Avaliação da UTAD arrasa "estudo" de Impacte Ambiental da PROCESL
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As preocupações emergentes na região Tâmega (do Alto ao Baixo Tâmega passando por Terras de Basto), nomeadamente nas populações que residem nas proximidades do rio e seus afluentes, com a mercantilização do seu mais rico e fecundo património natural - água, rios, paisagem, solos agrícolas, floresta, segurança e Natureza - às eléctricas EDP e IBERDROLA, começam finalmente a estar na ordem do dia e a fazer curso nos principais órgãos representativos locais e regionais.
As ameaças do último garimpo no Tâmega pairam no vale em maior profusão que todas as rapinas conhecidas, retirando as populações ao seu sossego e ao esquecimento a que a democracia e a república as votou.
Na sub-bacia duriense do Tâmega, uma década depois de entrados no século XXI, há já afectados pelas decisões cegas dos Governantes e pela arrogância e indisfarçável desfaçatez com que nos corredores do Poder, centrado em Lisboa, prepararam o cozinhado do demoníaco Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH).
Com a alienação do património natural do Tâmega promovida pelo Instituto da Água /Ministério do Ambiente, a versão local e regional dos milhões encaixados pelo Governo com um negócio impossível para esconder o défice nas contas do Estado, reverte-se na espoliação de patrimónios únicos, da Terra e do Homem, escassos e não renováveis; na abominável entrega à força de terras e habitações; na retirada compulsiva das pessoas das terras e suas residências; no espectro dos bulldozers e do betão a reter o rio e a afogar todo o ecossistema pela desmesurada e contranatural «cascata» de águas mortas; na violência para os autóctones de se verem despojados de toda uma vida construída em comunhão fidelíssima com o seu torrão natal.
Não há negócio algum que possa ser bom para o Estado com tamanhas repercussões nefastas para o património de todos, para os ecossistemas e para as populações que dão vida ao Tâmega - de Vidago a Amarante - neste remoto e encravado endereço português.
Perante quanto nas freguesias e nos concelhos ribeirinhos do Tâmega passou a estar em equação, há consciências que não soçobraram com a afronta dos valores do negócio nem temem a subalternidade de tratamento a que são remetidos no vale os cidadãos, relegados à condição de indígenas «tamecanos».
Um programa nacional (PNBEPH) que toma alicerce no erro da análise, na falácia do "estudo", na sonegação de informação privilegiada, na conveniência do não-esclarecimento aos afectados e na mentira generalizada aos portugueses, neste Estado de Direito, num país europeu que se quer livre e desenvolvido não pode vingar sobre os reflexos da violência psico-sociológica, do agravamento da situação sócio-económica, que tende a colocar nas populações mais desprotegidas pelo seu potencial de destruição social, ambiental e patrimonial.
Acabada de ser produzida (16/03) pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - UTAD, para a Associação de Municípios do Alto Tâmega (AMAT), chega ao nosso conhecimento a avaliação (Parecer Técnico - versão provisória) efectuada sobre o «ESTUDO DE IMPACTE AMBIENTAL DOS APROVEITAMENTOS HIDROELÉCTRICOS DE GOUVÃES, PADROSELOS, ALTO TÂMEGA E DAIVÕES».
Elaborado por uma equipa de quatorze (14) investigadores universitários, em quatro domínios científicos (Alterações Climáticas; Biodiversidade e Valores Ecológicos; Recursos Naturais e Factores Hidrológicos; Desenvolvimento Humano e Competitividade), o estudo da UTAD vem arrasar mais uma peça desta grande patranha nacional jogada com o PNBEPH, e não podia ser mais eloquente na denúncia da falta de seriedade, rigor técnico, e valor científico do "estudo" colocado em consulta pública pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA):
«O EIA dos aproveitamentos hidroeléctricos de Gouvães, Padroselos, Alto Tâmega e Daivões revela inúmeras fragilidades e insuficiências, quer do ponto de vista metodológico, quer do ponto de vista da qualidade da informação utilizada e da consistência e profundidade da avaliação realizada. Essas fragilidades e limitações, referidas nas páginas anteriores, condicionam e influenciam os resultados obtidos pelo que os erros, omissões e insuficiências deverão ser corrigidos e colmatados.» (p. 46)
José Emanuel Queirós - 21 de Março de 2010
Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega (Amarante)
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