AMBIENTE - OPINIÃO
Os sicários e a justificação da causa
Se há gente que me irrite profundamente são os ditos ecologistas, que olham para a Natureza como os fanáticos hindus olham para as vacas sagradas, sem se aterem às razões socioeconómicas que possam justificar determinados investimentos.
O Geota de Joanaz de Melo é exemplar quanto a esse tipo de misticismo peculiarmente silenciado, quando é a direita quem assume as rédeas do governo. Nesta altura ele aparece a criticar as três barragens previstas para o Alto Tâmega a pretexto de serem desnecessárias por anteverem-se excedentes na capacidade instalada de produção elétrica do país. E argumenta com a iminência de todos os telhados terem painéis solares ou mine eólicas, que dispensem esse tipo de investimentos. Como se essa realidade, ditada pela situação de emergência climática em que vivemos, se altere de um dia para o outro.
Invoca igualmente o injustificado armazenamento de recursos hídricos em albufeiras, quando todos sabemos como anda irregular a pluviosidade por todo o país, com anos de razoáveis precipitações, mas com muitos mais de seca extrema. Situações em que valerá a pena ter reservas como só as barragens facultam. A Geota é o tipo de associação que nada faz e muito quer impedir que se faça. E, no entanto, a comunicação social dá-lhes guarida sempre que imagina ter nos seus argumentos mais armas de arremesso contra o governo.
Algo semelhante passa-se em França com as polémicas em torno da estreia do mais recente filme de Roman Polanski. Nesta altura em que o antissemitismo cresce na Europa, um filme, que todos quantos o viram elogiam, quer na qualidade, quer na forma como denuncia a intolerância, uma anónima, que logo regressou à sua clandestina existência, decidiu vir cirurgicamente denunciar Polanski como seu violador há quase meio século. Reproduziu no fundo o que a tribo de Mia Farrow perpetra regularmente nas vésperas da estreia dos filmes de Woody Allen.
Foi assim que, na semana passada, grupos ditos feministas foram manifestar-se à porta dos cinemas onde o filme de Polanski se exibe, querendo boicotar as sessões e insultando quem o pretendia ver. Ficou assim exemplificada a histeria facciosa de um certo feminismo, representado pelo movimento MeToo, “Eu também”, que tem trazido à causa da igualdade dos direitos femininos bastante mais danos que benefícios.
Quer os ditos ecologistas, quer as ditas feministas, são sicários de causas, que lembram os ultraesquerdistas bolivianos, inimigos jurados de Evo Morales e por isso mesmo idiotas úteis ao serviço dos golpistas que, nesta altura, matam e ferem os que, em La Paz, Cochabamba e outras cidades, se revoltam perante a reedição de mais uma conjura da CIA contra governos de esquerda latino-americana.
Manuel Martins, in O Regional - 5 de Dezembro de 2019
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