domingo, 18 de janeiro de 2009

Milhares de chineses fogem temendo rompimento de barreiras





Milhares de chineses fogem temendo rompimento de barreiras

BEICHUAN, China (Reuters) - Milhares de chineses fugiram de suas casas no sábado, em meio a temores de que um lago possa romper suas barreiras, prejudicando os esforços de resgate depois de o terremoto mais catastrófico em mais de 30 anos ter deixado cerca de 29 mil mortos.

Trabalhadores de resgate retornaram ao condado de Beichuan, perto do epicentro do terremoto, na província de Sichuan, mas muitos moradores estavam assustados demais para voltar, temerosos devido a um lago formado depois de os abalos posteriores ao terremoto principal terem provocado avalanches que bloquearam o fluxo de um rio.

"Depois de uma breve retirada de moradores, os trabalhos de resgate voltaram ao normal em Beichuan", disse um site oficial (www.china.com.cn), atribuindo a fuga de moradores a um falso alarme.

Um oficial paramilitar tinha dito à Reuters antes que a probabilidade de o lago romper suas barreiras era "extremamente alta."

A situação "é muito perigosa, porque ainda há tremores que provocam deslizamentos de terra que podem danificar a barragem," disse Luo Gang, operário da construção que deixou a cidade portuária de Xiamen, no sudeste do país, e voltou para casa para procurar sua noiva desaparecida.

Os trabalhos de resgate foram complicados pelo mau tempo, o terreno irregular e as centenas de abalos posteriores.

O Instituto Geológico dos EUA relatou um tremor de 6,1 pontos com epicentro a 80 quilômetros a oeste de Guangyuan. É o mais recente de uma série de abalos posteriores que atingiram a província de Sichuan. A agência oficial de notícias chinesa Xinhua disse que não há informações imediatas de mais danos ou mortes nessa região.

"Embora o melhor momento para resgatar sobreviventes já tenha passado, salvar vidas ainda é nossa primeira prioridade", disse o presidente Hu Jintao a sobreviventes em choque, uma semana depois de a China ter comemorado a chegada da tocha olímpica ao cume do monte Everest.

Enquanto o tempo esquenta, os sobreviventes se preocupam com a higiene e começam a fazer perguntas sobre seu futuro de mais longo prazo.

"O que não precisamos mais no momento é macarrão instantâneo", comentou o caminhoneiro Wang Jianhong, na cidade de Dujiangyan. "Queremos saber o que vai ser de nossas vidas."

As autoridades planejam distribuir diariamente 0,5 quilo de alimento e um subsídio de 10 yuans (1,45 dólar) às pessoas que enfrentam dificuldades financeiras nas regiões atingidas pelo terremoto, durante o prazo de três meses, informou a Xinhua, após uma reunião presidida pelo premiê Wen Jiabao.

Também pretendem instalar trailers residenciais, salas de aula temporárias e ambulatórios para a população atingida pelo terremoto.

POPULAÇÃO TENSA
Há receios crescentes sobre a segurança de barragens e açudes que sofreram abalos na província montanhosa de Sichuan, uma área aproximadamente igual à da Espanha.

Em Sichuan e na vizinha Chongqing, 17 açudes foram danificados e algumas barragens apresentam rachaduras e vazamentos. Várias delas ficam no rio Min, que passa pelas áreas mais afetadas pelo terremoto, entre o planalto tibetano e a planície de Sichuan.

A barragem de Lianhehua, construída no final dos anos 1950 a noroeste de Dujiangyan, apresenta rachaduras tão grandes que se pode colocar um punho fechado nelas.

"Com a barragem nesta situação, não podemos ficar tranquilos", disse o lavrador Feng Binggui, que mudou-se de seu povoado, situado abaixo da barragem, para as montanhas.

A China prevê que o número de vítimas fatais do terremoto, de 7,9 pontos de magnitude, exceda os 50 mil. Cerca de 4,8 milhões de pessoas perderam suas casas, e os dias para o resgate de sobreviventes estão contados.

O porta-voz ministerial Guo Weimin, fazendo uma pausa para se recompor ao ler o relatório de vítimas em uma entrevista à imprensa, informou que o número de mortos no momento está em 28.881.

O premiê Wen disse que o terremoto foi "o maior e mais destrutivo" desde antes da revolução comunista de 1949 e que a reação rápida ajudou a reduzir o número de mortes.

E isso mesmo quando comparado ao terremoto de 1976 na cidade de Tangshan, no norte do país, que matou até 300 mil pessoas.

O vice-governador de Sichuan, Li Chengyun, disse que mais de 188 mil pessoas ficaram feridas e cerca de 10.600 pessoas continuam presas sob os destroços. Cerca de 2,6 milhões de barracas são necessárias para abrigar 4,8 milhões de pessoas, disse ele.

Um operário que reparava cabos morreu no sábado, três meses antes de Pequim sediar as Olimpíadas, atingido por pedras quando um abalo posterior moderado atingiu o condado de Lixian.

O presidente Hu elogiou os funcionários de resgate por sua bravura em Wenchuan, o epicentro do terremoto, quando a região foi atingida por outro abalo.

Num vislumbre de esperança de que mais pessoas ainda possam ser retiradas dos escombros com vida, 33 pessoas foram resgatadas em Beichuan, incluindo um camponês de 69 anos que passara 119 soterrado. Soldados retiraram 18 cientistas que não tinham meios de sair de uma floresta na vizinha Mianzhu.

Um site do governo disse que a China está em alerta cautelar contra possíveis vazamentos radiativos. O principal laboratório nacional de pesquisas com armas nucleares fica em Mianyang, ao lado de vários sítios atômicos secretos, mas não há usinas nucleares.

A China enviou 150 mil soldados à região do desastre, mas suprimentos e trabalhadores de resgate vêm tendo dificuldade em chegar às áreas mais atingidas devido às quedas de barreiras e à destruição de estradas pelo terremoto.

Ofertas de ajuda do exterior vêm chegando constantemente, e equipes de resgate do Japão, Rússia, Taiwan, Coréia do Sul e Singapura já chegaram ao país. As doações recebidas ultrapassam os 6 bilhões de yuans.

Chris Buckley e John Ruwitch, in Swissinfo.ch - 18 de Janeiro de 2009

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