terça-feira, 23 de setembro de 2008

Programa Nacional de Barragens: Douro e desenvolvimento sustentável






Programa Nacional de Barragens
Douro e desenvolvimento sustentável

A construção de novas barragens no Sabor, no Tua e no Tâmega condena a bacia do Douro ao assassinato ecológico, o Partido Socialista sabe disso, os autarcas do PS também sabem, mas todos se conformam com a concessão do negócio da electricidade e da água a troco da destruição de recursos naturais preciosos.


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Na medicina chama-se placebo a um medicamento que não tem nenhuma capacidade curativa, mas que também não faz mal a ninguém. É a classe dos medicamentos que serve para tranquilizar as consciências mas não tem verdadeiramente nenhum efeito real. Na política, depois dos vetos presidenciais que demonstraram o cariz mais conservador e autoritário do presidente, Cavaco Silva volta a refugiar-se em declarações que são verdadeiros placebos políticos. Agradam a toda a gente, porque consensuais e não têm nenhum efeito porque o Governo não espera retirar daí nenhuma consequência. Foi o caso das declarações do presidente durante a visita ao Douro Internacional e do apelo que proferiu em relação à defesa da sustentabilidade ambiental da bacia do Douro e à necessidade de conjugar desenvolvimento com qualidade dos recursos.

Nunes Correia, o ministro do ambiente ouviu, provavelmente terá dito que sim, "tem o Sr. Presidente muita razão, mas o Sabor, o Tua e o Tâmega estão condenados ao assassinato ecológico por imperativos do negócio da electricidade, da privatização das albufeiras e do comércio da água. Isso, Sr. Presidente é que são os negócios do progresso." Portugal é o país europeu que mais energia desperdiça, mas «saiba o Sr. Presidente que diminuir os gastos não beneficia os negócios das empresas, portanto a nossa prioridade é aumentar a produção, na expectativa de que Portugal venha a fazer negócio com a energia obtida a partir de recursos naturais únicos: dinâmica das bacias hidrográficas, sol, vento e mar. Ainda havemos de vender muita electricidade, assim que o mercado europeu de energia esteja preparado para a comprar. Não temos petróleo, mas temos rios, se eles morrerem tanto pior, vão-se os dedos e fiquem os anéis. Mas tem V.ª Ex.ª muita razão, esta região era muito linda!»

A bacia hidrográfica do Douro já conta neste momento com 40 embalses no Estado Espanhol, só Aldeia d'Ávila tem em armazenamento o dobro do volume da água que está retida nas 13 barragens nacionais. Os rios internacionais são objecto da Convenção de Albufeira entre Portugal e Espanha, que determina o volume dos caudais e a defesa da qualidade da água. No entanto, os parâmetros de cumprimento da convenção em matéria de caudais e qualidade da água permanecem no segredo dos deuses.

Aos embalses em território espanhol somam-se as já existentes barragens no território português. Agravar ainda mais este processo de retenção do caudal dos rios tem consequências da maior gravidade para a eutrofização da água bem como para a redução dos caudais e consequentemente a concentração de poluentes. Além disso as albufeiras representam uma perda irreversível de diversidade ecológica, a destruição das paisagens e arrastam a alteração das condições de clima numa região onde uma das actividades económicas mais importantes - a produção vinícola - depende das condições de microclima único no país.

É um risco demasiado elevado. A construção de novas barragens no Sabor, no Tua e no Tâmega condena a bacia do Douro ao assassinato ecológico, o Partido Socialista sabe disso, os autarcas do PS também sabem, mas todos se conformam com a concessão do negócio da electricidade e da água a troco da destruição de recursos naturais preciosos. Todos eles estão dispostos a ficar sem dedos, desde que haja anéis para distribuir pelos promotores privados, só se esquecem de que a prazo nem dedos nem anéis.

Alda Macedo, in Ecoblogue - 23 de Setembro de 2008

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