quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Molhes de defesa já ocupam um décimo dos limites entre mar e terra: Orla costeira da Europa perde biodiversidade e sofre erosão




Molhes de defesa já ocupam um décimo dos limites entre mar e terra
Orla costeira da Europa perde biodiversidade e sofre erosão


A costa da Europa está em mudança acelerada devido à pressão humana. Apesar de múltiplas directivas a pensar na protecção de espécies e habitats, ocorreu nas duas últimas décadas uma perda acelerada de diversidade, diz a Agência Europeia do Ambiente.

Reconciliar o desenvolvimento e a conservação da natureza é o “apelo” da Agência Europeia do Ambiente, que agora divulgou um documento de balanço sobre o estado da orla costeira da Europa. São cerca de 185 mil quilómetros onde se vêm concentrando as populações. Mais de metade já habita na faixa mais próxima do litoral, situando-se Portugal entre os oito países em que tal ocorre com maior intensidade.

A ocupação da zona costeira tem sido feita pelo sector residencial, mas também pelo industrial, e turístico, sendo que tal movimentação é acompanhada pela construção de estradas e outras infra-estruturas.

Dois factores ressaltam na análise feita pela Agência Europeia do Ambiente quanto às causas que levam o litoral europeu a mudar o seu perfil e a retrair-se: a artificialização dos rios, nomeadamente através da construção de barragens, e a extracção de areias, paradoxalmente para irem alimentar outras praias. Sem a chegada de novos sedimentos transportados pelos rios, a linha de costa não é alimentada, o mesmo acontecendo a muitas espécies de peixes.

Sistemas dunares e estuarinos são afectados também na sua biodiversidade, o mesmo acontecendo a zonas de sapal. Cerca de 4.500 quilómetros quadrados de zonas húmidas deverão desaparecer como resultado da subida do nível das águas do mar. Essa área corresponde a metade da existente na Europa.

As actividades humanas em terra , lembra a Agência Europeia do Ambiente vão afectar o litoral. A agricultura envia, por acção das escorrências das chuvas, cargas de nitratos e fostatos para as águas dos estuários e da costa. Isso vai matar a vida aquática porque esses fertilizantes facilitam o crescimento das algas azuis, grandes consumidoras de oxigénio.

Os eco-sistemas marinhos junto á costa também estão a ser afectados por espécies invasoras que vêm competir com as autóctones e por vezes transmitir-lhes doenças. O Mediterrâneo é o caso mais grave. Essas espécies chegam no casco e lastro dos navios, mas também já houve a introdução intencional de espécies, por exemplo no Mar Frísio, onde uma espécie de ostra do Pacífico prosperou.

Como resultado destas pressões, lembra o documento agora divulgado, “estão em risco na Europa habitats e espécies costeiras de interesse comunitário”. O estado de conservação é considerado “desfavorável” para dois terços dos habitats e para metade das espécies.

A União Europeia tem diversos mecanismos de conservação aplicáveis a este meio, mas eles parecem não estar a ser suficientemente eficazes. Além da Directiva Quadro da água, há a Directiva Quadro para a Estratégia Marinha, a Directiva Habitats e a Directiva das Aves. Além disso, a Europa subscreveu diversas convenções internacionais, como a de OSPAR, para protecção do nordeste atlântico.

Estuários e sapais, lagoas, zona entre marés, rochas, corais e algas são componentes dos habitats costeiros. A Agência Europeia do Ambiente lembra que eles fornecem “serviços”, como alimentos, fármacos, regulação do clima e recreio, o que implicaria a sua melhor preservação.


Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias, N.º 92, Ano 123 (p. 49) - 01 de Setembro de 2010

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