sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Tâmega - Barragem de Fridão: Barragem rouba lares a famílias do Tâmega - 56 casas afectadas
Tâmega - Barragem de Fridão
Barragem rouba lares a famílias do Tâmega - 56 casas afectadas
Barragem rouba lares a famílias do Tâmega - 56 casas afectadas
“Bom dia, são da EDP?”. A interrogação de Maria Carvalho, 67 anos, é pertinente e é por isso que confunde a equipa de reportagem do GRANDE PORTO com os técnicos que, no domingo passado, estiveram em Vilar de Viando, Mondim de Basto, a anunciar a Barragem de Fridão. Nos últimos meses, diz a agricultora, sucederam-se as reuniões com a população para explicar o que vai acontecer às casas e terrenos afectas pela estrutura e pelas águas.
A EDP contratou uma equipa de técnicos do Instituto Superior de Trabalho e Empresa para realizar um estudo sócio-económico da população. “No domingo vieram ver a minha casa, fizeram-me perguntas e disseram-me que vou ter de sair daqui. Lá se vão as nossas vidas, as casas e as memórias. Há dois meses gastei aqui muito dinheiro”, chora. Maria, proprietária de três casas mesmo na encosta do Rio Cabril, junto à Ponte Medieval, lamenta o investimento que fez na recuperação das casas. “Tenho um terreno lá mais a cima, mas mal dá para construir uma casinha. Não sei como vai ser”, afirma, olhando o velho moinho de água que irá perder.
Em Vilar de Viando, a Barragem de Cabril, que deverá estar em funcionamento em 2015, irá afectar a Ponte Medieval, a Capela do Senhora da Ponte e uma outra ponte que data do Estado Novo. Apenas os dois primeiros equipamentos serão desmontados e transladados para outro local, ainda por definir. No total dos cinco municípios afectados com a construção da albufeira da barragem, contam-se 56 habitações que terão de ser abandonadas.
“Isto não vai ficar tudo debaixo de água, mas ficará sem acessos, por isso não podemos cá ficar. Podiam ter avisado, só soubemos pelo padre. Valha-me Deus”, exorta. Mais acima, no caminho da ponte que não deverá sobreviver à barragem, Diogo Tapada cruza o Rio Cabril com o saco dos livros. “Vieram cá uns psicólogos no domingo falar connosco. Explicaram-nos tudo, mas não estavam cá osmeus pais”, conta Diogo, de 17 anos. O jovem admite ainda a tristeza de ter de abandonar o local onde cresceu. “Nasci aqui. É uma grande perda, claro. Estou habituado a este sitio. Vilar de Viando parece uma aldeia perdida no tempo, das que ainda têm placas de acesso a vilas e cidades que apontam para estradas de terra batida pelas fortes chuvas do Inverno rigoroso.
Marlene Mota, 30 anos, assoma-se à porta de uma das habitações de Maria Carvalho. A arrendatária, que cuida do filho, lamenta o infortúnio do destino. “Perdemos tanto tempo à procura desta casa e agora vamos perde-la. Trabalhamos em Mondim. Não é fácil encontrar aqui uma casa para alugar. Vieram falar connosco no domingo, mas não sabem se nos podem ajudar financeiramente porque nós só somos arrendatários”, explica.
Indemnizações
Convencidos que não há outro remédio, os habitantes reclamam agora indemnizações suficientes. “Gastei aqui muito dinheirinho. Têm de me dar o suficiente para eu refazer a minha vida. Já viu? Refazer a vida aos 67 anos. Nem quero pensar”, declina Maria.
Já Rosa Peneda, que esperava ainda a visita dos elementos da EDP, revela maior calma. “Daqui a cinco anos? Não estarei cá certamente”, graceja a jovial senhora de 84 anos. Traquina e de sorriso fácil, acaba por admitir que “não será fácil abandondar a casa. Gosto muito disto. É natural, não é?”, pergunta.
Todos os outros habitantes dizem que sim. É natural. Até porque Vilar de Viando, junto ao Rio Cabril, é um pequeno paraíso de veraneantes. “Olhe, vêm todos para cá no Verão. Isto é muito bonito. Os miúdos atiram-se ao rio”, sorri Rosa Peneda.
Contra a Barragem
Em contra corrente, A Associação Cívica Pró-Tamega é uma das principais organizações que se batem contra a construção da Barragem de Fridão. No segundo semestre de 2010, a associação interpôs uma acção popular no Tribunal Administrativo de Penafiel. Acredita que as consequências ao nível de segurança e efeitos ambientais não compensam. “O Instituto da Água diz que a onda de choque - que pode surgir se ocorrer algum problema grave com a barragem - pode chegar a Amarante em 13 minutos e submergir tudo. Em 13 minutos não há hipótese de evacuar a zona toda. Irá submergir a igreja, o convento, a ponte e toda a zona histórica de Amarante”, explica Luís Van Zeller, presidente da associação.
O engenheiro agrónomo, que também presidiu à comissão de acompanhamento ao projecto da barragem criada no seio da Assembléia Municipal, critica ainda a EDP por querer construir uma barragem num local atravessado por uma falha geotectónica.
A Pró-Tâmega espera evitar a construção da barragem com a acção em tribunal e diz estar disponível para ir até às últimas consequências. “A declaração de impacto ambiental aponta várias lacunas. A paisagem vai ficar descaracterizada. Uma indemnização não paga tudo”, acusa Van Zeller.
A EDP contratou uma equipa de técnicos do Instituto Superior de Trabalho e Empresa para realizar um estudo sócio-económico da população. “No domingo vieram ver a minha casa, fizeram-me perguntas e disseram-me que vou ter de sair daqui. Lá se vão as nossas vidas, as casas e as memórias. Há dois meses gastei aqui muito dinheiro”, chora. Maria, proprietária de três casas mesmo na encosta do Rio Cabril, junto à Ponte Medieval, lamenta o investimento que fez na recuperação das casas. “Tenho um terreno lá mais a cima, mas mal dá para construir uma casinha. Não sei como vai ser”, afirma, olhando o velho moinho de água que irá perder.
Em Vilar de Viando, a Barragem de Cabril, que deverá estar em funcionamento em 2015, irá afectar a Ponte Medieval, a Capela do Senhora da Ponte e uma outra ponte que data do Estado Novo. Apenas os dois primeiros equipamentos serão desmontados e transladados para outro local, ainda por definir. No total dos cinco municípios afectados com a construção da albufeira da barragem, contam-se 56 habitações que terão de ser abandonadas.
