segunda-feira, 7 de março de 2011

China's dam-building will cause more problems than it solves






Under pressure to cut emissions, China risks irreversibly destroying its great rivers and biodiversity hotspots
China's dam-building will cause more problems than it solves


Floodwaters at the Xiaolandi dam during a flood-discharge and sand-washing operation of the Yellow River in Jiyuan. Photograph: Miao Qiunao/AP/Press Association Images


In 2007, China became the world's biggest emitter of greenhouse gases. Since then, not only the EU and the US, but also developing nations such as the alliance of small island states have put the government in Beijing under pressure to adopt binding emission cuts.

At the 2009 climate summit in Copenhagen, China announced that it would reduce its carbon intensity – the amount of greenhouse gas emissions per unit of economic output – by at least 40% by 2020. Achieving this ambitious goal has become an overriding political priority for the Chinese government. The draft of its new five-year plan, which will be discussed by the National People's Congress in March, includes an environmental tax and other carbon-cutting measures.

The five-year plan also includes the most relentless dam-building effort that any nation has ever undertaken in history. If approved, this program would cut off the country's nose to spite her face. It would irreversibly destroy China's great rivers and biodiversity hotspots of global importance.

China already counts more dams within its borders than any other country. It has paid a huge price for this development. Chinese dams have displaced an estimated 23 million people. Dam breaks in the country with the world's worst safety record have killed approximately 300,000 people. Scientific evidence suggests that one particular project, the Zipingpu Dam, may have triggered the devastating earthquake in Sichuan of 2008. Dams have also taken a huge toll on China's biodiversity, causing fisheries to suffer and driving charismatic species such as the Yangtze River Dolphin to extinction.

As part of its low-carbon diet, the Chinese government plans to approve new hydropower plants with a capacity of 140 gigawatts over the next five years. For comparison, Brazil, the United States and Canada have each built between 75 and 85 gigawatts of hydropower capacity in their entire history. Achieving the new plan's target would require building cascades of dams on several rivers in China's south-west and on the Tibetan plateau – regions which are populated by ethnic minorities, ecologically fragile, rich in biodiversity, and seismically active.

As a harbinger of the new trend, the Chinese government recently announced that it would allow a dam cascade on the Nu River or Salween – a pristine river at the heart of a World Heritage Site – to be built. China's premier, Wen Jiabao, had stopped these projects in 2004 as a major concession to environmentalists. The government also agreed to shrink the most important fisheries reserve on the Yangtze River so that a new hydropower scheme could go forward.

The unprecedented dam building spree is being pushed by provincial governments and state-owned energy companies, which often pursue vested interests. In the past, these actors were kept in check by a coalition of environmental activists, journalists and government officials, who often managed to gain the ear of China's top leaders. This has changed since Copenhagen. International pressure to limit greenhouse gas emissions is the single most important factor behind the huge push for hydropower in China.

Climate change is the most serious environmental threat of our generation. Yet the international community should address this threat in a holistic way, without losing sight of other challenges to the planet's future. The world is losing biodiversity at an alarming rate. Rivers, lakes and wetlands have suffered more dramatic changes than any other type of ecosystem. Because of dam building and other factors, freshwater species have on average lost half their populations between 1970 and 2000, and more than a third of all freshwater fishes are at risk of extinction.

As the head of the UN Environmental Programme warned last year, it would be arrogant to assume that humanity can survive without biodiversity. We cannot sacrifice the planet's arteries to save her lungs. China not only has a moral obligation to participate in the fight against climate change. The country has also committed to protecting its ecosystems under the Convention on Biological Diversity. It deserves respect for trying to limit greenhouse gas emissions at a per-capita level which is much lower than what industrialised nations emit. World leaders should let the government in Beijing know that they don't want China to destroy her rivers and the rich biodiversity they support to reach her ambitious carbon goals.


Peter Bosshard*, in Guardian - 4 de Março de 2011
*Peter Bosshard is the policy director of International Rivers, an international environmental and human rights organization.

* * * * *

TRADUÇÃO*

Sob pressão para “cortar” nas emissões, a China está em risco de destruir, irreversivelmente , sítios com grande biodiversidade e os grandes rios
Construção de barragens na China irá causar mais problemas do que aqueles que resolverá


Em 2007, a China tornou-se no maior emissor de gases com efeito de estufa. Desde então, não só a União Europeia e os Estados Unidos da América, mas também os países desenvolvidos como a aliança de estados-ilha, têm pressionado a China em adoptar a obrigatoriedade de reduzir as emissões.

