Economia Real
As eólicas e o mau tempo
Noticiava o Expresso que estávamos a dar a preço zero electricidade a Espanha. A culpa seria do mau tempo e do Mercado Ibérico de Electricidade (MIBEL). A história está mal contada.
Existe uma elevada correlação entre vento (que produz electricidade eólica) e chuva (que enche as albufeiras), tal como entre secas e ausência de vento. No fundo, água e vento têm o mesmo combustível: as depressões atmosféricas... Tudo isto tem explicado o prof. Pinto de Sá do IST no seu magnífico blogue http://a-ciência-nao-e-neutra.blogspot.com.
Tivemos, numa convergência normal, muito vento e também muita chuva, a qual, enchendo as albufeiras, não permitiu que estas fossem utilizadas para armazenar a água que seria puxada para elas por bombagem alimentada por essa electricidade eólica em excesso. É essa água que é normalmente descarregada produzindo electricidade nas horas de maior consumo. A água é assim a forma de acumular habitualmente a electricidade em excesso.
Nós portugueses pagamos a electricidade eólica aos produtores, em contratos leoninos a preços entre 60 e 93Mwh, precisemos ou não dela, através dos custos gerais do sistema, suportados pelos consumidores. Como não precisámos da energia e não a conseguimos armazenar, tivemos que a passar para Espanha durante treze dias de Dezembro a preço zero durante as horas de menor consumo e a 30-40€/Mwh nas outras horas! Como o 'camarada' Zapatero professa a mesma ideologia eco-utópica, também teve o mesmo tipo de problemas e por isso não precisava muito dela. Por outro lado, a França que tem no nuclear a sua energia 'verde' também não necessitava da nossa electricidade. Assim sendo, a culpa não é do MIBEL. Se bem que ele esteja longe de ser um verdadeiro mercado, aqui até funcionou bem no jogo da oferta e procura que ditou o preço da nossa exportação!
Tudo isto resulta do excesso da eólica que já temos cá. Nos países que têm eólicas e que fazem planeamento a sério (caso da Dinamarca que só tem 20% de eólica) tal teria sido acautelado. Por cá, o resultado está à vista! Tal, além de nos levar quer a preços elevados contribuindo para o défice tarifário, que é uma bola de neve crescente, quer à instabilidade da rede que nos conduzirá a apagões, não se resolve só com o reforço das barragens existentes ou com as novas albufeiras em construção. Precisaríamos para acumular toda essa água nesses períodos críticos de albufeiras de grande dimensão, o que é inviável num país pequeno.
A propósito ainda do mau tempo, um grande especialista de ventania mediática desapareceu durante os temporais no Oeste, deixando os engenheiros da EDP a tentar explicar a falta de investimento nas redes de distribuição e a resposta muito lenta da empresa ao temporal, mas reapareceu como treinador de futebol num jogo a favor do Haiti. Realmente isto de haver redes físicas nas utilities (em vez de apenas realidade virtual) é uma grande maçada...
Luís Mira Amaral, in Expresso - 30 de Janeiro de 2010
As eólicas e o mau tempo
Noticiava o Expresso que estávamos a dar a preço zero electricidade a Espanha. A culpa seria do mau tempo e do Mercado Ibérico de Electricidade (MIBEL). A história está mal contada.
Existe uma elevada correlação entre vento (que produz electricidade eólica) e chuva (que enche as albufeiras), tal como entre secas e ausência de vento. No fundo, água e vento têm o mesmo combustível: as depressões atmosféricas... Tudo isto tem explicado o prof. Pinto de Sá do IST no seu magnífico blogue http://a-ciência-nao-e-neutra.blogspot.com.
Tivemos, numa convergência normal, muito vento e também muita chuva, a qual, enchendo as albufeiras, não permitiu que estas fossem utilizadas para armazenar a água que seria puxada para elas por bombagem alimentada por essa electricidade eólica em excesso. É essa água que é normalmente descarregada produzindo electricidade nas horas de maior consumo. A água é assim a forma de acumular habitualmente a electricidade em excesso.
Nós portugueses pagamos a electricidade eólica aos produtores, em contratos leoninos a preços entre 60 e 93Mwh, precisemos ou não dela, através dos custos gerais do sistema, suportados pelos consumidores. Como não precisámos da energia e não a conseguimos armazenar, tivemos que a passar para Espanha durante treze dias de Dezembro a preço zero durante as horas de menor consumo e a 30-40€/Mwh nas outras horas! Como o 'camarada' Zapatero professa a mesma ideologia eco-utópica, também teve o mesmo tipo de problemas e por isso não precisava muito dela. Por outro lado, a França que tem no nuclear a sua energia 'verde' também não necessitava da nossa electricidade. Assim sendo, a culpa não é do MIBEL. Se bem que ele esteja longe de ser um verdadeiro mercado, aqui até funcionou bem no jogo da oferta e procura que ditou o preço da nossa exportação!
Tudo isto resulta do excesso da eólica que já temos cá. Nos países que têm eólicas e que fazem planeamento a sério (caso da Dinamarca que só tem 20% de eólica) tal teria sido acautelado. Por cá, o resultado está à vista! Tal, além de nos levar quer a preços elevados contribuindo para o défice tarifário, que é uma bola de neve crescente, quer à instabilidade da rede que nos conduzirá a apagões, não se resolve só com o reforço das barragens existentes ou com as novas albufeiras em construção. Precisaríamos para acumular toda essa água nesses períodos críticos de albufeiras de grande dimensão, o que é inviável num país pequeno.
A propósito ainda do mau tempo, um grande especialista de ventania mediática desapareceu durante os temporais no Oeste, deixando os engenheiros da EDP a tentar explicar a falta de investimento nas redes de distribuição e a resposta muito lenta da empresa ao temporal, mas reapareceu como treinador de futebol num jogo a favor do Haiti. Realmente isto de haver redes físicas nas utilities (em vez de apenas realidade virtual) é uma grande maçada...
Luís Mira Amaral, in Expresso - 30 de Janeiro de 2010
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