“Isto não vai ficar tudo debaixo de água, mas ficará sem acessos, por isso não podemos cá ficar. Podiam ter avisado, só soubemos pelo padre. Valha-me Deus”, exorta. Mais acima, no caminho da ponte que não deverá sobreviver à barragem, Diogo Tapada cruza o Rio Cabril com o saco dos livros. “Vieram cá uns psicólogos no domingo falar connosco. Explicaram-nos tudo, mas não estavam cá osmeus pais”, conta Diogo, de 17 anos. O jovem admite ainda a tristeza de ter de abandonar o local onde cresceu. “Nasci aqui. É uma grande perda, claro. Estou habituado a este sitio. Vilar de Viando parece uma aldeia perdida no tempo, das que ainda têm placas de acesso a vilas e cidades que apontam para estradas de terra batida pelas fortes chuvas do Inverno rigoroso.
Marlene Mota, 30 anos, assoma-se à porta de uma das habitações de Maria Carvalho. A arrendatária, que cuida do filho, lamenta o infortúnio do destino. “Perdemos tanto tempo à procura desta casa e agora vamos perde-la. Trabalhamos em Mondim. Não é fácil encontrar aqui uma casa para alugar. Vieram falar connosco no domingo, mas não sabem se nos podem ajudar financeiramente porque nós só somos arrendatários”, explica.
Indemnizações
Convencidos que não há outro remédio, os habitantes reclamam agora indemnizações suficientes. “Gastei aqui muito dinheirinho. Têm de me dar o suficiente para eu refazer a minha vida. Já viu? Refazer a vida aos 67 anos. Nem quero pensar”, declina Maria.
Já Rosa Peneda, que esperava ainda a visita dos elementos da EDP, revela maior calma. “Daqui a cinco anos? Não estarei cá certamente”, graceja a jovial senhora de 84 anos. Traquina e de sorriso fácil, acaba por admitir que “não será fácil abandondar a casa. Gosto muito disto. É natural, não é?”, pergunta.
Todos os outros habitantes dizem que sim. É natural. Até porque Vilar de Viando, junto ao Rio Cabril, é um pequeno paraíso de veraneantes. “Olhe, vêm todos para cá no Verão. Isto é muito bonito. Os miúdos atiram-se ao rio”, sorri Rosa Peneda.
Contra a Barragem
Em contra corrente, A Associação Cívica Pró-Tamega é uma das principais organizações que se batem contra a construção da Barragem de Fridão. No segundo semestre de 2010, a associação interpôs uma acção popular no Tribunal Administrativo de Penafiel. Acredita que as consequências ao nível de segurança e efeitos ambientais não compensam. “O Instituto da Água diz que a onda de choque - que pode surgir se ocorrer algum problema grave com a barragem - pode chegar a Amarante em 13 minutos e submergir tudo. Em 13 minutos não há hipótese de evacuar a zona toda. Irá submergir a igreja, o convento, a ponte e toda a zona histórica de Amarante”, explica Luís Van Zeller, presidente da associação.
O engenheiro agrónomo, que também presidiu à comissão de acompanhamento ao projecto da barragem criada no seio da Assembléia Municipal, critica ainda a EDP por querer construir uma barragem num local atravessado por uma falha geotectónica.
A Pró-Tâmega espera evitar a construção da barragem com a acção em tribunal e diz estar disponível para ir até às últimas consequências. “A declaração de impacto ambiental aponta várias lacunas. A paisagem vai ficar descaracterizada. Uma indemnização não paga tudo”, acusa Van Zeller.
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Pedro Sales Dias e António Rilo, in Grande Porto, N.º 83, Ano II (p. 1, 10 e 11) - 28 de Janeiro de 2011
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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Regiões TV: O Tâmega e a Cidadania
Regiões TV (RTV)
O Tâmega e a Cidadania
«Blogs & Companhia», um programa de José Ferraz-Alves com emissão nos seguintes dias: 4.ª feira (26Jan) 22h, 5.ª feira (27Jan) 14h30; 6.ª feira (28Jan) 20h30 e domingo (30Jan) às 11h.
Ver em http://www.rtv.com.pt/www/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=35&Itemid=18
O canal encontra-se disponível na ZON TV (posição 88) e na Cabovisão (posição 14).
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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Rio Tâmega (de Chaves a Marco de Canaveses)
Rio Tâmega (de Chaves a Marco de Canaveses)
Com Amarante e o Tâmega no coração de «Blogs & Companhia»
Blogs e Companhia_PGM_07 from Rtv on Vimeo - 26 de Janeiro de 2011
Programa Nacional de Barragens: Um atentado às políticas energética, social e económica
Progama Nacional de Barragens
Um atentado às políticas energética, social e económica
Há século e meio que em Portugal as políticas de obras públicas megalómanas têm sido entendidas como paradigma de desenvolvimento. No sector energético, apesar das belas intenções pela eficiência energética, o esforço é dirigido para os empreendimentos caros e de eficácia duvidosa: barragens, carro eléctrico, micro-geração, TGV, com investimentos previstos na próxima década orçando em dezenas de milhar de milhões de euros – o investimento do Estado em eficiência energética mal chegará a 150 M€ no mesmo horizonte.
Há século e meio que em Portugal as políticas de obras públicas megalómanas têm sido entendidas como paradigma de desenvolvimento. No sector energético, apesar das belas intenções pela eficiência energética, o esforço é dirigido para os empreendimentos caros e de eficácia duvidosa: barragens, carro eléctrico, micro-geração, TGV, com investimentos previstos na próxima década orçando em dezenas de milhar de milhões de euros – o investimento do Estado em eficiência energética mal chegará a 150 M€ no mesmo horizonte.
Os defensores do Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) tentam adquirir uma patina de respeitabilidade invocando motivações ambientais.
Alegadamente, estes empreendimentos agressivamente promovidos pelo Governo e pelas grandes empresas eléctricas (EDP, Iberdrola e, em menor escala, Endesa) destinam-se a reduzir a dependência energética, diminuir a emissão de gases de efeito de estufa e permitir armazenagem de energia eólica recorrendo à bombagem. Objectivos meritórios, mas infelizmente falsos.
As motivações ambientais seriam para rir se não fossem para chorar. As 9 grandes barragens recentemente aprovadas (7 do PNBEPH mais Baixo Sabor e Ribeiradio) são verdadeiros crimes ambientais, preparando-se para destruir as paisagens maravilhosas e habitats raros dos últimos grandes rios selvagens de Portugal. Será também destruída a identidade, a cultura e os meios de desenvolvimento local, de que a condenada linha do Tua é um exemplo desolador. O emprego gerado nas grandes barragens é na ordem de 2 a 10 vezes inferior, por euro investido, a alternativas como o turismo rural, a requalificação urbana ou a eficiência energética.
Em termos energéticos, estas 9 barragens representarão apenas 1% do consumo de energia do país, gerando 2 TWh/ano de electricidade. O investimento requerido será oficialmente de 3 600 M€.
Somando a isto os lucros das grandes eléctricas e os encargos financeiros, os cidadãos portugueses irão pagar pelo menos o dobro, durante décadas, na tarifa ou nos impostos – uma dívida brutal sobre os nossos filhos e netos (as concessões vão até 75 anos).
A mesma quantidade de energia poderia ser poupada com investimentos na ordem de 360 M€ (10 vezes menores), em medidas de eficiência energética com retorno até 3 anos, com enorme potencial de receitas para as famílias e para as pequenas empresas de gestão da energia e de requalificação urbana; e com muito mais eficácia na redução da dependência externa e de emissões de GEE.
Quanto à bombagem hidroeléctrica, o PNBEPH diz que precisamos idealmente de 2000 MW. Ora, entre os sistemas já funcionais e os projectos em curso, só em barragens já existentes, teremos a curto prazo 2507 MW instalados.
Não se vislumbram objectivos ambientais ou sociais para a febre das barragens: apenas o favorecimento das grandes empresas eléctricas e construtoras, e a captação de receitas extraordinárias para o orçamento de Estado, atirando com os custos para as gerações futuras. Já passámos a fase de vender os anéis – agora querem mesmo cortar-nos os dedos.
João Joanaz de Melo, in Indústria e Ambiente, N.º 66 (p. 56) - Janeiro-Fevereiro 2011
Alegadamente, estes empreendimentos agressivamente promovidos pelo Governo e pelas grandes empresas eléctricas (EDP, Iberdrola e, em menor escala, Endesa) destinam-se a reduzir a dependência energética, diminuir a emissão de gases de efeito de estufa e permitir armazenagem de energia eólica recorrendo à bombagem. Objectivos meritórios, mas infelizmente falsos.
As motivações ambientais seriam para rir se não fossem para chorar. As 9 grandes barragens recentemente aprovadas (7 do PNBEPH mais Baixo Sabor e Ribeiradio) são verdadeiros crimes ambientais, preparando-se para destruir as paisagens maravilhosas e habitats raros dos últimos grandes rios selvagens de Portugal. Será também destruída a identidade, a cultura e os meios de desenvolvimento local, de que a condenada linha do Tua é um exemplo desolador. O emprego gerado nas grandes barragens é na ordem de 2 a 10 vezes inferior, por euro investido, a alternativas como o turismo rural, a requalificação urbana ou a eficiência energética.
Em termos energéticos, estas 9 barragens representarão apenas 1% do consumo de energia do país, gerando 2 TWh/ano de electricidade. O investimento requerido será oficialmente de 3 600 M€.
Somando a isto os lucros das grandes eléctricas e os encargos financeiros, os cidadãos portugueses irão pagar pelo menos o dobro, durante décadas, na tarifa ou nos impostos – uma dívida brutal sobre os nossos filhos e netos (as concessões vão até 75 anos).
A mesma quantidade de energia poderia ser poupada com investimentos na ordem de 360 M€ (10 vezes menores), em medidas de eficiência energética com retorno até 3 anos, com enorme potencial de receitas para as famílias e para as pequenas empresas de gestão da energia e de requalificação urbana; e com muito mais eficácia na redução da dependência externa e de emissões de GEE.
Quanto à bombagem hidroeléctrica, o PNBEPH diz que precisamos idealmente de 2000 MW. Ora, entre os sistemas já funcionais e os projectos em curso, só em barragens já existentes, teremos a curto prazo 2507 MW instalados.
Não se vislumbram objectivos ambientais ou sociais para a febre das barragens: apenas o favorecimento das grandes empresas eléctricas e construtoras, e a captação de receitas extraordinárias para o orçamento de Estado, atirando com os custos para as gerações futuras. Já passámos a fase de vender os anéis – agora querem mesmo cortar-nos os dedos.
João Joanaz de Melo, in Indústria e Ambiente, N.º 66 (p. 56) - Janeiro-Fevereiro 2011
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sábado, 22 de janeiro de 2011
Ambiente - Ministério em mau estado: Auditoria revela falhas e atrasos na política de gestão da água
Ambiente - Ministério em mau estado
Auditoria revela falhas e atrasos na política de gestão da água
Auditoria revela falhas e atrasos na política de gestão da água
Ministério não se pronunciou
Tribunal de Contas aponta baixa execução orçamental e problemas nos contratos, e diz que alguns organismos do Ministério do Ambiente não têm capacidade técnica
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Baixa execução orçamental, excesso de adjudicações directas, falta de capacidade técnica, incumprimento de normas legais. Tudo isto consta de uma auditoria do Tribunal de Contas à actuação do Estado nas políticas de gestão da água.
Com base em dados de 2009, o tribunal alerta para as "execuções materiais muito baixas ou nulas" dos projectos a cargo das administrações de região hidrográfica (ARH), constituídas em 2008. Dos 46 projectos previstos nesse ano para a gestão e ordenamento das bacias hidrográficas e zonas costeiras, apenas 17 saíram do papel. A taxa de execução financeira ficou-se pelos 17 por cento.
Em particular, a elaboração dos planos de gestão para as bacias hidrográficas de cada região - cuja conclusão era exigida por uma directiva europeia para o final de 2009 - teve fraco andamento. Hoje, ainda estão em elaboração, nas diversas ARH.
O Instituto da Água (Inag), em alegações enviadas ao Tribunal de Contas, reconheceu os atrasos, dizendo que se devem à tardia constituição das próprias ARH.
Ao Tribunal de Contas chamou a atenção o excesso de contratos com adjudicação directa. Foi a forma escolhida em 150 das 157 aquisições de bens e serviços das ARH. Em grande parte dos casos, foi consultada uma única empresa. Segundo o relatório da auditoria, divulgado anteontem, "81 por cento da despesa com a aquisição de bens e serviços foram efectuados sem que os contratos fossem submetidos a concorrência".
Algumas ARH atribuíram a necessidade das adjudicações directas com consulta única à "celeridade pretendida", a "razões de ordem curricular e de conhecimento e confiança no trabalho" ou à "escassez de recursos humanos".
O Tribunal de Contas identificou ainda várias lacunas nas contratações, tais como ausência de fundamentação e análise dos custos, falta de prestação de cauções, não publicação em jornais oficiais ou deficiente monitorização da execução material dos contratos.
Das respostas obtidas durante a auditoria, o relatório conclui que "as ARH não dispõem de dimensão e pessoal técnico com as necessárias qualificações técnicas que lhes permitam exercer de forma autónoma as suas competências".
Bons índices de qualidade
A auditoria aponta também para o atraso na regulamentação das tarifas da água, que deveriam já reflectir os seus custos reais - tal como exige a directiva-quadro europeia para a água. Tal política de preços deveria estar em vigor já no ano passado. Mesmo na ausência de regulamentação, porém, muitos municípios estão a seguir as recomendações da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) para o cálculo de tarifas realistas - segundo alegou este organismo e também o Inag, nas respostas ao Tribunal de Contas.
