portugal e uma das maiores da Europa, as Fisgas do Ermelo no Parque Natural do Alvão (PNA), poderá "ser seriamente" afectada com a construção da barragem de Gouvães, alertou ontem Rui Cortes, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e especialista da área do Ambiente.

O professor afirma que a construção de quatro barragens na bacia hidrográfica do Tâmega e de três derivações de cursos de água vão "alterar completamente" a zona envolvente a este rio e até mesmo o PNA. Uma dessas derivações, refere, é precisamente o rio Olo, que alimenta as Fisgas do Ermelo, anualmente visitadas por milhares de pessoas. 

O projecto das quatro barragens da "cascata do Tâmega" - Alto Tâmega, Daivões, Padroselos e Gouvães - foi adjudicado ao grupo espanhol Iberdrola, que abriu concurso público para escolher a empresa que vai efectuar o estudo de impacte ambiental (EIA). Estes empreendimentos fazem parte do Plano Nacional de Barragens anunciado pelo Governo.

Segundo Rui Cortes, a barragem de Gouvães, a construir no rio Torno, vai derivar água de dois afluentes, o Olo - na zona a montante das Fisgas - e Alvadia. "O caudal que actualmente alimenta as fisgas será reduzido ao mínimo, afectando seriamente esta queda de água, que desaparecerá nos moldes em que a conhecemos actualmente, e o próprio PNA", sublinhou.


Além da derivação do Olo, um canal com 7,8 quilómetros, a albufeira de Gouvães será ainda alimentada pela derivação de mais dois rios, o Alvadia (canal de 4,4 quilómetros) e o Viduedo (três quilómetros). Com estas afluências à albufeira de Gouvães, a energia produzida naquela barragem em ano médio é estimada em 153 gigawatts-hora (GWh) por ano.


Rui Cortes diz que não está a pôr em causa a construção da barragem, mas sim a derivação de água do Olo. Por isso, espera que esta situação seja resolvida em sede do EIA: "Serve precisamente para evitar situações mais perniciosas e arranjar alternativas", vinca. 


O desnível das Fisgas do Ermelo, no concelho de Mondim de Basto, estende-se ao longo de 200 metros, separando as zonas graníticas das xistosas das terras envolventes. 

Lusa, in Público - 11 de Setembro de 2008

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

PNBEPH - Rio Olo: Barragem de Gouvães é "incompatível" com Parque Natural do Alvão






PNBEPH - Rio Olo: Maior queda de água de Portugal em perigo
Futura barragem de Gouvães "é incompatível" com Parque Natural do Alvão



Estas quedas de água são das maiores da Europa, e são visitadas por milhares de pessoas anualmente MARIO MARQUES/PÚBLICO (ARQUIVO)

O desvio do rio Olo para alimentar a barragem de Gouvães é “incompatível” com a existência do Parque Natural do Alvão, no concelho de Mondim de Basto e Vila Real. Na opinião de Rui Cortes, professor catedrático, o rio é a “coluna vertebral” do Parque. O Alvão tem as maiores quedas de água de Portugal, as Fisgas do Ermelo, que são o ex-líbris da paisagem e correm o risco de perderem grande parte do caudal se o projecto for para a frente.

As quatro barragens da "cascata do Tâmega" - Alto Tâmega, Daivões, Padroselos e Gouvães - foram adjudicadas ao grupo espanhol Iberdrola, que abriu concurso público para escolher a empresa que vai efectuar o Estudo de Impacte Ambiental (EIA).

No caso de Gouvães, os rios Torno e Olo vão servir para alimentar a barragem que se estimou vir a dar 153 giga watts de energia por ano. Mas se o Olo for desviado para este fim, o percurso natural do rio vai ficar comprometido.

“O rio Olo é a própria coluna vertebral do Parque Natural do Alvão que se desenvolveu aproveitando a bacia do rio”, explicou ao PÚBLICO Rui Cortes, professor da Universidade do Minho e Trás dos Montes.

