quarta-feira, 3 de março de 2010

Ambiente: Municípios do Tâmega alertam para impacto ambiental das barragens







Ambiente
Municípios do Tâmega alertam para impacto ambiental das barragens


A Associação de Municípios do Alto Tâmega avisa que a construção de quatro barragens na região vai provocar «danos incalculáveis» no ambiente e na economia.
  • Em declarações à TSF, o presidente da AMAT, Fernando Rodrigues garantiu que os danos provocados pela construção das quatro barragens são «incalculáveis»
  • O presidente da AMAT afirmou ainda que o estudo de impacto ambiental da empresa Iberdrola é «vago e mal fundamentado»
  • Fernando Rodrigues alertou para a necessidade de mudança de atitude do Governo em relação à construção de barragens em Portugal
  • O presidente da Câmara Municipal de Amarante, Armindo Abreu afirmou que os projectos de construção destas barragens não justificam «alarmismos»
  • Armindo Abreu defende a realização de um estudo que analise as consequências de todas as barragens
  • O especialista António Luís explicou à TSF que a barragem do Fridão e todas as que se situarem no rio Tâmega vão ter «graves» impactos ambientais

A Associação de Municípios do Alto Tâmega (AMAT) considera que a construção de quatro das cinco barragens previstas par a região terá «graves consequências» para a economia e para o ambiente.

A AMAT pediu à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para estudar o impacto ambiental destes projectos entregues à empresa espanhola Iberdrola e, com base nas conclusões dos académicos, o presidente desta associação, Fernando Rodrigues garantiu que os danos provocados pela construção das quatro barragens são «incalculáveis».

«Desde logo porque temos ali uma quantidade de água imprópria para consumo humano, para regadios e para fins turísticos. Ninguém imagina que se construa uma barragem que não tem nem água nem aproveitamento a não ser a produção de energia», alertou.

«Toda aquela área vai ficar exposta em termos destes perigos todos, de ter ali uma quantidade enormíssima de água que pode vir a poluir solos, que pode vir a causar doenças e prejuízos de imagem à região e nós não vamos, com certeza, permitir isso», acrescentou.

Fernando Rodrigues lembrou também que as barragens vão provocar «uma perda de receita imediata para as autarquias», sendo que os investimentos previstos como contrapartida à construção das centrais representam poucas vantagens para a região.

O presidente da AMAT afirmou ainda que o estudo de impacto ambiental da empresa Iberdrola é «vago e mal fundamentado».

«São estudos muito vagos, sendo que o próprio estudo aponta para novos estudos, o que prova a simplicidade com que foi feito o trabalho», criticou.

«Que solidariedade é esta em que um governo recebe 300 milhões de euros pela concessão das barragens, arrecada os 300 milhões e na região não fica nada», questionou.

Fernando Rodrigues está preocupado com vários outros pontos.

«Nós ficamos aqui com as terras inundadas, com nevoeiro, com a água imprópria para consumo humano, para consumo agrícola e para fins turísticos, e nem sequer temos as empresas que pagam impostos aqui na nossa região. Portanto, acho que o Governo tem que ser sensível a estas questões e tem que mudar radicalmente os parâmetros da actuação», defende.

A TSF contactou a Iberdrola, que recusou responder a qualquer pergunta. O presidente da empresa em Portugal, Pina Moura leu apenas uma declaração, defendendo a «qualidade» e o «rigor» do estudo de impacto ambiental que sustenta a construção das quatro barragens.

«O estudo de impacto ambiental realizado pela Iberdrola cumpriu todos os requisitos exigidos pelas autoridades e avaliou de forma exaustiva todos os aspectos relevantes para a construção do complexo hidroeléctrico do Alto Tâmega», garantiu Pina Moura.

«Em alguns casos, o estudo foi mesmo mais longe do que o exigido e consideramos que é possível minimizar os impactos através da adopção de um conjunto alargado de medidas e de programas de monitorização exaustivamente previstos no estudo de impacto ambiental da Iberdrola», acrescentou.

No rio Tâmega, serão construídas cinco barragens. A barragem do Fridão foi entregue à EDP e também merece críticas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

O professor que estudou o respectivo estudo de impacto ambiental, António Luís explicou à TSF que o documento apresenta «falhas graves» e sugere que este seja «deitado fora».

Também em declarações à TSF, o presidente da Câmara Municipal de Amarante, Armindo Abreu, afirmou que os projectos de construção destas cinco barragens estão a causar um «alarmismo» que nem sempre se justifica.

«Acho que a água do Tâmega não será de pior qualidade que a água do Douro e é da água do Douro que nós nos estamos a alimentar, que abastece toda a área metropolitana. De forma que penso que, nesta questão, levantam-se sempre alguns alarmismos», disse.

Armindo Abreu defende que se faça um estudo que analise as consequências de todas as barragens, deixando de lado os estudos individuais sobre cada uma das infraestruturas.

«Não há um estudo que veja os efeitos cumulativos de todas estas barragens. Nós não sabemos, por exemplo, o que acontece se construírem as barragens a montante», sugeriu.

Depois de quase quatro décadas em que o investimento na produção hidroeléctrica em Portugal foi muito reduzido, este novo ciclo de produção de hidroelectricidade - envolvendo a construção de novos aproveitamentos e o reforço de potência instalada noutros já existentes - ocorre no âmbito de um novo paradigma de sustentabilidade ambiental, novas políticas energéticas e crescente importância das energias renováveis, o que não aconteceu em períodos anteriores.

in TSF - 3 de Março de 2010

1 comentário:

Anónimo disse...

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