sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

É este o “desenvolvimento” que queremos para as Terras de Basto?




É este o “desenvolvimento” que queremos para as Terras de Basto?

Uma simples declaração de interesse: sou membro de um movimento cívico que combate o que nos reserva o “Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico”.

No passado dia 13 de Fevereiro assisti a uma conferência, organizada pela Câmara de Cabeceiras de Basto, que se intitulava “A Barragem de Fridão e o desenvolvimento das Terras de Basto”. Um tema interessante e de extrema relevância para a população das Terras de Basto e da Bacia do Tâmega.

Foi convidado para conferenciar sobre o assunto o Dr. António Castro, administrador da EDP-Produção (empresa onde reside o intuito de construção da barragem atrás citada). Portanto, alguém muito pertinente para esclarecer o lado “positivo” da barragem, visto que é parte interessada no projecto. Contudo, numa sociedade deve prevalecer o bom senso e a parte que contesta a construção deveria ter sido considerada. Visto que, para uma saudável “informação” sobre um qualquer assunto, é obrigatório que se tenha em conta ambas as partes senão corre-se o evitável risco de instrumentalização por um dos lados.

Findada a exposição dos argumentos do representante da EDP, iniciou-se o normal ciclo de perguntas e respostas. Só neste momento a equidade foi respeitada, ou seja, “dada” a voz ao público houve intervenientes a favor e contra a construção da barragem. Na “guerra” argumentativa, a maioria dos argumentos “contra” foi aceite pelos representantes da EDP. Contudo, no “calor” do debate houve quem questionasse e até insinuasse a falsidade dos argumentos “contra” a construção da barragem de Fridão, argumentos que, imaginem só, momentos antes haviam sido confirmados pelos representantes da EDP.

Foi, também, questionado a “solidariedade regional” entre os concelhos abrangidos pela hipotética construção da barragem. Concelhos diferentes, consequências diferentes e portanto não convém juntar tudo no mesmo “saco”, era a máxima reinante. A construção de uma barragem em Amarante terá implicações, por muito ténues que sejam, em outros concelhos. É um problema “trans-concelhio” e de preocupação nacional, pois o que se discute é o impacto desta construção no património natural que, por acaso, é de todos e para todos. De facto, se assim não fosse, o porquê do tema da conferência ser “A Barragem de Fridão e o desenvolvimento nas Terras de Basto”? É evidente que, somente pelo tema, a discussão não era específica a um só concelho como, também, não se referia a uma só consequência. A “solidariedade regional” é necessária neste e em outros assuntos.

É um tema controverso, sem dúvida. São várias as interpretações sobre o mesmo facto. Um facto que se baseia no impacto substantivo que esta construção terá no Ambiente e em particular no património ambiental que envolve o rio Tâmega. Quem não se interessar com o impacto (irreversível e substantivo) que terá a construção de barragens no Ambiente desta região, provavelmente, estará a favor do falso desenvolvimento que a barragem trará. Caso contrário, estará irredutivelmente contra a construção desta barragem e, provavelmente, acreditará que é possível um desenvolvimento verdadeiro (o desenvolvimento sustentável) e que este, por definição, não “aceita” a construção de barragens.

Editorial do jornal "O Basto", escrito por Marco Gomes - 20 de Fevereiro de 2009
Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega (Cabeceiras de Basto)

Sem comentários: