RIO TÂMEGA - BARRAGEM DE DAIVÕES
Barragem da Iberdrola atira famílias para contentores (e vai apagar a Ilha dos Amores de Camilo)
A construção da barragem de Daivões que vai integrar um dos maiores projectos hidroeléctricos da Europa dos últimos 25 anos e que será explorado pela Iberdrola, vai fazer desaparecer património cultural de Ribeira de Pena, em Vila Real. A aldeia de Ribeira de Baixo deixará praticamente de existir.
A barragem de Daivões vai ser a primeira a nascer no âmbito do mega-projecto do Sistema Electroprodutor do Tâmega que vai incluir ainda as barragens de Gouvães e Alto Tâmega. O investimento de 1500 milhões de euros foi concessionado à Iberdrola, mas constitui um projecto de iniciativa do Governo.
A previsão aponta para a finalização da barragem de Daivões em Junho de 2020. Nessa altura, alguns pontos turísticos de Ribeira de Pena ficarão submersos, como é o caso da “Ilha dos Amores” – a ilha localizada em Friúme que se tornou célebre numa das “Novelas do Minho” do escritor Camilo Castelo Branco.
Também vai ficar submersa a ponte de arame sobre o rio Tâmega que está situada no lugar de Lourido e que liga as freguesias de Rebordelo e Arnóia. A ponte de quase 20 metros, construída com arames torcidos sobre si mesmos e apoiada em pilares graníticos, integra o roteiro turístico alusivo a Camilo Castelo Branco.
A barragem vai ainda fazer desaparecer do mapa a aldeia de Ribeira de Baixo, em Ribeira de Pena. Quase toda a aldeia vai ficar submersa e a maioria dos moradores já a abandonou no âmbito do processo de expropriações.
Alguns moradores ainda resistem na aldeia, alguns ainda procuram buscar os últimos pertences, enquanto outros não estão satisfeitos com as indemnizações oferecidas pela Iberdrola.
A família Gonçalves é uma das que aceitou a indemnização, um valor inferior a 78 mil euros, mas que alega que só o fez porque se sentiu intimidada a aceitar, referindo que a Iberdrola ameaçou levar o caso a tribunal, mesmo que estivesse em causa apenas um euro de divergência.
“Nós aceitámos, porque se não aceitássemos, a Iberdrola ia meter o dinheiro no tribunal. Com medo, pensei, se fosse a tribunal ainda ia perder dinheiro“, refere Glória Gonçalves em declarações à TVI.
“É um grande desgosto”
Esta família, como outras que ainda não têm nova solução habitacional, vai ser alojada em contentores no centro de Ribeira de Pena. Estes pré-fabricados ainda estão numa fase de construção, estando divididos em T1, T2 e T3, conforme as necessidades de cada agregado familiar.
Os moradores podem viver nestes contentores durante dois anos, até encontrarem nova solução habitacional.
Glória Gonçalves não se conforma com a ideia, lamentando que sempre viveu “com uma lareira” e que não pode “criar frangos, nem galinhas, nem coelhos”. “É um grande desgosto. Pensei que tinha construído esta casa para não andar aos empurrões de um lado para o outro. Pensei que iria morrer aqui, que poderia passar o resto dos meus dias descansada. Afinal, enganei-me”, queixa-se a mulher em declarações ao Correio da Manhã (CM).
A TVI avança que “a Câmara de Ribeira de Pena vai disponibilizar um terreno municipal para que os moradores afectados possam construir as habitações”. E a Iberdrola garante que já acordou com a autarquia que vai pagar “o custo da urbanização dos lotes destinados a realojamentos de habitantes, permanentes e ocasionais”, como destaca uma fonte da eléctrica ao CM.
Compreendemos e estamos solidários com o desconforto que esta mudança de lar possa causar. As pessoas são, efectivamente, a nossa prioridade máxima“, aponta a Iberdrola.
A empresa destaca ainda que está “a articular, com as autoridades competentes, medidas de compensação, adicionais ao processo de expropriação com base na medida 29 do plano de acção sócio-económico de declaração de impacte ambiental”.
in ZAP - 27 de Novembro de 2019
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