Na cimeira do clima de Copenhaga, em 2009, a China anunciou que iria reduzir a intensidade de carbono -a quantidade de emissões de gases com efeito de estufa por unidade de produção económica- em pelo menos 40 % até 2020.

Atingir esta ambiciosa meta tornou-se numa prioridade para o governo chinês. O anteprojecto do novo plano quinquenário , que irá ser discutido em Março pelo Congresso do Povo, inclui um imposto ambiental e outras medidas para a redução da intensidade de carbono.

O plano quinquenário também inclui o mais severo esforço de construção de barragens, empreendido por uma nação, em toda a História. Se aprovado, este programa, o país irá prejudicar-se. Serão destruídos os grandes rios e sítios com uma biodiversidade com uma importância mundial.

A China possui mais barragens dentro das suas fronteiras do que qualquer outro país. Pagou um grande preço pelo seu desenvolvimento. As barragens chinesas provocaram a deslocação de cerca de 23 milhões de pessoas. Acidentes em barragens, no país com o pior registo mundial em segurança nestes empreendimentos, mataram aproximadamente 300 mil pessoas. Evidências científicas sugerem que um projecto particular, a barragem de Zipingpu, pode ter despoletado o tremor de terra em Sichuan em 2008. As barragens também eliminaram uma enorme quantidade de biodiversidade na China, provocando uma escassez piscatória e levando espécies carismáticas, como o golfinho do rio Yangtze, à extinção.

Como parte do plano de redução na intensidade de carbono, o governo chinês prevê a aprovação de empreendimentos hidroléctricos com a capacidade de produzir 140 gigawats nos próximos cinco anos. Em comparação, o Brasil, os EUA e o Canadá, construíram entre 75 a 85 gigawats, de potência hidroeléctrica, cada um em toda a sua história. Atingir os objectivos deste novo plano irá requerer a construção de barragens em vários rios do sudoeste da China e no planalto tibetano –regiões povoadas com minorias étnicas, ecologicamente frágeis, ricas em biodiversidade e sismicamente activas.

Como pronúncia de uma nova tendência , o governo chinês anunciou recentemente que irá permitir a construção de uma barragem no rio Nu ou Salween - um rio primitivo no coração de um sítio que é Património Mundial . O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, parou estes projectos em 2004 como concessão aos ambientalistas. O governo também acordou que irá encolher as reservas piscatórias no rio Yangtze para que o projecto hidroeléctrico possa avançar.

A farra sem precedentes em torno da barragem está ser impulsionada pelos governos das províncias e pelas companhias estatais de energia, que muitas vezes perseguem interesses “disfarçados”. No passado, estes actores eram vigiados por uma coligação de activistas ambientais, jornalistas e funcionários governamentais que agiam para ganhar a atenção dos principais líderes da China. Isto tem mudado desde Copenhaga. A pressão internacional para limitar a emissão de gases com efeito de estufa é o factor mais importante que está por trás do enorme impulso para a energia hídrica na China.

A mudança climática é a ameaça ambiental mais séria para a nossa geração. No entanto, a comunidade internacional deve enfrentar esta ameaça de uma forma holística, sem perder de vista outros desafios para o futuro do planeta. O Mundo está a perder biodiversidade a uma taxa alarmante. Rios, lagos e zonas húmidas têm sofrido mais mudanças dramáticas de que qualquer outro tipo de ecossistema. Por causa da construção de barragens e de outros factores, espécies de água doce perdeu em média metade das suas populações entre 1970 e 2000, e mais do que um terço das espécies de água doce estão em risco de extinção.

Como o chefe do programa ambiental da ONU avisou no ano passado, será arrogante a assumir que a humanidade conseguirá sobreviver sem biodiversidade. Não podemos sacrificar as artérias do planeta para salvar os seus pulmões. A China não tem somente a obrigação moral para participar na luta contra a mudança climática. O país está também comprometido a proteger os ecossistemas sob a Convenção em Diversidade Biológica. Merece respeito por tentar limitar as emissões de gases com efeito de estufa per-capita a um nível mais baixo do que muitos países industrializados. Os líderes mundiais devem fazer com que o governo de Pequim saiba que eles não querem que a China destrua os seus rios e a sua biodiversidade para atingir os seus objectivos ambiciosos em relação ao carbono.


* Marco Gomes - 7 de Março de 2011

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