Do lado positivo, o Tribunal de Contas reconhece os "muito bons índices de qualidade da água distribuída para consumo" e a elevada taxa de cobertura do abastecimento de água (94 por cento), próxima da meta a que o país se comprometeu até 2013 (95 por cento).
Já o acesso ao saneamento está em pior situação, com 80 por cento da população servida por sistemas de drenagem e 71 por cento com tratamento efectivo de esgotos. A meta é 90 por cento. O PÚBLICO contactou o Ministério do Ambiente ontem à tarde, para um comentário à auditoria, mas não obteve resposta até às 19h30.
No próprio processo de auditoria, o Tribunal de Contas procurou ouvir as diferentes entidades envolvidas. Três ARH - do Norte, do Alentejo e do Algarve - e a própria ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, não apresentaram alegações.
Ricardo Garcia, in Público, N.º 7595, Ano XXI (p. 8) - 22 de Janeiro de 2011
Público - Sobe e Desce: Dulce Pássaro a descer
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Montalegre - Sócrates garante que municípios com empreendimentos ficarão com o imposto: Barragens dão direito a derrama
Montalegre - Sócrates garante que municípios com empreendimentos ficarão com o imposto
Barragens dão direito a derrama
Na inauguração do novo parque eólico de Montalegre, vento foi o que não faltou. Mas foi ao falar de barragens que Sócrates arrancou aplausos. Prometeu que a EDP passará a pagar derrama nos concelhos produtores e não onde tem a sede.
A garantia de Sócrates surgiu em resposta ao apelo feito pelo presidente da Câmara de Montalegre, Fernando Rodrigues. O autarca luta há anos por essa alteração legislativa. Ontem, mais uma vez, disse-o ao primeiro-ministro. "Peço-lhe penhoradamente que acabe com esta injustiça. Acabe com o decreto-lei que impede que a derrama [imposto local] fique nas regiões e vá parar ao Porto ou a Lisboa", pediu o autarca, afirmando que só essa alteração poderá atenuar o empobrecimento que trouxeram as cinco barragens construídas no concelho.
A meio do discurso que proferiu na tenda montada em plena serra, a 1200 metros de altitude, e com o vento quase ciclónico, Sócrates respondeu ao autarca. "Tem toda a razão. Nós vamos fazer isso. Não é possível manter a situação de ter barragens nos concelhos que depois pagam os impostos em Lisboa. A EDP já tem uma proposta e nós concordamos com ela. O que vamos fazer é que essas empresas paguem a derrama onde operam as suas barragens. Isso é absolutamente justo", disse Sócrates. Foi aplaudido pelos autarcas que se encontravam na cerimónia.
De resto, o primeiro-ministro passou grande parte do discurso a defender a importância na aposta das energias renováveis para a "redução" da dependência do país em relação ao petróleo, para a criação de emprego e para o ambiente. E a elogiar a opção.
"A reforma portuguesa da área energética foi uma das reformas mais bem conseguidas em todo o mundo num curto espaço de tempo", disse Sócrates, lembrando que, em 2010, 53 por cento da energia consumida em Portugal resultou se fontes renováveis.
Citando um relatório recente da Direcção-Geral de Energia, o ministro da presidência, Silva Pereira, revelou que o distrito de Vila Real já é o quinto a nível do país em produção de energias renováveis e o quarto em termos de produção eólica e hídrica.
Margarida Luzio, in Jornal de Notícias, N.º 235, Ano 123 (p. 24) - 22 de Janeiro de 2011
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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Mondim de Basto - Barragem de Fridão: EDP estará já a proceder ao desmantelamento da “Capela do Senhor da Ponte”
Mondim de Basto - Barragem de Fridão
EDP estará já a proceder ao desmantelamento da “Capela do Senhor da Ponte”
EDP estará já a proceder ao desmantelamento da “Capela do Senhor da Ponte”
"Capela do Senhor" - Mondim de Basto
De acordo com José Emanuel Queirós do “Movimento de Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega”, “Sobre as memórias das populações que dão a vida aos concelhos do Tâmega, com as Câmaras Municipais rendidas aos interesses das eléctricas, no mesmo dia (12 de Janeiro) em que a EDP foi à Casa de todos os mondinenses para mais um acto de instrumentalização do Município e de condicionamento da população, começou o desmantelamento da «Capela do Senhor», sita no lugar do Montão, freguesia de Mondim de Basto.
Atentando contra a população para venda compulsiva do seu património, a EDP atenta contra o património dos mondinenses e de todos, dado tratar-se de uma peça singular da arquitectura classificada de «Imóvel de Interesse Público», pelo Decreto n.º 42007, de 6 de Dezembro de 1958”.
Segundo a mesma fonte, “esta operação da EDP estará a ser efectuada, sem o dever de cumprimento das formalidades legais do Estado (Recap) e a coberto das Câmaras Municipais”. Trata-se de mais uma etapa no processo de preparação das margens do Tâmega, que dentro de cinco anos acolherá a Barragem do Fridão, uma albufeira que será construída a montante da cidade de Amarante e cujo caudal submergirá para sempre grande parte do valioso património paisagístico e edificado do Tâmega, com impactos significativos ao nível dos concelhos de Mondim de Basto, Celorico de Basto e Cabeceiras.
in O Basto - 21 de Janeiro de 2011
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Tâmega - Mondim de Basto: Em preparação o desmantelamento de duas preciosidades da arquitectura
Tâmega - Mondim de Basto Em preparação o desmantelamento de duas preciosidades da arquitectura A coberto das Câmaras Municipais da região o garimpo da EDP no Tâmega está a ser preparado para Mondim de Basto, visando a breve trexo o desmantelamento da «Capela do Senhor» da Ponte e da ponte românica do rio Cabril (Montão - Mondim de Basto). Esta informação é recebida no Tâmega como uma agressão ao património de todos que leva uma parte substancial do passado colectivo feito memória viva presente no território. Nesta sofreguidão sem limites com as terras subservindo interesses estranhos e invasores, preparam terrenos para que fiquemos sem o rio Tâmega que sempre tivemos, livre em seu leito de vida, ligando sem encargos terras e homens desde a Galiza ao Douro. Sobre as memórias das nossas populações que dão a vida aos concelhos do Tâmega, com as câmaras municipais rendidas aos interesses das eléctricas, no dia 12 de Janeiro de 2011, a EDP foi à Casa de todos os mondinenses prestando mais um acto de instrumentalização do Município e de condicionamento da população. Preparando o cenário para a inevitabilidade da população perder em definitivo seus bens patrimoniais, a EDP e seus homens de mão procuram influenciar os locais para a sua venda compulsiva a fim de evitar o ónus público do acto terceiro-mundista. Entretanto, a EDP com a Câmara Municipal, preparam o desmantelamento e a trasladação da «Capela do Senhor» da Ponte, sita no lugar de Montão, freguesia de Mondim de Basto e da ponte românica do rio Cabril, atentando contra o património de todos, dado tratarem-se de duas peças singulares da arquitectura portuguesa, a capela de estilo barroco possui um retábulo de pedra pintado, tecto de madeira com pinturas "rocaille" e imagem de Cristo em pedra, classificada de «Imóvel de Interesse Público» pelo Decreto n.º 42007, de 6 de Dezembro de 1958. José Emanuel Queirós - 17 de Janeiro de 2011 Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega (Amarante) |
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domingo, 9 de janeiro de 2011
SEMINÁRIO "ÁGUA E PARTICIPAÇÃO": GESTÃO PARTICIPADA DA ÁGUA: OBSTÁCULOS, DESAFIOS E POTENCIAL
SEMINÁRIO "ÁGUA E PARTICIPAÇÃO"GESTÃO PARTICIPADA DA ÁGUA: OBSTÁCULOS, DESAFIOS E POTENCIAL
Local: ICS, Lisboa (sala 3)
Data: 18 de Janeiro
Horário: 10h – 12.30h ; 14h-17.00h
Organização: ICS/UL; SOCIUS/ISEG-UTL; Sub-rede lusófona/ParticipationWater.net
A entrada é livre mas agradece-se confirmação de presença [Maria Margarida Bernardo]
Sessão da manhã (10-12.30)
Luisa Schmidt (ICS-UL): Água – cultura, comunicação e processos participativos
Marcia Rios (U.F. Campina Grande - Brasil e ICS-UL ): Participação e descentralização na gestão de recursos hídricos no Brasil: o Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Norte
Lia Vasconcelos (IMAR - FCT/UNL): Governância e participação: uma resposta à tecnocracia?
