quarta-feira, 23 de junho de 2010

Barragens/Alto Tâmega: Ninguem viu mexilhão que travou barragem






Barragens/Alto Tâmega 
Ninguem viu mexilhão que travou barragem 
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“Ouvi dizer que tinham apanhado o mexilhão de água doce durante o estudo para a barragem, mas nunca vi nenhum”, afirmou Fernando Outeiro, residente na aldeia de Covas do Barroso, uma das que seria mais afetada com a construção do empreendimento.

Boticas, 22 jun (Lusa) – A opinião da população de Boticas divide-se a favor ou contra a construção da barragem de Padroselos, mas são unânimes ao afirmar que nunca viram o mexilhão-de-rio do norte que travou o empreendimento.

O Ministério do Ambiente chumbou segunda-feira uma das quatro barragens do Alto Tâmega por causa de uma colónia de mexilhões-de-rio do Norte, uma espécie rara descoberta no rio Beça, em Boticas.


Hoje, neste concelho, os principais temas de conversas dividiam-se entre a vitória histórica da Selecção Portuguesa frente à Coreia do Norte por sete a zero, um pouco mais de metade do número de mexilhões descobertos no rio Beça, outro assunto que dominou as discussões nos cafés locais.


Terão sido doze bivalves descobertos naquele rio, mas as populações garantiram à Lusa que nunca viram nenhum, nem sequer tinham ouvido falar deles antes da barragem.
“Ouvi dizer que tinham apanhado o mexilhão de água doce durante o estudo para a barragem, mas nunca vi nenhum”, afirmou Fernando Outeiro, residente na aldeia de Covas do Barroso, uma das que seria mais afetada com a construção do empreendimento. 


Este habitante diz-se contra a barragem por causa das consequências que traria para a aldeia a nível de nevoeiro, humidade e doenças para as plantas e porque poderia levar à “morte” do rio Beça, muito procurado pelos pescadores de trutas. 


Ao seu lado, sentado na esplanada de um café, Pedro Fernandes também corrobora que “nunca” viu nenhum.
Opinião contrária tem Fernando Domingues que é a favor da barragem porque “ela faz falta”. 


“Andamos a importar energia do estrangeiro porque havemos de dar o dinheiro a ganhar aos outros países. Nunca vi nenhum e acho que o mexilhão deve ter sido inventado por alguém que não queria cá a barragem”, afirmou. 


Também Napoleão Fernandes, outro residente em Covas do Barroso, acha que “foi alguém que trouxe os mexilhões para o rio para que não fizessem a barragem”. “E vão fazer uma barragem onde vão afectar tantas terras de cultivo e deslocar até pessoas porque lhe afogam as casas e aquela ali que só afogavam pinheiros fica por fazer”, salientou. 


Acrescentou que o “país não lucra nada com os mexilhões”.
O presidente da Câmara de Boticas, Fernando Campos, disse à Lusa que entende que as “questões ambienteis sejam relevantes na decisão final”, mas afirmou que lamenta. 


“De todas as barragens da Cascata do Tâmega esta é a que teria impactos locais menos significativos e as melhores condições para potenciar a eventual criação do projeto de desenvolvimento local ligado à área do turismo”, sublinhou.


Também o autarca diz que só viu o bivalve em “fotografia” e contou que até recusou saber onde se localizava a colónia, não fosse dar-se o caso de eles desaparecerem e depois acusarem o município de Boticas. 


O mexilhão-de-rio do norte, Margaritifera margaritifera, é uma espécie rara protegida pela legislação nacional e europeia e que, em 1986, chegou a ser dado como extinto em Portugal. 


A Declaração de Impacte Ambiental (DIA) preconiza medidas de compensação que passam pela recuperação do habitat na bacia do Beça, a caracterização detalhada da população do mexilhão, e a criação de condições para a recuperação da espécie.


PLI (Lusa), in Tâmega online - 23 de Junho de 2010

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