Um caso exemplar da grande falperra à portuguesa
Durante a legislatura anterior (2009-2011) enviei diversos e-mails aos deputados da República sob a temática «Ajude a Salvar o Tâmega», e as escassíssimas respostas que deles recebi ou foram meramente evasivas, provindas do secretariado de algum dos Grupos Parlamentares, ou obedeceram ao designado tipo «chapa cinco» na fórmula repetida, com endereço identificativo do deputado e do grupo partidário.
Talvez o assunto abordado nos contactos aos eleitos tenha para mim uma importância sem o mesmo reflexo entre os nossos distintos representantes, talvez não tenha sabido expor à «nata» dos políticos portugueses e defender convenientemente uma causa sentida no Tâmega como justíssima de hoje e de sempre.
Fica, para mim, claríssima a ideia de que entre os 230 membros com assento no órgão mais representativo do sistema democrático em Portugal, o Tâmega (rio e região) não teve em algum dos distritos que o envolve (Braga, Porto e Vila Real) nenhum representante capaz de, por si e pelos que potencialmente representa, se opor à chacina que sobre ele e nós impende.
No entanto, numa das respostas automáticas que o email do Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega recepcionou proveniente de um deputado da República, havia de ficar registado um episódio de contornos sui generis: o feedback electrónico do eleito, justificando estar de «licença de paternidade» até àquele dia (inclusive), estranhamente, vinha marcado pela sua qualidade de jurista e para «qualquer assunto urgente» mandava o contacto de sua secretária na sociedade de advogados, que nem me passaria pela intenção contactar qualquer que fosse a razão, muito menos sabendo antecipadamente que se tratava da empresa que detém em Portugal a assessoria jurídica dos apetites hidroeléctricos da Iberdrola pelo Tâmega.
Cortez e de aparentes bons modos, com voz cuidadamente melodiosa e levemente acentuada pelo tracto minhoto, como muito bem se apresenta na TêVê, também não deixaria supor-se capaz uma refrega ordinária com a linguagem soez como protagonizou no areópago da democracia com o socialista Afonso Candal tendo as energias como tema de fundo.
Mesmo à custa dos esquálidos peitos centenários da república, a nação portuguesa não deixará de ser uma falperra para uns quantos privilegiados do regime que, quando aportados a Lisboa, se abarbatam com as melhores carnes da esvaída madona, indistintamente dos grupos em que resguardam a sua volúpia mercenária e seus vorazes apetites republicanos.
Nesta insana luta pelo desejo de «Salvar o Tâmega», obtive uma confirmação: a de que, os portugueses, somos merecidamente «comidos» (literalmente!) por aqueles em quem colocámos os nossos depósitos de confiança mais genuínos e o grande CANCRO da nossa democracia tem presença contaminante no hemiciclo parlamentar. E são passíveis de reconhecimento as raízes desta estirpe de maleita que sufoca o Estado com residência efectiva um pouco mais a montante nas sacralizadas organizações partidárias que em casos semelhantes são tão protectoras do descompromisso ético e da imoralidade como qualquer sociedade secreta.
Com a garantia curricular do desempenho de altos cargos na Administração, este caso fortuitamente identificado é exemplo exemplar (passo a redundância) da genuína falperra à portuguesa que grassa no grande pagode alfacinha, em que o paladino parlamentar para as matérias do Ambiente compagina sem esforço o Interesse Público com os avultados interesses da eléctrica, sendo por certo muito melhor conhecido da Iberdrola do que dos seus potenciais eleitores no seu distrito de origem.
E viva a falperra alfacinha enquanto a democracia os aguenta!
José Emanuel Queirós - 21 de Junho de 2011
Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega (Amarante)
1 comentário:
Vou ver o que posso fazer por isto.
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