Barragens do Alto Tâmega
Os riscos e os perigos desta obra
Risco sísmico, destruição da flora, perda de turismo ou custos escondidos para a região foram alguns dos argumentos ouvidos na sessão de esclarecimento, que serviu para sensibilizar a população contra a construção das barragens do Alto Tâmega.
De forma a explicar o porquê das freguesias de Vidago, Anelhe, Acossó e Vilarinho das Paranheiras, entre outras instituições, estarem contra a construção das barragens do Alto Tâmega, estas mesmas freguesias realizaram uma sessão de esclarecimento, no passado dia 23 de Julho, no auditório do GATAT em Chaves.
Conforme explicou o presidente da junta de Vidago, Rui Branco, no início da sessão, que acabou por não levar muita gente ao auditório na noite de sexta-feira, esta iniciativa teve como objectivo esclarecer os flavienses, lembrando que, embora as barragens sejam construídas a jusante do rio que passa pela cidade, as implicações também se farão sentir em Chaves. Rui Branco afirmou também que “gostava de sentir mais solidariedade e ajuda para lutar por esta causa”.
Com um painel de cinco convidados, o primeiro a discursar foi José Emanuel Queirós, de Amarante, especialista em Geomorfologia e fundador do Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega.
Para José Emanuel Queirós, o rio é um “elemento unificador de toda a região”, afirmando: “somos todos originários do rio Tâmega”. O risco sísmico, que as construções das barragens do Alto Tâmega podem trazer, foi o principal alerta que José Emanuel Queirós apresentou. Evocando estudos certificados, o especialista em geomorfologia explicou que “as barragens têm um peso no subsolo”, explicando que vivemos numa região “com fragilidades sísmicas” e que, com as barragens, a água originará uma maior pressão sobre o solo.
Para Marco Fachada, engenheiro florestal, esta luta contra as barragens do Alto Tâmega já se iniciou em 2007, conforme o próprio explicou, e que na altura “nenhuma instituição quis saber”. A qualidade da água e dos solos depois da construção das barragens são as principais preocupações de Marco Fachada.
“Não sei quais vão ser as consequências para a qualidade da água”, afirmou o engenheiro florestal, que avisou que tendo em conta o facto de Espanha também estar a preparar a “construção de represas”, a água, desde o país vizinho, já irá “perder qualidade”.
“A eutrofização vai piorar com as barragens”, alerta Marco Fachada, acrescentando que a flora não vai suportar as “flutuações que todos os meses o nível da água terá”. O engenheiro florestal avisa que todas estas possíveis consequências “não estão previstas no estudo de impacte ambiental”.
Barragens têm implicações económicas na região
“O progresso não pode acontecer à custa da população”, começou por afirmar Artur Cardoso, representante da Associação Pisão Louredo. Abordando as consequências empresariais que a construção das barragens pode trazer, Artur Cardoso explicou que para que as barragens sirvam para um aproveitamento turístico, a construção das mesmas “tem de ser enquadrada”, o que neste caso não acontece, afirmando ser apenas um “modelo de exploração intensivo” para a obtenção de energia eléctrica.
O representante da Associação Pisão Louredo afirma assim que “vamos assistir a um verdadeiro hecatombe” e que “todo o potencial económico da região vai desaparecer”. “O que vemos hoje não é o que teremos cá amanhã”, alertou Artur Cardoso que deixou ainda um repto para que se obrigue “a quem de direito a fazer cedências”.
Para João Branco, da Quercus, as barragens do Alto Tâmega significam os interesses “sócio-económicos da região a serem prejudicados em prol do interesse nacional”. “As albufeiras serão lagos de água choca, que cheiram mal”, alertou João Branco, afirmando ainda que este projecto está “desenquadrado da economia da região”.
O representante da Quercus deixou ainda claro que na primeira quinzena de Setembro será entregue uma acção judicial contra a construção das barragens.
Do ponto de vista económico, conforme explicou Amílcar Salgado, nem durante a construção, nem depois de as barragens estarem em funcionamento, o lucro gerado para a região se poder comparar com o que é criado actualmente.
“O desenvolvimento durante a construção não é significativo”, afirmou Amílcar Salgado, explicando que os materiais de construção, e até alguma mão-de-obra, virão de fora da região. “Mesmo o pequeno aumento é pouco significativo. Durante a exploração, a paisagem perde valor e a afluência à região será menor”, afirma o economista.
Ainda sobre a paisagem, Amílcar Salgado avisa que “durante o Verão existirá uma cratera a céu aberto com um enorme impacto paisagístico”, devido à descida do nível da água. Abordando as perdas económicas para a região, o economista explicou ainda os “custos sombra” por detrás da construção das barragens, dando como exemplo o aumento do nevoeiro, que levará a mais custos agrícolas, ou ainda o facto de os municípios perderem impostos sobre as terras inundadas.
Amílcar Salgado afirmou ainda que “a imagem que a região tem, pode perdê-la” e que “se este fosse um projecto de desenvolvimento, não era feito aqui, era disputado por várias regiões”.
Do painel de convidados que apresentaram os riscos que as barragens podem trazer para a região, saíram no final apelos para o público afirmando que este é o “momento soberano para a população actuar” ou que a população deve “fazer barulho e manifestar-se”.
Para os interessados em consultar o estudo de impacte ambiental acerca das barragens do Alto Tâmega, as cópias estarão disponíveis na Câmara Municipal de Chaves, na Divisão do Ordenamento do Território.
Diogo Caldas, in A Voz de Chaves - 30 de Julho de 2010