Pegada na água acentua-se
Recursos hídricos sofrem pressão crescente
Até um frango chegar à nossa mesa são consumidos 3900 litros de água. O fabrico de uma t-shirt implica o gasto de 2700 litros e só uma folha de papel A4 chega aos dez. A pegada humana nos recursos hídricos está a reduzir-lhes a qualidade e a quantidade.
O alerta chega, desta vez, das organizações e especialistas reunidos na Semana Mundial da Água, que decorre em Estocolmo até ao próximo dia 11: a água está a ficar com menor qualidade e mais poluída. Por todo o mundo, é extraída, utilizada, reutilizada e rejeitada a um ritmo crescente.
O tratamento nem sempre é feito antes de alcançar de novo o meio aquático. A sua contaminação aumenta e nesse fenómeno participam também, já de forma preocupante, fertilizantes agrícolas, produtos industriais e mesmo substâncias activas de medicamentos, depois de excretadas pelo organismo humano.
Entre os produtos que vão parar ao meio aquático estão os pesticidas, retardantes de fogo, substâncias esteróides e hormonas das pílulas contraceptivas. Biólogos têm observado em muitas regiões que tais substâncias levam espécies de peixe a mudar de sexo, o que põe em causa o equilíbrio dos ecossistemas.
Segundo o Instituto Internacional da Água de Estocolmo, que organiza esta conferência há 20 anos, "a poluição da água está a aumentar a nível mundial". Todos os dias são lançados dois milhões de toneladas de efluentes de origem humana em ribeiras, rios, lagos e mares. Nos países em desenvolvimento, cerca de 70% dos efluentes industriais não são sujeitos a tratamento.
A água e o saneamento foram declarados como direitos de toda a pessoa pelas Nações Unidas, numa declaração aprovada no passado dia 28 de Julho. Mas o acesso a esses direitos está longe de ser alcançado. Cerca de 2,5 mil milhões de habitantes do planeta, entre os mais de seis mil milhões existentes, não têm acesso a saneamento básico. E falta em muitas regiões a água potável: as Nações Unidas estabeleceram como necessidade individual entre 20 a 50 litros de água não contaminada por dia e por pessoa.
A falta dessa garantia implica doenças, muitas delas fatais, sobretudo em crianças. Em cada ano morrem 1,8 milhões de cólera e outros males por falta de condições sanitárias. Em todo o Mundo, 87% da população (5,5 mil milhões) ainda usam fontes improvisadas para se abastecerem de água potável. Cerca de 884 milhões não têm mesmo acesso a ela, usando poços e outras fontes sem qualquer tratamento.
As regiões mais afectadas pela escassez de água continuam a ser a Ásia, África e parte da América do Sul. Mas a Europa, ainda que beneficie de sistemas de abastecimento e saneamento com larga cobertura, não escapa aos problemas. Há, segundo a Agência Europeia do Ambiente, oito países que já podem ser considerados como tendo dificuldades com a água. São eles a Alemanha, Inglaterra e País de Gales, Itália, Malta, Bélgica, Espanha, Bulgária e Chipre. No conjunto, isto equivale a 46% da população europeia.
A situação não pode dar largas a optimismos: 60% das cidades europeias estão a sobre-explorar as reservas subterrâneas e 20% das águas superficiais estão seriamente ameaçadas pela poluição.
Portugal, Espanha e Itália são os campeões europeus e mundiais do consumo de água (gastamos, agricultura incluída, entre 2100 a 2500 metros cúbicos por pessoa e por ano). Os EUA ocupam o topo do consumo, com 2480 metros cúbicos.
Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias, N.º 98, Ano 123 (p. 51) - 7 de Setembro de 2010
O alerta chega, desta vez, das organizações e especialistas reunidos na Semana Mundial da Água, que decorre em Estocolmo até ao próximo dia 11: a água está a ficar com menor qualidade e mais poluída. Por todo o mundo, é extraída, utilizada, reutilizada e rejeitada a um ritmo crescente.
O tratamento nem sempre é feito antes de alcançar de novo o meio aquático. A sua contaminação aumenta e nesse fenómeno participam também, já de forma preocupante, fertilizantes agrícolas, produtos industriais e mesmo substâncias activas de medicamentos, depois de excretadas pelo organismo humano.
Entre os produtos que vão parar ao meio aquático estão os pesticidas, retardantes de fogo, substâncias esteróides e hormonas das pílulas contraceptivas. Biólogos têm observado em muitas regiões que tais substâncias levam espécies de peixe a mudar de sexo, o que põe em causa o equilíbrio dos ecossistemas.
Segundo o Instituto Internacional da Água de Estocolmo, que organiza esta conferência há 20 anos, "a poluição da água está a aumentar a nível mundial". Todos os dias são lançados dois milhões de toneladas de efluentes de origem humana em ribeiras, rios, lagos e mares. Nos países em desenvolvimento, cerca de 70% dos efluentes industriais não são sujeitos a tratamento.
A água e o saneamento foram declarados como direitos de toda a pessoa pelas Nações Unidas, numa declaração aprovada no passado dia 28 de Julho. Mas o acesso a esses direitos está longe de ser alcançado. Cerca de 2,5 mil milhões de habitantes do planeta, entre os mais de seis mil milhões existentes, não têm acesso a saneamento básico. E falta em muitas regiões a água potável: as Nações Unidas estabeleceram como necessidade individual entre 20 a 50 litros de água não contaminada por dia e por pessoa.
A falta dessa garantia implica doenças, muitas delas fatais, sobretudo em crianças. Em cada ano morrem 1,8 milhões de cólera e outros males por falta de condições sanitárias. Em todo o Mundo, 87% da população (5,5 mil milhões) ainda usam fontes improvisadas para se abastecerem de água potável. Cerca de 884 milhões não têm mesmo acesso a ela, usando poços e outras fontes sem qualquer tratamento.
As regiões mais afectadas pela escassez de água continuam a ser a Ásia, África e parte da América do Sul. Mas a Europa, ainda que beneficie de sistemas de abastecimento e saneamento com larga cobertura, não escapa aos problemas. Há, segundo a Agência Europeia do Ambiente, oito países que já podem ser considerados como tendo dificuldades com a água. São eles a Alemanha, Inglaterra e País de Gales, Itália, Malta, Bélgica, Espanha, Bulgária e Chipre. No conjunto, isto equivale a 46% da população europeia.
A situação não pode dar largas a optimismos: 60% das cidades europeias estão a sobre-explorar as reservas subterrâneas e 20% das águas superficiais estão seriamente ameaçadas pela poluição.
Portugal, Espanha e Itália são os campeões europeus e mundiais do consumo de água (gastamos, agricultura incluída, entre 2100 a 2500 metros cúbicos por pessoa e por ano). Os EUA ocupam o topo do consumo, com 2480 metros cúbicos.
Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias, N.º 98, Ano 123 (p. 51) - 7 de Setembro de 2010
Sem comentários:
Enviar um comentário