Quanto vale o metal que vai ao peito do ex-Ministro do Ambiente?
Ao ver a imagem da página do Jornal de Notícias de ontem (8 de Junho de 2010), em parte reproduzida acima, dando conta das figuras que o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, vai condecorar amanhã (10 de Junho) nas cerimónias oficiais do Dia de Portugal, detive-me na pose do ex-Ministro do Ambiente, tentando compreender quanto nessa distinção vai mal neste país. E quanto pode valer, para além do peso do metal, a condecoração no peito do ex-ministro, depois de executado o demoníaco papel de infalível algoz do Tâmega.
Vai mal este meu país que não é meu - e por que mãos, muito mal! -, quando o mais alto magistrado da nação acede distinguir seu ex-colaborador e quem, com o pelouro do Ambiente já em governação socialista, em plena Década Internacional para a Acção «WATER FOR LIFE», se alheou do estado de degradação em que o Tâmega vai na albufeira do Torrão, na função de garante do bom estado de qualidade das águas se ausentou da gestão dos recursos hídricos e da observância e respeito pelo cumprimento da Directiva-Quadro da Água, em absoluto descomprometimento com o sistema institucional de «gestão sustentável das águas» e em ruptura com o Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água.
Quando o homem a agraciar é colocado no Ministério para servir Portugal, os portugueses e os valores presentes no território, em domínio muito preciso e muito susceptível, e actua em oposição ao consagrado no edifício legal na esfera do Ambiente e da Água, aliena os recursos hídricos e o património ambiental dos ecossistemas ribeirinhos do Tâmega e vende a segurança da Cidade de Amarante às eléctricas EDP e à Iberdola - onde pontificam dois ex-Ministros da Economia de governos nacionais - depois de, em 2007, «inventar» o famigerado e demoníaco Programa (patranha) Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH), recuperando uma caduca pretensão do Estado Novo, para alimento de garimpeiros e predadores, o que dizer do valor do metal da República que vai ao peito do catedrático Francisco Nunes Correia?
Gostaria mais de ter razões para pensar que somos um país que se faz asseado nas rotinas e nas excepções, digno da grandeza dos que fizeram a Língua e arroteram o solo, dos que sulcaram oceanos e encontraram os limites terrenos para o Homem, daqueles que deixaram todo seu legado nas comunidades que fazem a Pátria, que agora surge (des)feita entre privilégios e desfaçatez, na volúpia e na rapina voraz de uns quantos que, em Lisboa, se resguardam nas sombras uns dos outros.
Quanto vale o metal com que se faz a medalha lusitana da Ordem do Infante (Grande Oficial) que assim vai a um peito, assinalando o Dia de Camões?
José Emanuel Queirós - 9 de Junho de 2010
3 comentários:
Inteiramente de acordo.
L.M.
Muito bem. Palavras certas em análise profunda.
Amílcar
MEDALHA NO PEITO DE NUNES CORREIA
Li com gosto e aprovação plena o comentário sobre a incrível condecoração ao inefável sr.Nunes Correia,esse famigerado pai e mãe do Plano Nacional de Barragens.
Mesmo estando convencido de que esta medalha(logo a do Infante) terá sido proposta pelo (des)Governo,ao sr. Presidente da República, este tinha a obrigação de conhecer o personagem e nem sequer necessitar de informação complementar para a rejeitar liminarmente.
Chegados a este ponto de facto é pena o falecido «Zé dos Patos» já não ser vivo para o propormos também para uma condecoração.
Pelo menos esse lutou à sua maneira pela "patologia" do Tâmega.
Que mais dizer sobre os tempos que correm. Penso que com esta fica tudo dito e infelizmente já não temos em quem acreditar nem confiar.
Luis van Zeller
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