Nuno Videira e Rui Ferreira Santos (CENSE, UNL): Modelação participada na gestão de bacias hidrográficas
Sessão da tarde (14-17.00)
Sofia Bento (SOCIUS/ISEG-UTL), Marta Varanda (ICS-UL), Luís Correia, Luisa Schmidt (ICS-UL): A participação em reflexão prospectiva sobre a gestão de água subterrânea em contexto de mudanças climáticas: a experiência AQUIMED
Pedro Teiga (FEUP): Projecto Rios uma ferramenta de participação pública, monitorização e reabilitação fluvial
Irene Iniesta (U. Autonoma Madrid e U. Almeria): Servicios de los ecosistemas y bienestar humano en dos cuencas hidrográficas del sureste semiárido andaluz: una aproximación socio-ecológica"
Luís Ribeiro (IST-UTL): Água e bem-estar nos meios rurais dos países ibero-americanos
Edmilson Teixeira (LabGest/UFES & ParticipationWater.Net): Projeto Sossego: Laboratório Vivo em Suporte à Autogestão Comunitária de Microbacia Hidrográfica em Prol do Desenvolvimento Sustentável Regional
____________________
Maria Margarida Bernardo
Assessoria de Comunicação/ Communication - Events
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9, 1600-189 LISBOA
Tel: 351-21-7804700 Fax: 351-21-7940274
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (http://www.ics.ul.pt) - Janeiro de 2011
Local: ICS, Lisboa (sala 3)
Data: 18 de Janeiro
Horário: 10h – 12.30h ; 14h-17.00h
Organização: ICS/UL; SOCIUS/ISEG-UTL; Sub-rede lusófona/ParticipationWater.net
A entrada é livre mas agradece-se confirmação de presença [Maria Margarida Bernardo]
Sessão da manhã (10-12.30)
Luisa Schmidt (ICS-UL): Água – cultura, comunicação e processos participativos
Marcia Rios (U.F. Campina Grande - Brasil e ICS-UL ): Participação e descentralização na gestão de recursos hídricos no Brasil: o Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Norte
Lia Vasconcelos (IMAR - FCT/UNL): Governância e participação: uma resposta à tecnocracia?
Nuno Videira e Rui Ferreira Santos (CENSE, UNL): Modelação participada na gestão de bacias hidrográficas
Sessão da tarde (14-17.00)
Sofia Bento (SOCIUS/ISEG-UTL), Marta Varanda (ICS-UL), Luís Correia, Luisa Schmidt (ICS-UL): A participação em reflexão prospectiva sobre a gestão de água subterrânea em contexto de mudanças climáticas: a experiência AQUIMED
Pedro Teiga (FEUP): Projecto Rios uma ferramenta de participação pública, monitorização e reabilitação fluvial
Irene Iniesta (U. Autonoma Madrid e U. Almeria): Servicios de los ecosistemas y bienestar humano en dos cuencas hidrográficas del sureste semiárido andaluz: una aproximación socio-ecológica"
Luís Ribeiro (IST-UTL): Água e bem-estar nos meios rurais dos países ibero-americanos
Edmilson Teixeira (LabGest/UFES & ParticipationWater.Net): Projeto Sossego: Laboratório Vivo em Suporte à Autogestão Comunitária de Microbacia Hidrográfica em Prol do Desenvolvimento Sustentável Regional
____________________
Maria Margarida Bernardo
Assessoria de Comunicação/ Communication - Events
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9, 1600-189 LISBOA
Tel: 351-21-7804700 Fax: 351-21-7940274
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (http://www.ics.ul.pt) - Janeiro de 2011
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Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega (MCDT)
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sábado, 8 de janeiro de 2011
Campo Aberto - Associação de Defesa do Ambiente: Visita «Por Terras do Tâmega» ameaçadas pela Barragem de Fridão
Campo Aberto - Associação de Defesa do AmbienteVisita «Por Terras do Tâmega» ameaçadas pela Barragem de Fridão
A Associação de Defesa do Ambiente - Campo Aberto realiza uma visita a Amarante, no próximo dia 29 de Janeiro de 2011, intitulada «Por Terras do Tâmega», a qual constará de uma deslocação à Casa de Pascoaes e zona rural de Fridão ameaçada pela construção da barragem projectada pela EDP.
É previsível que a parte da manhã seja passada em Gatão, na Casa de Pascoaes, considerado o maior poeta da Natureza no século XX em Portugal, a que se seguirá o almoço-piquenique em Fridão, em regime de farnel a cargo de cada participante, na quinta das Fontaínhas, no local do posto náutico do Águas Bravas Clube (ABC).
Às 14H30 será feito um percurso no local ameaçado pela construção da Barragem, com trechos a pé na zona rural de Fridão que poderá vir a ficar submersa, prevendo-se que o regresso ao Porto seja por volta das 17H30.
Colabora na realização desta visita a Associação Cívica Pró-Tâmega, que se tem vigorosamente oposto à construção da barragem.
Às 14H30 será feito um percurso no local ameaçado pela construção da Barragem, com trechos a pé na zona rural de Fridão que poderá vir a ficar submersa, prevendo-se que o regresso ao Porto seja por volta das 17H30.
Colabora na realização desta visita a Associação Cívica Pró-Tâmega, que se tem vigorosamente oposto à construção da barragem.