As Fisgas de Ermelo estão no concelho de Mondim de Basto e possuem um desnível que se estende ao longo de 200 metros de extensão, separando zonas graníticas de xistosas situadas nas terras envolventes. Estas quedas de água são das maiores da Europa, e são visitadas por milhares de pessoas anualmente.

Para o professor, o EIA é uma das últimas esperanças para travar o projecto. “Estes estudos devem ser minuciosos e mitigar os efeitos perniciosos das barragens”, alega Cortes. O catedrático propõe que a barragem passe só a ser alimentada pelo outro curso de água. "A barragem não está em causa se não for concretizada esta derivação a partir do Olo", sublinhou à Lusa.

Destruição do Património

O projecto faz parte do Plano Nacional de Barragens anunciado pelo Governo de José Sócrates. As alterações na bacia hidrográfica do Tâmega não acabam aqui, quer-se construir a barragem de Fridão, que fica próxima de Amarante.

As barragens vão “tornar o Tâmega praticamente numa sucessão de albufeiras”, denuncia Rui Cortes. Para além de uma alteração na paisagem que, partes de algumas aldeias vão ficar submersas, o professor teme que as barragens aumentem a poluição de um rio já com problemas a este nível.

“O rio Tâmega já é fortemente poluído por causa da indústria que existe em Espanha e Portugal. É de tal maneira problemático que a barragem do Torrão já apresenta cianobactérias [microrganismos patogénicos]”, explica o professor. Adiantando que já se sabe que as barragens têm tendência de aumentar a poluição dos rios por armazenar a água.

Para Rui Cortes a política vigente do aumento do número de barragens é contraproducente. “Estamos a assentar num esquema de desenvolvimento de há 40 ou 50 anos. Construímos grandes barragens, mas estamos a ficar mais dependentes [energeticamente] do exterior”, acusa o especialista, que está envolvido na Directiva Quadro de Água.

“Em Portugal o aumento do gasto de energia é superior em termos relativos ao aumento do PIB”, diz o professor, que defende que se deveria apostar na eficiência energética.

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Nicolau Ferreira, in Público - 10 de Setembro de 2008

PNBEPH - Barragem de Gouvães: Barragens do Alto Tâmega vão afectar Fisgas de Ermelo






As maiores quedas de água portuguesas podem estar em risco
Barragens do Alto Tâmega vão afectar Fisgas de Ermelo

As fisgas de Ermelo, localizadas no Parque Natural do Alvão (PNA), poderão «ser seriamente» afectadas com a construção de quatro barragens na bacia hidrográfica do Tâmega, alertou um especialista.

Rui Cortes, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e especialista da área do ambiente, garantiu que a construção de quatro barragens na bacia hidrográfica do Tâmega e de três derivações de cursos de água vão «alterar completamente» a zona envolvente a este rio e até mesmo o PNA.


Uma dessas derivações, refere, é precisamente o rio Olo, que alimenta as Fisgas de Ermelo, aquelas que são consideradas como as maiores quedas de água de Portugal e uma das maiores da Europa, anualmente visitadas por milhares de pessoas.


O projecto das quatro barragens da «cascata do Tâmega» – Alto Tâmega, Daivões, Padroselos e Gouvães – foi adjudicado ao grupo espanhol Iberdrola, que abriu concurso público para escolher a empresa que vai efectuar o Estudo de Impacte Ambiental (EIA). Estes empreendimentos fazem parte do Plano Nacional de Barragens anunciado pelo Governo de José Sócrates.


Segundo explicou o especialista, a barragem de Gouvães, a construir no rio Torno, vai derivar água de dois afluentes, o Olo – na zona a montante das Fisgas – e Alvadia. 
«Ou seja, o caudal que actualmente alimenta as fisgas será reduzido ao mínimo, afectando seriamente esta queda de água, que desaparecerá nos moldes em que a conhecemos actualmente, e o próprio PNA», sublinhou.


Barragem não está em causa, o seu impacto sim

Além da derivação do Olo, um canal com 7,8 quilómetros, a albufeira de Gouvães será ainda alimentada pela derivação de mais dois rios, o Alvadia (canal de 4,4 quilómetros) e o Viduedo (3 quilómetros).

