Alto Tâmega - Populações de Anelhe, Arcossó e Vilarinho não querem ficar sem os seus melhores terrenos
Criado movimento contra barragens no Tâmega
As quatro barragens vão inundar grande parte dos terrenos agrícolas do vale do Tâmega
A eventualidade de as cotas de duas barragens previstas para o Tâmega poderem aumentar, por causa da possibilidade de uma das quatro projectadas não se construir, continua a gerar reacções. Em Anelhe, Chaves, foi criado um movimento contra as barragens que vai pôr em marcha um abaixo-assinado para as contestar. Entretanto, as Câmaras do Alto Tâmega pediram uma análise do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) das albufeiras à UTAD. Os resultados preliminares da análise revelam que a construção das barragens terão efeitos “muito graves” no ecossistema.
Uma “sessão de esclarecimento” sobre as barragens previstas para o rio Tâmega, levada a cabo em Anelhe, na sexta-feira da semana passada, terminou com a criação de um movimento contra os empreendimentos, nomeadamente o que vai inundar terrenos desta de outras aldeias contíguas. À cota lançada a concurso, a 312, o concelho de Chaves praticamente não era afectado. No entanto, no EIA das barragens, em discussão pública, até dia 14 de Abril, também foram avaliadas as cotas 315 e 322, o que alterará substancialmente as áreas inundadas. O aumento da cota da barragem que abrange áreas do concelho de Chaves, bem como a do aumento de potência da de Gouvães, que terá implicações em Vila Pouca de Aguiar é apresentada no EIA como uma possibilidade para compensar a não construção da barragem de Padroselos (Boticas), por causa de uma colónia de mexilhões em vias de extinção e protegidos por Lei.
Durante a reunião, um dos cidadãos que encabeça o movimento, Amílcar Salgado, ex-administrador do Hospital de Chaves, lançou várias questões para o debate.
Além de perda dos melhores terrenos agrícolas, recordou que o EIA admite que vai haver “maior frequência de nevoeiro” e lembrou as consequências negativas que advirão quando, no Verão, a cota da água baixar e deixar a descoberto grandes quantidades de lamas. “Isso vai atrair uma quantidade enorme de mosquitos”, garantiu Amílcar Salgando, apelando a que as pessoas pensem bem se querem a barragem. “Depois de as coisas estarem feitas não há volta a dar. Eles que venha cá mostrar as vantagens, eu só vejo desvantagens”, referiu, questionado porque se discute tanto o TGV, ou a terceira Ponte sobre o Tejo, e não se discute O Plano Nacional de Barragens. “Pois é, pimenta no rabo dos outros é refresco”, lançou. Aparentemente, a maioria da cerca de meia centena de pessoas que se encontravam na sede da Junta deu sinais de concordar com o não à barragem ou, pelo menos, com a luta pela cota mínima.
A sessão contou também com a presença do representante do movimento ibérico Coagret, que aglutina “afectados pelas grandes barragens e transvases”. Pedro Couteiro recordou que o “equilíbrio em termos de construção de barragens já foi ultrapassado” e defendeu que a aposta do Governo deveria passar pela poupança energética. “Já não se fazem barragens. Destrói-se mais do que se aproveita. Hoje o que é raro é ter rios e é isso que devemos preservar”, alertou, apelando à participação do movimento criado numa marcha lenta que irá ter lugar no próximo dia 13 de Março, em Amarante, contra esta e outras albufeiras.
Para já, o movimento criado em Anelhe irá pôr em marcha um abaixo-assinado para reunir assinaturas contra a construção das albufeiras. No entanto, a ideia e concertar posição com a Câmara de Chaves, que só terá uma posição definitiva sobre o assunto depois de avaliar a análise ao EIA, encomendada a uma equipa da UTAD (ver caixa), E apresentada na passada quarta-feira. O trabalho foi solicitado pela Associação de Municípios do Alto Tâmega, que aguarda uma reunião com a ministra do Ambiente.