Inscrições até 19 de Janeiro, preço: €16,00 para sócios, €18,00 para não sócios
Veja informações completas no site em http://www.campoaberto.pt/2011/01/06/por-terras-do-tamega-casa-de-pascoaes-fridao-amarante/
Veja informações completas no site em http://www.campoaberto.pt/2011/01/06/por-terras-do-tamega-casa-de-pascoaes-fridao-amarante/
Inscrições, o mais tardar, até 19 de Janeiro de 2011, em http://www.campoaberto.pt/contacte-nos/inscricoes-1/
CONTACTOS:contacto@campoaberto.pt
Anabela Gonçalves 93 652 27 49
Esmeralda Coelho 96 452 02 05
in Campo Aberto - Associação de Defesa do Ambiente (http://www.campoaberto.pt) - Janeiro de 2011
Anabela Gonçalves 93 652 27 49
Esmeralda Coelho 96 452 02 05
in Campo Aberto - Associação de Defesa do Ambiente (http://www.campoaberto.pt) - Janeiro de 2011
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Testemunho: O rio Tâmega visto por Luís van Zeller Macedo
TestemunhoO rio Tâmega visto por Luís van Zeller de Macedo
Para mim falar do rio Tâmega ou simplesmente do rio, é fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil pela relação intimista que sempre mantive com ele. Difícil pela quantidade de vivências que a ele me ligam e pela dificuldade de escolha que isso comporta. Mas comecêmos pelo princípio.
Nasci numa casa da Rua Cândido dos Reis, bem no centro de Amarante, no ano de 1946. Esta zona da então vila de Amarante estava situada na margem direita do Tâmega e das traseiras da casa onde vim ao mundo via-se o rio a banhar o Parque Florestal e os remoinhos do açude dos Morleiros. Sem me ter apercebido cedo comecei a respirar o ar que emana do vale que ladeia o rio.
A primeira agua que bebi foi, estou certo, oriunda dessa fonte inesgotável de vida. O primeiro banho não poderia deixar de ser com a agua purificadora desse manancial. Amarante, na época, já possuía captação de água a partir do rio e a, então, Vila dispunha, pelo menos em parte, de distribuição pública deste bem fundamental. Sinal da evolução dos tempos.
De lá para cá pouco mudou, apesar de terem passado mais de seis décadas, o que não será nada em termos históricos mas muito face a evolução tecnológica que atravessamos durante este período.
Para mim Amarante, e digo-o com mágoa, não soube aproveitar os benefícios da ciência aplicada à melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes. Muito por culpa daqueles que dirigiram os seus destinos, sobretudo ao longo das últimas décadas e que um dia, estou certo, serão julgados negativamente pela história. Mas voltemos ao assunto. O rio, esse maravilhoso rio com que a natureza brindou nossa terra.
Meu pai a quem devo em grande parte esta paixão pelo rio, desde cedo nos incutiu respeito por ele. Na sua opinião a única maneira de lidarmos com ele era respeitá-lo. E isso implicava naturalmente conhecê-lo. Como se tratava de um meio liquido, adverso aos humanos, a única forma era aprender a nadar. Foi isso que meu pai fez comigo e com os meus irmãos. Como meu pai era médico e tinha o tempo muito ocupado procurou dentro do círculo de amigos, que também eram do rio, que nos pusessem aptos a lidar com o meio líquido. Outra preocupação dele era que o contacto com as águas se fizesse em zona não poluída do rio. Ao contrário da captação de água, o saneamento não existia nesse tempo e portanto era necessário fugir das zonas mais afectadas que eram naturalmente as mais próximas da então Vila.
Os primeiros sítios do rio para onde me lembro de nos levarem era para o Borralheiro, um pouco abaixo da confluência do rio Olo com o Tâmega. Seguíamos pela estrada marginal ao rio em direcção a Fridão e antes da ponte do Borralheiro saíamos e descíamos a pé por uma vereda até à margem. Aí atravessavamos numa barca para a outra margem, do lado de Gatão. Lembro-me de muitos anos depois o barqueiro que era caseiro da Casa de Meios, nessa freguesia, me dizer que me tinha tirado muitas vezes da barca para me por em terra. Certo é que na margem direita havia mais areia,como aliás ainda hoje acontece, resultado do assoreamento natural provocado pelo rio Olo. Aí tínhamos ‘mais pé’, como se dizia na gíria, e assim podíamos treinar mais facilmente a natação. Meu pai levava os filhos ao fim-de-semana que era quando estava um pouco mais disponível. Estando na margem direita, do lado de Gatão, subíamos um pouco pela margem direita acima até a umas ilhotas que ainda hoje lá se encontram onde meu pai nos dizia que havia mexilhões e que eu me lembro de apanhar metendo a mão por debaixo das rochas. Sabemos agora que ainda lá continuam a existir, sinal de que está zona do rio felizmente ainda não estar poluída.
Com a construção das previstas barragens de Fridão todo este ecossistema será destruído. É óbvio que quem tomou esta decisão no gabinete nunca teve esta vivência de infância que eu e centenas senão milhares de jovens amarantinos tiveram. Sorte a nossa e desgraça a deles, para desgraça nossa e proveito deles. Ironias do destino. Mas voltemos à aprendizagem no rio.
Numa fase posterior, meu pai resolveu mandar-nos com uma funcionária sua, chamada Aurora,e que felizmente ainda se encontra entre nós, para a zona da captação das águas da câmara, também conhecida por poços, e que a partir daí ficou a ser conhecida por praia Aurora. Aí meu pai estava seguro de que havia vigilância dado que o responssável pela captação, um dos ‘Cercas’ (o Quim), de uma família conhecida pela sua ligação ao rio e que eram grandes nadadores, estar sempre por perto. Nessa famosa praia tínhamos todo um mundo ao nosso dispor e era só dar largas à fantasia. Tanto éramos piratas como descobridores de novas ilhas. Cada penedo, cada ilhota, numa qualquer reentrância do rio, era uma nova descoberta. Um mundo que, diariamente, durante as férias grandes se nos abria.
Essa praia cresceu, chegou a ter foros de celebridade. Nela se juntava uma multidão durante os meses de Verão, de naturais a forasteiros. Os mergulhos no chamado pontilhão sucediam-se a um ritmo alucinante. Daí nadava-se até ao "penedinho" de que se adivinhava a localização apesar de estar sempre submerso. Depois de uma pausa seguia-se ‘em comboio’ para o "penedo Grande", na outra margem do lado da Costa Grande. Neste foi colocada a certa altura uma escada metálica para se poder subir. Do alto do "Penedo Grande", era todo um mundo que se descobria e para nós, miúdos, era como subir ao topo do mundo. Daí lançavamo-nos ao rio que nos purificava, repetindo-se a cena vezes sem conta até, exaustos mas felizes, regressarmos novamente à outra margem. De Verão, o dia terminava bem tarde, já perto da hora do jantar. Que apetite quando finalmente chegavamos a casa. Felizmente a nossa era relativamente perto, de qualquer maneira sempre a pé que era como meu pai dizia que nos fazia bem.
