sábado, 23 de janeiro de 2010

PNBEPH - Barragem de Fridão / «cascata do Tâmega»: Albufeiras a construir no Tâmega afundarão Património das Terras de Basto





PNBEPH - Barragem de Fridão/cascata do Tâmega
Albufeiras a construir no Tâmega afundarão Património das Terras de Basto

Ponte de Cavez: parte do “Roteiro Camiliano”

A construção das barragens no rio Tâmega não afectará apenas a paisagem natural e terrenos agrícolas da região. Alguma da riqueza patrimonial dos Concelhos do Vale do Tâmega, nomeadamente da Região de Basto, vai ficar debaixo de água irremediavelmente. A Ponte de Cavez, Monumento Nacional, é um dos imóveis de interesse que são considerados na zona de implementação do Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico e que poderá ser afectada com a construção a jusante da Barragem do Fridão e da Barragem de Daivões a montante.

A verdade é que com uma cota máxima de 165, desejada pela EDP para o Fridão, a enchente “queda-se” 10 metros abaixo da ponte cavesina, implantada sensivelmente à cota 175. No entanto, fica por explicar se o monumento ficará ou não à mercê da descarga das barragens acima, numa situação de cheia, e dos próprios trabalhos de construção da represa de Daivões nomeadamente da estrutura inerente ao circuito hidráulico que fará a restituição da àgua proveniente da albufeira do Fridão. Lembre-se que um dos objectivos da construção da também chamada “Cascata do Tâmega”, composta por 5 empreendimentos hidroeléctricos, é utilizar a energia produzida pelas eólicas para recanalizar, no sentido contrário, o curso do rio, aumentando a capacidade armazenada das barragens para responder a picos de procura de electricidade Um excelente negócio para a EDP e Iberdrola, que passam a poder vender ao preço da eólica, taxada a um valor mais elevado, energia de origem muito mais barata. Por outro lado, está por esclarecer a situação da fonte de águas sulfurosas conhecida como Fonte Santa de São Bartolomeu, na margem do rio Tâmega, local de romaria por alturas de 24 e 25 de Agosto. A lista, disponível no site do INAG, refere ainda a Ponte sobre o Rio Moimenta, a arte rupestre da Boucinha no concelho de Cabeceiras de Basto e uma ponte em Arco de Baúlhe classificada com o imóvel de interesse municipal.

Mais certa é a submersão da ponte que liga Mondim de Basto a Veade (Celorico de Basto) e da Ponte Medieval de Vilar de Viando sobre o Cabril, reabilitada em 2003. Afectadas pela albufeira do Fridão estão ainda vários sítios arqueológicos como povoados fortificados, castros e estações de arte rupestre quer em Celorico de Basto, especificamente na Freguesia de Canedo, quer em Atei na outra margem do Rio Tâmega. O Solar dos Azevedos e a Capela do Senhor são dois imóveis de interesse municipal e público também em risco em Mondim de Basto. Várias quintas centenárias e casas de campo também não serão poupadas à subida das águas.

Inventário esconde a destruição das últimas pontes de arame da Região
Apesar da longa lista de elementos patrimoniais, existem omissões importantes. Uma das mais mediáticas é a da Ponte de Arame de Lourido que liga Arnóia (Celorico) a Rebordelo (Amarante). A outra é a fabulosa Ponte suspensa de Santo Aleixo de Além Tâmega, restaurada em 1913, referida na obra de Camilo Castelo Branco e parte do roteiro camiliano. Este elemento da heráldica da freguesia com o mesmo nome, em Ribeira de Pena, com toda a paisagem bucólica em redor, ficará esquecida nas profundezas da Barragem de Daivões.

Ao que se pode apurar, o Ferriduto de Matamá, um dos maiores da Europa em granito, também poderá ter de ser reforçado para não ceder às modificações previstas do terreno onde assentam as suas fundações. Mas com a ausência de investimento nos trabalhos de preservação no troço desactivado da Linha do Tãmega, nos últimos, o mais provável é que seja deixado à sua sorte, como muito do restante património ferroviário abandonado desde 1990.


in Jornal O Basto - 23 de Janeiro de 2010

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