Em declarações ao Semanário TRANSMONTANO, o presidente da Câmara de Chaves, João Batista, explicou que só se irá pronunciar sobre o assunto depois de analisar com os serviços da autarquia a própria análise do EIA, feito pela UTAD. De qualquer forma, adiantou que, à partida, a autarquia aceitará a cota de concurso, a 312, que é “minimalista”; que a construção à cota 315 “há que avaliar bem os efeitos” e que, à partida, estará contra a cota 322, por trazer “alterações substantivas”.
Barragens terão efeitos “muito graves” no ecossistema
A construção de quatro barragens no Tâmega vai ter efeitos “muito graves” no ecossistema. A conclusão, prévia, é de António Luís, professor de Botânica na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que faz parte da equipa que fez a análise ao Estudo de Impacte Ambiental, encomendada pela Associação de Municípios do Alto Tâmega. E foi apresentada na sexta-feira da semana passada, na sessão de esclarecimento sobre o impacto das Barragens, que teve lugar em Anelhe (ver texto principal). Vincando que é “funcionário público” e que a sua opinião é apenas técnica, o docente afirmou que o IEA tem “muitas lacunas”.
No entanto, na sua opinião, o “maior problema” é que este tipo de estudos são encomendados pelas empresas adjudicatárias. “Não são mais que um conjunto de banalidades. Não correspondem à realidade”, defendeu António Luís, lembrando “a importância da função ecológica do Tâmega na bacia do Douro”, que irá ser posta em causa com a construção das barragens. Quanto às consequências da construção das barragens acrescentou: “Afirmar o que vai acontecer, ninguém pode garantir. O que posso dizer é que daqui a 50 anos (período de validade das barragens) esse espaço vai ser um depósito de sedimentos que acabou com os melhores terrenos deste ecossistema, mais do que isso é especulação”.
Mas António Luís não foi apenas crítico em relação aos EIA. Também não poupou as populações e os seus autarcas por, ao longo dos anos, terem “abandonado progressivamente” o vale do Tâmega. Por isso, disse que não basta dizer não. “Têm de dizer não e apresentar um plano alternativo para todo esse vale”, frisou, revelando que esse alternativa passa pela aposta nos recursos endógenos: floresta, agricultura e pecuária. “Há estudos feitos há anos, mas estão esquecidos. Estes concelhos têm o que merecem. Eu nisso sou muito cruel”, disse, acrescentando que as barragens é uma “bom negócio” para a Iberdrola, a empresa espanhola que ganhou o concurso para a construção dos empreendimentos.
Margarida Luzio, in Semanário Transmontano, Diário de Trás-os-Montes - 5 de Março de 2010
Uma “sessão de esclarecimento” sobre as barragens previstas para o rio Tâmega, levada a cabo em Anelhe, na sexta-feira da semana passada, terminou com a criação de um movimento contra os empreendimentos, nomeadamente o que vai inundar terrenos desta de outras aldeias contíguas. À cota lançada a concurso, a 312, o concelho de Chaves praticamente não era afectado. No entanto, no EIA das barragens, em discussão pública, até dia 14 de Abril, também foram avaliadas as cotas 315 e 322, o que alterará substancialmente as áreas inundadas. O aumento da cota da barragem que abrange áreas do concelho de Chaves, bem como a do aumento de potência da de Gouvães, que terá implicações em Vila Pouca de Aguiar é apresentada no EIA como uma possibilidade para compensar a não construção da barragem de Padroselos (Boticas), por causa de uma colónia de mexilhões em vias de extinção e protegidos por Lei.
Durante a reunião, um dos cidadãos que encabeça o movimento, Amílcar Salgado, ex-administrador do Hospital de Chaves, lançou várias questões para o debate.
Além de perda dos melhores terrenos agrícolas, recordou que o EIA admite que vai haver “maior frequência de nevoeiro” e lembrou as consequências negativas que advirão quando, no Verão, a cota da água baixar e deixar a descoberto grandes quantidades de lamas. “Isso vai atrair uma quantidade enorme de mosquitos”, garantiu Amílcar Salgando, apelando a que as pessoas pensem bem se querem a barragem. “Depois de as coisas estarem feitas não há volta a dar. Eles que venha cá mostrar as vantagens, eu só vejo desvantagens”, referiu, questionado porque se discute tanto o TGV, ou a terceira Ponte sobre o Tejo, e não se discute O Plano Nacional de Barragens. “Pois é, pimenta no rabo dos outros é refresco”, lançou. Aparentemente, a maioria da cerca de meia centena de pessoas que se encontravam na sede da Junta deu sinais de concordar com o não à barragem ou, pelo menos, com a luta pela cota mínima.