Saindo da Praia Aurora seguiamos junto ao, então, Parque de Campismo, para depois subirmos junto ao Tribunal, pelos "Carvalhidos", outro ícone da minha infância, até ao Terreiro das Freiras (nessa época era mesmo em terra) ou de Santa Clara, onde era e é a nossa casa, ali bem perto da torre do sino de São Gonçalo, que ouviamos constantemente (de quinze em quinze minutos) avisando-nos antecipadamente do atraso provocado pelo rio.
Esta vida descontraída durou anos enquanto estudante do Colégio de S. Gonçalo. Sendo este, na altura, junto ao rio, que víamos, aliás, olhando pelas janelas das salas de aula e para onde nos dirigíamos, mal terminavam as aulas, de Inverno para ver o rio subir e de Verão para simplesmente molharmos os pés ou ir para debaixo do Zé da Calçada pescar. Era só ir a casa num pulo buscar os apetrechos e o isco e voltar. Os deveres ficavam para mais tarde e felizmente ouve sempre tempo para tudo.
O rio e sua constante atracção nunca nos impediu de sermos bons alunos. De resto penso sinceramente que o facto de ele estar ali tão próximo sempre nos ajudou e até nos deu de alguma forma inspiração para nossa vida futura.
Mais tarde, já aluno do liceu de Vila Real (em Amarante só dispunhamos, na época, do antigo quinto ano), sempre que de Verão estava em Amarante, lá voltava ao rio acompanhado dos colegas e amigos de sempre, alguns que continuaram comigo até à faculdade em Agronomia. Amigos e colegas da "borda de água" nascidos e criados na ‘31 de Janeiro’, daqueles que durante as cheias andavam com a mobília às costa e que me lembro de nunca protestarem contra o rio. Era a sua natureza e isso eles aceitavam com naturalidade e até com um certo orgulho. ‘Subiu mais do que no ano passado’, ‘subiu menos’. Punha-se uma marca na parede, sinal de aviso e de respeito, que intimidava os forasteiros que ao mesmo tempo que as fotografavam iam debicando os doces conventuais da Lailai ou fazendo a digestão de um cabrito à Zé da Calçada. Lá pelas tardes de canícula um pouco mais abaixo ainda podiam tirar desforra com um "tinto" de pipa, na época no famoso "Avião".
Nesse tempo as aventuras de Verão já tinham mais amplitude e em grupo lá íamos rio acima da Praia Aurora até Frariz, passando em frente ao famoso e, para nós, ainda um pouco tenebroso (envolto num grande matagal) "Penedo da Rainha". Regressávamos sempre pelo rio que era a nossa estrada. Em frente à Costa Grande, na época das regas, ouviam-se os motores de captação e água a funcionar junto de um frondoso bosque de plátanos que ainda hoje existe. Na margem direita por de trás da captação das águas podiamos ver os campos de milho com belas espigas a despontar. Ouviam-se todo o tipo de aves numa sinfonia de fazer inveja aos melhores compositores.
Compreendi na altura, e hoje não tenho qualquer dúvida, de que este ambiente tenha inspirado os nossos poetas e pintores. Amarante não seria o que é se não fosse esta influência telúrica e omnipresente do Rio Tâmega. No futuro não será nada se os amarantinos se esquecerem dessa protecção, da qual o nosso padroeiro São Gonçalo soube, em boa hora, tirar partido ao construir pontes sobre o Tâmega que também o farão e ainda o são entre os homens.
Que os homens de hoje se lembrem daquilo que nos deu o "ser" e que é a única coisa que nos pode garantir o futuro.
Luís Rua van Zeller de Macedo (Amarante) - 5 de Janeiro de 2011
Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega (Amarante)
Presidente da Associação Cívica Pró-Tâmega
Para mim falar do rio Tâmega ou simplesmente do rio, é fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil pela relação intimista que sempre mantive com ele. Difícil pela quantidade de vivências que a ele me ligam e pela dificuldade de escolha que isso comporta. Mas comecêmos pelo princípio.
Nasci numa casa da Rua Cândido dos Reis, bem no centro de Amarante, no ano de 1946. Esta zona da então vila de Amarante estava situada na margem direita do Tâmega e das traseiras da casa onde vim ao mundo via-se o rio a banhar o Parque Florestal e os remoinhos do açude dos Morleiros. Sem me ter apercebido cedo comecei a respirar o ar que emana do vale que ladeia o rio.
A primeira agua que bebi foi, estou certo, oriunda dessa fonte inesgotável de vida. O primeiro banho não poderia deixar de ser com a agua purificadora desse manancial. Amarante, na época, já possuía captação de água a partir do rio e a, então, Vila dispunha, pelo menos em parte, de distribuição pública deste bem fundamental. Sinal da evolução dos tempos.
De lá para cá pouco mudou, apesar de terem passado mais de seis décadas, o que não será nada em termos históricos mas muito face a evolução tecnológica que atravessamos durante este período.
Para mim Amarante, e digo-o com mágoa, não soube aproveitar os benefícios da ciência aplicada à melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes. Muito por culpa daqueles que dirigiram os seus destinos, sobretudo ao longo das últimas décadas e que um dia, estou certo, serão julgados negativamente pela história. Mas voltemos ao assunto. O rio, esse maravilhoso rio com que a natureza brindou nossa terra.
Meu pai a quem devo em grande parte esta paixão pelo rio, desde cedo nos incutiu respeito por ele. Na sua opinião a única maneira de lidarmos com ele era respeitá-lo. E isso implicava naturalmente conhecê-lo. Como se tratava de um meio liquido, adverso aos humanos, a única forma era aprender a nadar. Foi isso que meu pai fez comigo e com os meus irmãos. Como meu pai era médico e tinha o tempo muito ocupado procurou dentro do círculo de amigos, que também eram do rio, que nos pusessem aptos a lidar com o meio líquido. Outra preocupação dele era que o contacto com as águas se fizesse em zona não poluída do rio. Ao contrário da captação de água, o saneamento não existia nesse tempo e portanto era necessário fugir das zonas mais afectadas que eram naturalmente as mais próximas da então Vila.
