Rio Tâmega - Mondim de Basto
Salvem o "Quilhão"!
Pois é. Parece que agora é de vez e não há volta a dar!
A barragem em Fridão está aí. Adeus Tâmega do nosso contentamento.
Durante décadas, gerações e gerações de mondinenses tiveram no rio Tâmega a sua casa de verão. Banhos para todos os gostos, saltos para todas as aventuras, mergulhos de arrepiar!, sedielas a arrebentar!, picnics de arromba!, peixinhos do rio a fritar... beijinhos ao mergulhar!
Saudosismo?... É verdade!
Nos últimos anos, é um facto, o rio Tâmega já não tem a qualidade da água que os da minha geração e anteriores usufruíram. Os areais e as margens, já não são como então.
A frequência de banhistas é menor, obviamente. Mas continua a ser o nosso rio. Continua a ser um dos nossos cenários magníficos: a água a correr, os açudes, os moinhos, as pedras para saltar, ainda lá estão todas: a “fraguinha” para os mais pequeninos, o “figueiras”, o “quilhão” (o pequeno e o grande), a “panela”, a “manteiga”, o “salta-carneiros”, o “foguete”... os barbos, as bogas, os escalos, as trutas, as enguias... a pesca de lazer continua de igual forma generosa; recentemente, também a possibilidade de fazer pesca desportiva na pista de Mondim.
A água já não é cristalina, já não se vê o fundo do “poço”. Já não se conseguem apanhar as moedas que vinham pelo ar, de cima da ponte, lançadas aos putos pelos romeiros à Sr.ª da Graça. Mas a verdade é que o rio ainda tem vida própria e ainda se pode tomar banho no Tâmega em Mondim.
As águas balneares são habitualmente analisadas e não tem havido resultados (pelo menos do conhecimento público) que dêem a água como imprópria para o fim a que se destina. E mesmo que assim fosse, que não se pudesse tomar banho, que não é verdade, não seria mais que uma antecipação ao que se vai passar na albufeira de Fridão quando a barragem estiver construída. Porque aí sim, pelo que tenho lido e pelo que tenho ouvido através de especialistas, não mais se vai poder tomar banho, ou pelo menos nas condições de qualidade, que apesar de tudo ainda se mantêm.
O Tâmega está considerado como uma «zona sensível» em termos de eutrofização. As condições para que tal fenómeno se desenvolva, e os efeitos negativos que daí podem advir, vão ser potenciados com a construção da barragem. Por isso, meus amigos mondinenses, podemos dizer adeus banhos, adeus barbos, escalos e bogas, e com a subida de cota da água, adeus “quilhão” e “figueiras”, adeus “poço”, adeus “fraguinha”... enfim, adeus nossa alegre casa de Verão!
Também é verdade, que a paisagem não tem preço (principalmente quando é nossa e nos é roubada!).
O valor afectivo à mesma é livre e cada um sente-o como quiser e com direito próprio. Mas para a generalidade dos mondinenses, a ligação sentimental ao rio é eterna: na infância (o aprender a nadar na “fraguinha”!), na adolescência (as aventuras no rei da pedra! os saltos de pé, pote e cabeça!, os namoros nas bordinhas do rio) e em adulto (o recreio, o descanso, o relembrar de tanto e tão bom quando pequeninos). E isso, para nós, tem um valor indelével.
Dirão alguns que outros valores se levantam!
Quais? O interesse nacional? A tão famigerada auto-suficiência energética?
Aqui, importa colocar a interrogação: E não existem outros meios para a conseguir?
E porquê cinco (5!) barragens, todas no Tâmega?
Os mondinenses são portugueses, solidários com o País, mas é só ficar sem o que de mais genuíno temos... sem tanto de nós?
Onde estão as contrapartidas?
O que vamos ganhar uma vez que vamos perder algo que é nosso e uma vez que seguramente vamos perder qualidade de vida?
Alguém me sabe dizer, se por exemplo, o município que representa as gentes da minha terra, vai passar a receber mais dinheiro para desenvolver o concelho?
Interesse nacional ou interesse do grande capital?
Quem vai ganhar dinheiro com a barragem?
Uma riqueza para Mondim?
Com quê?
Com as indemnizações pelos terrenos ocupados?
Ora essa! Não faltava mais nada.
As indemnizações não são para dar dinheiro aos donos dos terrenos, mas sim para retribuir-lhes e compensá-los por aquilo que se lhes vai tirar.
Com um hipotético aumento de visitantes, de mais dormidas, refeições,...Pergunto: Quem é que quer ver um lençol de água parada?
Se é pelo volume de água, então ficam no litoral porque têm lá muita, mais bonita e em movimento... Se é pelo volume de água vão para as barragens do planalto, como por exemplo a dos Pizões.
Se houver lugar a comparações então compare-se com a Barragem do Torrão no Tâmega, a jusante de Amarante. Aí sim, a realidade está bem à vista. Albufeira eutrofizada, não se pode tomar banho, perigo para a saúde (cianobactérias), não se pesca porque não há peixes (dos nossos), água “manchada” de verde pelas outras microalgas criadas pelo fenómeno da eutrofização.
Pergunte-se, hoje, às populações afectadas pela Barragem do Torrão se estão contentes? Pergunte-se se estão mais ricas? Pergunte-se quantas casas novas foram feitas junto à barragem. Porque deixou de se poder tomar banho, porque deixou de se pescar, porque se deixou, até, de andar de barco (desportos motorizados).
Haverá quem ache que é mais bonito ver um lençol de água parada, com microalgas para todos os gostos (onde se incluem as cianobactérias), sem peixes autóctones (porque os nossos vão deixar progressivamente de ter condições de vida), onde não se poderá tomar banho, do que um rio (como o nosso), com água a correr, por entre o fraguedo no vale?
Neste caso, não entram aqui sequer valores sentimentais. Tão só opinar sobre a beleza (que é subjectiva)...
Mas enfim, pelos vistos quem manda pode!
Adeus Rio, adeus infância e juventude, adeus marco da minha identidade!
Ler ainda: Salvem o Quilhão (Parte 2)
Alfredo Pinto Coelho – eng.º Agrícola / lic. Gestão Agrária
Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega
(Mondim de Basto – Setembro de 2008)
in O Jornal de Mondim (Número 35 - Agosto de 2008) e O Povo de Basto (Número 263 - 5 de Setembro de 2008)
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Rio Tâmega - Mondim de Basto: Salvem o "Quilhão"! - Alfredo Pinto Coelho
Etiquetas:
PNBEPH - Opinião APC
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2 comentários:
On 12/8/08, Luis van Zeller wrote:
Parabéns eng.Alfredo Pinto Coelho pelo seu belo artigo.
Se um dia lhe chamarem saudosista lembre-lhes Teixeira de Pascoaes e aquilo que ele escreveu sobre o nosso Tâmega.
Um abraço do amigo e companheiro de luta
Luis van Zeller.
i agree your idea ! very nice blog
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