TÂMEGA - IBERDROLA
Mais de mil sobreiros serão abatidos para
construir barragens no Tâmega
Árvores
terão de ser replantadas noutros pontos da região. Governo declarou “utilidade
pública” dos aproveitamentos hidroeléctricos de Daivões e Alto Tâmega.
PAULO PIMENTA
Mais de mil
sobreiros, dos quais cerca de 40% são exemplares adultos, vão ser
abatidos nas áreas que vão ser inundadas pela construção das barragens de
Daivões e Alto Tâmega, em Trás-os-Montes. O Governo declarou a “imprescindível
utilidade pública” dos dois empreendimentos, que serão construídos pela
eléctrica espanhola Iberdrola, viabilizando o
derrube das árvores protegidas.
De acordo com o
despacho – assinado pela secretária de Estado do Ordenamento do Território e da
Conservação da Natureza e pelo secretário de Estado das Florestas e do
Desenvolvimento Rural – que foi publicado em Diário da República nesta terça-feira, a
Iberdrola “solicitou o abate de 444 sobreiros adultos e 701 jovens”,
totalizando 1145 árvores, que se estendem por “cerca de 15,07 hectares ”.
Esta não é a
primeira vez que é autorizado o abate de sobreiros por causa dos
empreendimentos hidroeléctricos do Tâmega. No final de
2016, o Governo deu luz verde à retirada de 608 árvores em cerca de 4,6 hectares
localizados na área de construção da barragem de Gouvães.
Desta feita, o
Governo declara a “imprescindível utilidade pública dos empreendimentos” para
autorizar o abate dos exemplares de sobreiro naquelas áreas. A solução fica
condicionada “ao cumprimento de todas as exigências legais aplicáveis”,
incluindo a Declaração de Impacte Ambiental e também à execução do projecto de
compensação que já tinha sido aprovado.
O projecto de
compensação das barragens de Daivões e Alto Tâmega implica a
replantação dos sobreiros abatidos noutros pontos da região, com uma majoração
de 20%. Ou seja, a Iberdrola tem que colocar mais de 1400 destas árvores.
O Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas aprovou o projecto da eléctrica
espanhola, que passa pela arborização com sobreiro de uma área de 42,35 hectares nos
perímetros florestais das serras do Barroso e da Cabreira.
A Agência Portuguesa
do Ambiente emitiu parecer favorável ao Relatório de Conformidade Ambiental das
duas barragens. No que se refere ao corte de sobreiros, “não identificou
aspectos que obstem ao início da obra”, lê-se no diploma agora publicado em
Diário da República.
As três barragens e centrais hidroeléctricas que
a Iberdrola está a construir no rio Tâmega (Gouvães, Daivões e Alto
Tâmega) foram anunciadas como constituindo o maior empreendimento do género em
toda a Europa, e o maior de sempre na Península Ibérica: abrange os municípios
de Ribeira de Pena, Boticas, Vila Pouca de Aguiar, Chaves, Valpaços, Montalegre
e Cabeceiras de Basto, num investimento superior a 1500 milhões de euros e terá
“uma potência instalada de 1158 megawatts que representará, quando construído,
6% da potência instalada em Portugal”, segundo a empresa espanhola. Anualmente,
as três centrais deverão produzir o equivalente ao consumo de
electricidade de 440 mil famílias.
“É lamentável”, responde à agência Lusa João Branco, da Quercus, quando
questionado sobre o abate de sobreiros. João Branco diz que, desde o início, já
se “sabia que estes sobreiros teriam de ser abatidos, uma vez que ficam na área
inundada”, no entanto frisou que se trata de uma “grande perda ambiental e
económica para a região”. O ambientalista teme que o número revelado “seja uma
estimativa por baixo e que deve haver muitos mais sobreiros juvenis que não
estão a ser contabilizados”.
Refere ainda que o
“sobreiro está em franca regressão”, que está “mesmo com graves problemas de
produtividade e fitossanitários”, e que, pelo país, “há vastas áreas onde está
a morrer”.
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