Alto Tâmega - Especialista alerta para grande concentração de água
Barragens em terreno sísmico
Estão a avolumar-se as críticas à construção das barragens previstas para o rio Tâmega. Anteontem à noite, em Vidago, um especialista em geomorfologia alertou para a possibilidade de as albufeiras poderem ter efeitos sísmicos.
Emanuel Queirós, que é também fundador do Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega, falava numa sessão de esclarecimento e de apelo à participação na marcha lenta contra as barragens no Tâmega (quatro no Alto Tâmega e uma em Amarante), sábado, em Amarante.
De acordo com o especialista, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) das barragens, em discussão pública até 14 de Abril, não teve em conta o facto de o rio correr numa zona de "falha sismotectónica". "Não está ponderado no EIA o peso dos milhares de hectolitros de água que vão ficar numa zona de fragilidade", referiu o especialista, para concluir: "Sabe-se, por experiência, que o peso da água num subsolo fragilizado é indutor de sismos. Já aconteceu na China, na Índia e EUA".
O especialista criticou também o facto de a empresa responsável pelo EIA, a Procesl, admitir a construção de barragens no rio, quando, em 2001, no âmbito da elaboração do Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Douro defendeu que o Tâmega era um ecossistema a "recuperar e preservar".
Água com menos qualidade
No mesmo encontro, João Branco, da Quercus, chamou a atenção para o facto de um relatório da Comissão Europeia, a propósito do Plano Nacional de Barragens, "dizer claramente que vai haver uma diminuição da qualidade da água" e, por isso, na sua opinião, a construção das barragens vai pôr em causa a legislação europeia sobre a água. Pedro Couteiro, da Coagret, uma plataforma ibérica, falou mesmo em "holocausto hídrico". "Não podemos permitir esse ultraje, a paisagem é a nossa identidade", apelou, defendendo que os rios devem ser guardados para a pesca.
As quatro barragens no Alto Tâmega, a construir até 2018, representam um investimento de 1700 milhões de euros. Prevê-se que criem 3500 postos de trabalho directos. Os empreendimentos foram adjudicados à espanhola Iberdrola, que pagou ao Estado 300 milhões de euros pela concessão.
Margarida Luzio, in Jornal de Notícias - 10 de Março de 2010
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