Com estas afluências à albufeira de Gouvães, a energia produzida naquela barragem em ano médio é estimada em 153 gigawatts-hora (GWh) por ano.


Rui Cortes diz que não está a por em causa a construção da barragem, mas sim a derivação de água do Olo. Por isso mesmo, o especialista espera que esta situação seja resolvida em sede do EIA, o qual, na sua opinião, «serve precisamente para evitar situações mais perniciosas e arranjar alternativas».


O Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), responsável pelo PNA, referiu que se vai pronunciar sobre o assunto em sede do EIA.



Rio Tâmega «vai ser completamente modificado»

A tudo isto vai ser acrescentada, mais tarde, a construção de uma outra barragem – a de Fridão – próxima de Amarante. «O rio Tâmega, tal como o conhecemos, vai ser completamente modificado», frisou.

Para além dos factores ambientais, Rui Cortes salientou ainda que a construção destas barragens vai afectar «parte das vilas de Mondim de Basto e Ribeira de Pena e mais de 10 aldeias ribeirinhas» deste território. Ao contrário da barragem de Fridão, que está a ser contestada pela população de Amarante, as restantes quatro foram apoiadas pelos autarcas do Alto Tâmega (Chaves, Boticas, Vila Pouca de Aguiar, Valpaços, Ribeira de Pena e Montalegre), que, inclusive, conjuntamente com a EDP, concorreram à construção das mesmas.

in Iol Diário - 10 de Setembro de 2008 

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Rio Tâmega - Mondim de Basto: Salvem o "Quilhão"! - Alfredo Pinto Coelho

Rio Tâmega - Mondim de Basto
Salvem o "Quilhão"!

 
Pois é. Parece que agora é de vez e não há volta a dar!
A barragem em Fridão está aí. Adeus Tâmega do nosso contentamento.


Durante décadas, gerações e gerações de mondinenses tiveram no rio Tâmega a sua casa de verão. Banhos para todos os gostos, saltos para todas as aventuras, mergulhos de arrepiar!, sedielas a arrebentar!, picnics de arromba!, peixinhos do rio a fritar... beijinhos ao mergulhar!
Saudosismo?... É verdade!

Nos últimos anos, é um facto, o rio Tâmega já não tem a qualidade da água que os da minha geração e anteriores usufruíram. Os areais e as margens, já não são como então.
A frequência de banhistas é menor, obviamente. Mas continua a ser o nosso rio. Continua a ser um dos nossos cenários magníficos: a água a correr, os açudes, os moinhos, as pedras para saltar, ainda lá estão todas: a “fraguinha” para os mais pequeninos, o “figueiras”, o “quilhão” (o pequeno e o grande), a “panela”, a “manteiga”, o “salta-carneiros”, o “foguete”... os barbos, as bogas, os escalos, as trutas, as enguias... a pesca de lazer continua de igual forma generosa; recentemente, também a possibilidade de fazer pesca desportiva na pista de Mondim.

A água já não é cristalina, já não se vê o fundo do “poço”. Já não se conseguem apanhar as moedas que vinham pelo ar, de cima da ponte, lançadas aos putos pelos romeiros à Sr.ª da Graça. Mas a verdade é que o rio ainda tem vida própria e ainda se pode tomar banho no Tâmega em Mondim.

As águas balneares são habitualmente analisadas e não tem havido resultados (pelo menos do conhecimento público) que dêem a água como imprópria para o fim a que se destina. E mesmo que assim fosse, que não se pudesse tomar banho, que não é verdade, não seria mais que uma antecipação ao que se vai passar na albufeira de Fridão quando a barragem estiver construída. Porque aí sim, pelo que tenho lido e pelo que tenho ouvido através de especialistas, não mais se vai poder tomar banho, ou pelo menos nas condições de qualidade, que apesar de tudo ainda se mantêm.

