Barragens do Tejo e do Douro mais afectadas
Excesso de água reduz produção
Electricidade com as albufeiras cheias há que deitar água fora, mas isso engrossa o caudal dos rios e afecta o funcionamento das turbinas
As romarias à barragem de Alqueva, no Alentejo, têm sido uma constante desde meados de Dezembro. É que a água propriamente dita acabou por se tornar um pólo de atracção turística pois, pela primeira vez, a água acumulada na albufeira ultrapassou a cota máxima dos 152 metros, o que obrigou a sucessivas descargas.
Pensar-se-á que, com tanta água disponível, a produção hidroeléctrica bateu sucessivos recordes. Isso, de facto, aconteceu mas o excesso de água acaba por ter um efeito indesejado: as descargas fazem subir o nível da água do rio a jusante e isso aumenta a pressão exercida pelo volume dessa mesma massa de água sobre o local onde se encontram posicionadas as turbinas que geram energia. O resultado é que estas acabam por ter um rendimento inferior ao que seria normal.
Este cenário está a repetir-se um pouco por todo o país, com especial incidência nas barragens cujo paredão é mais baixo do que o de Alqueva, onde a chamada queda bruta de água (diferença de cota entre o nível da água a montante, na albufeira, e a jusante, no leito do rio) é menor. Ou seja, em muitas das barragens existentes, sobretudo nas bacias do Tejo e do Douro, com pouca capacidade de armazenagem, “quando a água descarregada atinge volumes significativos, acabam por se atingir valores mínimos da ‘queda’ que impossibilitam o funcionamento dos grupos geradores durante esses períodos”, explica uma fonte da EDP.
Fratel parou uma semana
Por exemplo, na barragem do Fratel, no rio Tejo, entre 22 e 28 de Fevereiro, os grupos geradores de energia ali instalados nem sequer funcionaram. Esta paragem, segundo a EDP, implicou uma perda de 19 gigawatts hora (GWh). Tudo porque os caudais de água naquela albufeira foram superiores a 2200 metros cúbicos por segundo (m3/s).
No rio Douro, estas paragens ocorrem com caudais a variarem entre os cerca de 2800 m3/s (na barragem do Pocinho) e os 6000 m3/s nas barragens da Valeira, Régua, Carrapatelo e Crestuma-Lever.
Sem referir valores totais de perdas devido às descargas efectuadas este Inverno nas barragens de que dispõe em todo o país, a EDP nota apenas que “os impactos na produção a nível nacional são variáveis. Mas sendo os aproveitamentos do Douro os de maior produção de energia hidroeléctrica, é nestes que é mais significativa a perda” de energia.
António Sá da Costa, presidente da Associação de Energias Renováveis (APREN), desdramatiza e diz que, se em alguns casos as turbinas param durante dias, noutros podem ser apenas algumas horas, até a água no leito do rio estabilizar.
Água em vez de gás e carvão
E a prova de que este impacto não tem sido significativo no conjunto do sistema electroprodutor nacional, segundo o mesmo responsável, é que na base do diagrama do sistema tem estado precisamente a componente hídrica (ver gráfico na página ao lado). Recorde-se que em anos de pouca pluviosidade costumam ser as centrais térmicas, a gás, a carvão e a fuel a assegurar a base do diagrama.
Os dados apurados pela REN confirmam a tese de Sá da Costa, e demonstram que durante Janeiro, por exemplo, 45% da energia eléctrica gerada em Portugal tiveram origem nas barragens.
O presidente da APREN acrescenta a estes dados os da sua associação, que apontam para um total de 47,7% de electricidade de origem hídrica entre o dia 1 de Janeiro e o dia 4 de Março de 2010.
Se àquele valor se acrescentar o da electricidade com origem no vento, no sol e nas outras formas de produção verde, como a biomassa, no período em apreço, do total da electricidade consumida em Portugal 72,6% foi de origem renovável. “Algo de verdadeiramente notável”, remata Sá da Costa.
Um relatório publicado esta semana pela Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) revela que a produção total de energia eléctrica a partir de fontes renováveis cresceu 24% em 2009, relativamente a 2008.
Para este crescimento contribuiu fortemente a componente hídrica que, no último mês do ano, duplicou a produção relativamente à verificada no mês homólogo de 2008.
A produção eólica, por si só, cresceu 31% em 2009 face ao ano anterior. Só em Dezembro a produção foi 52% superior à verificada no mês homólogo do ano anterior.
Vítor Andrade, in Expresso (Economia - p. 14) - 13 de Março de 2010
E a prova de que este impacto não tem sido significativo no conjunto do sistema electroprodutor nacional, segundo o mesmo responsável, é que na base do diagrama do sistema tem estado precisamente a componente hídrica (ver gráfico na página ao lado). Recorde-se que em anos de pouca pluviosidade costumam ser as centrais térmicas, a gás, a carvão e a fuel a assegurar a base do diagrama.
Os dados apurados pela REN confirmam a tese de Sá da Costa, e demonstram que durante Janeiro, por exemplo, 45% da energia eléctrica gerada em Portugal tiveram origem nas barragens.
O presidente da APREN acrescenta a estes dados os da sua associação, que apontam para um total de 47,7% de electricidade de origem hídrica entre o dia 1 de Janeiro e o dia 4 de Março de 2010.
Se àquele valor se acrescentar o da electricidade com origem no vento, no sol e nas outras formas de produção verde, como a biomassa, no período em apreço, do total da electricidade consumida em Portugal 72,6% foi de origem renovável. “Algo de verdadeiramente notável”, remata Sá da Costa.
Um relatório publicado esta semana pela Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) revela que a produção total de energia eléctrica a partir de fontes renováveis cresceu 24% em 2009, relativamente a 2008.
Para este crescimento contribuiu fortemente a componente hídrica que, no último mês do ano, duplicou a produção relativamente à verificada no mês homólogo de 2008.
A produção eólica, por si só, cresceu 31% em 2009 face ao ano anterior. Só em Dezembro a produção foi 52% superior à verificada no mês homólogo do ano anterior.
Vítor Andrade, in Expresso (Economia - p. 14) - 13 de Março de 2010
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