quarta-feira, 10 de setembro de 2008

PNBEPH - Barragem de Gouvães: Barragens do Alto Tâmega vão afectar Fisgas de Ermelo






As maiores quedas de água portuguesas podem estar em risco
Barragens do Alto Tâmega vão afectar Fisgas de Ermelo

As fisgas de Ermelo, localizadas no Parque Natural do Alvão (PNA), poderão «ser seriamente» afectadas com a construção de quatro barragens na bacia hidrográfica do Tâmega, alertou um especialista.

Rui Cortes, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e especialista da área do ambiente, garantiu que a construção de quatro barragens na bacia hidrográfica do Tâmega e de três derivações de cursos de água vão «alterar completamente» a zona envolvente a este rio e até mesmo o PNA.


Uma dessas derivações, refere, é precisamente o rio Olo, que alimenta as Fisgas de Ermelo, aquelas que são consideradas como as maiores quedas de água de Portugal e uma das maiores da Europa, anualmente visitadas por milhares de pessoas.


O projecto das quatro barragens da «cascata do Tâmega» – Alto Tâmega, Daivões, Padroselos e Gouvães – foi adjudicado ao grupo espanhol Iberdrola, que abriu concurso público para escolher a empresa que vai efectuar o Estudo de Impacte Ambiental (EIA). Estes empreendimentos fazem parte do Plano Nacional de Barragens anunciado pelo Governo de José Sócrates.


Segundo explicou o especialista, a barragem de Gouvães, a construir no rio Torno, vai derivar água de dois afluentes, o Olo – na zona a montante das Fisgas – e Alvadia. 
«Ou seja, o caudal que actualmente alimenta as fisgas será reduzido ao mínimo, afectando seriamente esta queda de água, que desaparecerá nos moldes em que a conhecemos actualmente, e o próprio PNA», sublinhou.


Barragem não está em causa, o seu impacto sim

Além da derivação do Olo, um canal com 7,8 quilómetros, a albufeira de Gouvães será ainda alimentada pela derivação de mais dois rios, o Alvadia (canal de 4,4 quilómetros) e o Viduedo (3 quilómetros).

Com estas afluências à albufeira de Gouvães, a energia produzida naquela barragem em ano médio é estimada em 153 gigawatts-hora (GWh) por ano.


Rui Cortes diz que não está a por em causa a construção da barragem, mas sim a derivação de água do Olo. Por isso mesmo, o especialista espera que esta situação seja resolvida em sede do EIA, o qual, na sua opinião, «serve precisamente para evitar situações mais perniciosas e arranjar alternativas».


O Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), responsável pelo PNA, referiu que se vai pronunciar sobre o assunto em sede do EIA.



Rio Tâmega «vai ser completamente modificado»

A tudo isto vai ser acrescentada, mais tarde, a construção de uma outra barragem – a de Fridão – próxima de Amarante. «O rio Tâmega, tal como o conhecemos, vai ser completamente modificado», frisou.

Para além dos factores ambientais, Rui Cortes salientou ainda que a construção destas barragens vai afectar «parte das vilas de Mondim de Basto e Ribeira de Pena e mais de 10 aldeias ribeirinhas» deste território. Ao contrário da barragem de Fridão, que está a ser contestada pela população de Amarante, as restantes quatro foram apoiadas pelos autarcas do Alto Tâmega (Chaves, Boticas, Vila Pouca de Aguiar, Valpaços, Ribeira de Pena e Montalegre), que, inclusive, conjuntamente com a EDP, concorreram à construção das mesmas.

in Iol Diário - 10 de Setembro de 2008 

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