O Tâmega está considerado como uma «zona sensível» em termos de eutrofização. As condições para que tal fenómeno se desenvolva, e os efeitos negativos que daí podem advir, vão ser potenciados com a construção da barragem. Por isso, meus amigos mondinenses, podemos dizer adeus banhos, adeus barbos, escalos e bogas, e com a subida de cota da água, adeus “quilhão” e “figueiras”, adeus “poço”, adeus “fraguinha”... enfim, adeus nossa alegre casa de Verão!

Também é verdade, que a paisagem não tem preço (principalmente quando é nossa e nos é roubada!).
O valor afectivo à mesma é livre e cada um sente-o como quiser e com direito próprio. Mas para a generalidade dos mondinenses, a ligação sentimental ao rio é eterna: na infância (o aprender a nadar na “fraguinha”!), na adolescência (as aventuras no rei da pedra! os saltos de pé, pote e cabeça!, os namoros nas bordinhas do rio) e em adulto (o recreio, o descanso, o relembrar de tanto e tão bom quando pequeninos). E isso, para nós, tem um valor indelével.


Dirão alguns que outros valores se levantam!

Quais? O interesse nacional? A tão famigerada auto-suficiência energética?
Aqui, importa colocar a interrogação: E não existem outros meios para a conseguir?
E porquê cinco (5!) barragens, todas no Tâmega?
Os mondinenses são portugueses, solidários com o País, mas é só ficar sem o que de mais genuíno temos... sem tanto de nós?
Onde estão as contrapartidas?
O que vamos ganhar uma vez que vamos perder algo que é nosso e uma vez que seguramente vamos perder qualidade de vida?
Alguém me sabe dizer, se por exemplo, o município que representa as gentes da minha terra, vai passar a receber mais dinheiro para desenvolver o concelho?
Interesse nacional ou interesse do grande capital?
Quem vai ganhar dinheiro com a barragem?
Uma riqueza para Mondim?
Com quê?
Com as indemnizações pelos terrenos ocupados?


Ora essa! Não faltava mais nada.

As indemnizações não são para dar dinheiro aos donos dos terrenos, mas sim para retribuir-lhes e compensá-los por aquilo que se lhes vai tirar.

Com um hipotético aumento de visitantes, de mais dormidas, refeições,...Pergunto: Quem é que quer ver um lençol de água parada?


Se é pelo volume de água, então ficam no litoral porque têm lá muita, mais bonita e em movimento... Se é pelo volume de água vão para as barragens do planalto, como por exemplo a dos Pizões.

Se houver lugar a comparações então compare-se com a Barragem do Torrão no Tâmega, a jusante de Amarante. Aí sim, a realidade está bem à vista. Albufeira eutrofizada, não se pode tomar banho, perigo para a saúde (cianobactérias), não se pesca porque não há peixes (dos nossos), água “manchada” de verde pelas outras microalgas criadas pelo fenómeno da eutrofização.

Pergunte-se, hoje, às populações afectadas pela Barragem do Torrão se estão contentes? Pergunte-se se estão mais ricas? Pergunte-se quantas casas novas foram feitas junto à barragem. Porque deixou de se poder tomar banho, porque deixou de se pescar, porque se deixou, até, de andar de barco (desportos motorizados).

Haverá quem ache que é mais bonito ver um lençol de água parada, com microalgas para todos os gostos (onde se incluem as cianobactérias), sem peixes autóctones (porque os nossos vão deixar progressivamente de ter condições de vida), onde não se poderá tomar banho, do que um rio (como o nosso), com água a correr, por entre o fraguedo no vale?

Neste caso, não entram aqui sequer valores sentimentais. Tão só opinar sobre a beleza (que é subjectiva)...

Mas enfim, pelos vistos quem manda pode!

Adeus Rio, adeus infância e juventude, adeus marco da minha identidade!

Ler ainda: Salvem o Quilhão (Parte 2)

Alfredo Pinto Coelho – eng.º Agrícola / lic. Gestão Agrária
Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega
(Mondim de Basto – Setembro de 2008)

in O Jornal de Mondim (Número 35 - Agosto de 2008) e O Povo de Basto (Número 263 - 5 de Setembro de 2008)