A sessão contou também com a presença do representante do movimento ibérico Coagret, que aglutina “afectados pelas grandes barragens e transvases”. Pedro Couteiro recordou que o “equilíbrio em termos de construção de barragens já foi ultrapassado” e defendeu que a aposta do Governo deveria passar pela poupança energética. “Já não se fazem barragens. Destrói-se mais do que se aproveita. Hoje o que é raro é ter rios e é isso que devemos preservar”, alertou, apelando à participação do movimento criado numa marcha lenta que irá ter lugar no próximo dia 13 de Março, em Amarante, contra esta e outras albufeiras.
Para já, o movimento criado em Anelhe irá pôr em marcha um abaixo-assinado para reunir assinaturas contra a construção das albufeiras. No entanto, a ideia e concertar posição com a Câmara de Chaves, que só terá uma posição definitiva sobre o assunto depois de avaliar a análise ao EIA, encomendada a uma equipa da UTAD (ver caixa), E apresentada na passada quarta-feira. O trabalho foi solicitado pela Associação de Municípios do Alto Tâmega, que aguarda uma reunião com a ministra do Ambiente.
Em declarações ao Semanário TRANSMONTANO, o presidente da Câmara de Chaves, João Batista, explicou que só se irá pronunciar sobre o assunto depois de analisar com os serviços da autarquia a própria análise do EIA, feito pela UTAD. De qualquer forma, adiantou que, à partida, a autarquia aceitará a cota de concurso, a 312, que é “minimalista”; que a construção à cota 315 “há que avaliar bem os efeitos” e que, à partida, estará contra a cota 322, por trazer “alterações substantivas”.
Barragens terão efeitos “muito graves” no ecossistema
A construção de quatro barragens no Tâmega vai ter efeitos “muito graves” no ecossistema. A conclusão, prévia, é de António Luís, professor de Botânica na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que faz parte da equipa que fez a análise ao Estudo de Impacte Ambiental, encomendada pela Associação de Municípios do Alto Tâmega. E foi apresentada na sexta-feira da semana passada, na sessão de esclarecimento sobre o impacto das Barragens, que teve lugar em Anelhe (ver texto principal). Vincando que é “funcionário público” e que a sua opinião é apenas técnica, o docente afirmou que o IEA tem “muitas lacunas”.
No entanto, na sua opinião, o “maior problema” é que este tipo de estudos são encomendados pelas empresas adjudicatárias. “Não são mais que um conjunto de banalidades. Não correspondem à realidade”, defendeu António Luís, lembrando “a importância da função ecológica do Tâmega na bacia do Douro”, que irá ser posta em causa com a construção das barragens. Quanto às consequências da construção das barragens acrescentou: “Afirmar o que vai acontecer, ninguém pode garantir. O que posso dizer é que daqui a 50 anos (período de validade das barragens) esse espaço vai ser um depósito de sedimentos que acabou com os melhores terrenos deste ecossistema, mais do que isso é especulação”.
Mas António Luís não foi apenas crítico em relação aos EIA. Também não poupou as populações e os seus autarcas por, ao longo dos anos, terem “abandonado progressivamente” o vale do Tâmega. Por isso, disse que não basta dizer não. “Têm de dizer não e apresentar um plano alternativo para todo esse vale”, frisou, revelando que esse alternativa passa pela aposta nos recursos endógenos: floresta, agricultura e pecuária. “Há estudos feitos há anos, mas estão esquecidos. Estes concelhos têm o que merecem. Eu nisso sou muito cruel”, disse, acrescentando que as barragens é uma “bom negócio” para a Iberdrola, a empresa espanhola que ganhou o concurso para a construção dos empreendimentos.
Margarida Luzio, in Semanário Transmontano, Diário de Trás-os-Montes - 5 de Março de 2010
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