Os primeiros sítios do rio para onde me lembro de nos levarem era para o Borralheiro, um pouco abaixo da confluência do rio Olo com o Tâmega. Seguíamos pela estrada marginal ao rio em direcção a Fridão e antes da ponte do Borralheiro saíamos e descíamos a pé por uma vereda até à margem. Aí atravessavamos numa barca para a outra margem, do lado de Gatão. Lembro-me de muitos anos depois o barqueiro que era caseiro da Casa de Meios, nessa freguesia, me dizer que me tinha tirado muitas vezes da barca para me por em terra. Certo é que na margem direita havia mais areia,como aliás ainda hoje acontece, resultado do assoreamento natural provocado pelo rio Olo. Aí tínhamos ‘mais pé’, como se dizia na gíria, e assim podíamos treinar mais facilmente a natação. Meu pai levava os filhos ao fim-de-semana que era quando estava um pouco mais disponível. Estando na margem direita, do lado de Gatão, subíamos um pouco pela margem direita acima até a umas ilhotas que ainda hoje lá se encontram onde meu pai nos dizia que havia mexilhões e que eu me lembro de apanhar metendo a mão por debaixo das rochas. Sabemos agora que ainda lá continuam a existir, sinal de que está zona do rio felizmente ainda não estar poluída.
Com a construção das previstas barragens de Fridão todo este ecossistema será destruído. É óbvio que quem tomou esta decisão no gabinete nunca teve esta vivência de infância que eu e centenas senão milhares de jovens amarantinos tiveram. Sorte a nossa e desgraça a deles, para desgraça nossa e proveito deles. Ironias do destino. Mas voltemos à aprendizagem no rio.
Numa fase posterior, meu pai resolveu mandar-nos com uma funcionária sua, chamada Aurora,e que felizmente ainda se encontra entre nós, para a zona da captação das águas da câmara, também conhecida por poços, e que a partir daí ficou a ser conhecida por praia Aurora. Aí meu pai estava seguro de que havia vigilância dado que o responssável pela captação, um dos ‘Cercas’ (o Quim), de uma família conhecida pela sua ligação ao rio e que eram grandes nadadores, estar sempre por perto. Nessa famosa praia tínhamos todo um mundo ao nosso dispor e era só dar largas à fantasia. Tanto éramos piratas como descobridores de novas ilhas. Cada penedo, cada ilhota, numa qualquer reentrância do rio, era uma nova descoberta. Um mundo que, diariamente, durante as férias grandes se nos abria.
Essa praia cresceu, chegou a ter foros de celebridade. Nela se juntava uma multidão durante os meses de Verão, de naturais a forasteiros. Os mergulhos no chamado pontilhão sucediam-se a um ritmo alucinante. Daí nadava-se até ao "penedinho" de que se adivinhava a localização apesar de estar sempre submerso. Depois de uma pausa seguia-se ‘em comboio’ para o "penedo Grande", na outra margem do lado da Costa Grande. Neste foi colocada a certa altura uma escada metálica para se poder subir. Do alto do "Penedo Grande", era todo um mundo que se descobria e para nós, miúdos, era como subir ao topo do mundo. Daí lançavamo-nos ao rio que nos purificava, repetindo-se a cena vezes sem conta até, exaustos mas felizes, regressarmos novamente à outra margem. De Verão, o dia terminava bem tarde, já perto da hora do jantar. Que apetite quando finalmente chegavamos a casa. Felizmente a nossa era relativamente perto, de qualquer maneira sempre a pé que era como meu pai dizia que nos fazia bem.
Saindo da Praia Aurora seguiamos junto ao, então, Parque de Campismo, para depois subirmos junto ao Tribunal, pelos "Carvalhidos", outro ícone da minha infância, até ao Terreiro das Freiras (nessa época era mesmo em terra) ou de Santa Clara, onde era e é a nossa casa, ali bem perto da torre do sino de São Gonçalo, que ouviamos constantemente (de quinze em quinze minutos) avisando-nos antecipadamente do atraso provocado pelo rio.
Esta vida descontraída durou anos enquanto estudante do Colégio de S. Gonçalo. Sendo este, na altura, junto ao rio, que víamos, aliás, olhando pelas janelas das salas de aula e para onde nos dirigíamos, mal terminavam as aulas, de Inverno para ver o rio subir e de Verão para simplesmente molharmos os pés ou ir para debaixo do Zé da Calçada pescar. Era só ir a casa num pulo buscar os apetrechos e o isco e voltar. Os deveres ficavam para mais tarde e felizmente ouve sempre tempo para tudo.
O rio e sua constante atracção nunca nos impediu de sermos bons alunos. De resto penso sinceramente que o facto de ele estar ali tão próximo sempre nos ajudou e até nos deu de alguma forma inspiração para nossa vida futura.
Mais tarde, já aluno do liceu de Vila Real (em Amarante só dispunhamos, na época, do antigo quinto ano), sempre que de Verão estava em Amarante, lá voltava ao rio acompanhado dos colegas e amigos de sempre, alguns que continuaram comigo até à faculdade em Agronomia. Amigos e colegas da "borda de água" nascidos e criados na ‘31 de Janeiro’, daqueles que durante as cheias andavam com a mobília às costa e que me lembro de nunca protestarem contra o rio. Era a sua natureza e isso eles aceitavam com naturalidade e até com um certo orgulho. ‘Subiu mais do que no ano passado’, ‘subiu menos’. Punha-se uma marca na parede, sinal de aviso e de respeito, que intimidava os forasteiros que ao mesmo tempo que as fotografavam iam debicando os doces conventuais da Lailai ou fazendo a digestão de um cabrito à Zé da Calçada. Lá pelas tardes de canícula um pouco mais abaixo ainda podiam tirar desforra com um "tinto" de pipa, na época no famoso "Avião".
Nesse tempo as aventuras de Verão já tinham mais amplitude e em grupo lá íamos rio acima da Praia Aurora até Frariz, passando em frente ao famoso e, para nós, ainda um pouco tenebroso (envolto num grande matagal) "Penedo da Rainha". Regressávamos sempre pelo rio que era a nossa estrada. Em frente à Costa Grande, na época das regas, ouviam-se os motores de captação e água a funcionar junto de um frondoso bosque de plátanos que ainda hoje existe. Na margem direita por de trás da captação das águas podiamos ver os campos de milho com belas espigas a despontar. Ouviam-se todo o tipo de aves numa sinfonia de fazer inveja aos melhores compositores.
Compreendi na altura, e hoje não tenho qualquer dúvida, de que este ambiente tenha inspirado os nossos poetas e pintores. Amarante não seria o que é se não fosse esta influência telúrica e omnipresente do Rio Tâmega. No futuro não será nada se os amarantinos se esquecerem dessa protecção, da qual o nosso padroeiro São Gonçalo soube, em boa hora, tirar partido ao construir pontes sobre o Tâmega que também o farão e ainda o são entre os homens.
Que os homens de hoje se lembrem daquilo que nos deu o "ser" e que é a única coisa que nos pode garantir o futuro.
Luís Rua van Zeller de Macedo (Amarante) - 5 de Janeiro de 2011
Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega (Amarante)
Presidente da Associação Cívica Pró-Tâmega
sábado, 1 de janeiro de 2011
Votos para o Ano de 2011 - Pelo Tâmega Livre em corrente de Vida!
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