Autarcas e técnicos duvidam que o equipamento venha alguma vez a ser concretizado
Instituto da Água congelou construção de barragem no Tejo na zona de Constância
Redução da cota de 31 para 24 metros torna inviável economicamente a produção de energia eléctrica. |
O Instituto da Água (INAG) congelou o processo que deveria levar à construção da Barragem do Almourol, no rio Tejo, entre Constância e Abrantes. A redução da cota da albufeira de 31 para 24 metros tornou o projecto menos apetecível a potenciais investidores e é provável que pelos menos nos anos mais próximos o assunto não saia da gaveta. Sinal disso mesmo é o facto de a barragem de Almourol ter sido retirada do pacote que envolve a construção das barragens de Fridão e Alvito, submetido a concurso público e cujas propostas foram abertas na passada semana. A EDP é a empresa melhor colocada para receber a adjudicação, mas abdicou de construir a de Almourol, cuja rentabilidade nos moldes previstos é muito duvidosa.
O processo da Barragem de Almourol nasceu torto e nunca se endireitou. Inicialmente prevista para as proximidades do castelo de Almourol, a jusante de Constância (como ainda hoje se encontra mencionado na informação mais detalhada sobre o projecto no site do INAG), depressa subiu uns cinco quilómetros rio acima, para evitar que a sua albufeira inundasse a zona baixa da vila.
Entretanto novos contratempos se anunciaram. A cota 31, inicialmente prevista, deixaria submersos os investimentos feitos na zona ribeirinha de Abrantes, onde o município investiu alguns milhões de euros. Deixaria ainda debaixo de água infraestruturas como redes de saneamento básico e estrada, bem como férteis campos de cultivo. Custos sociais e económicos que o INAG não quis assumir, tendo recuado a cota de 31 metros para 24.
As infraestruturas ficaram assim a salvo, mas colocou-se em risco o interesse económico do projecto, que não conseguiu atrair investidores.
Mário Samora, o engenheiro técnico responsável pela concepção da Barragem de Almourol nos anos oitenta, diz que o lançamento deste concurso "foi um erro de casting", classificando o Plano Nacional de Barragens (PNB) como "uma iniciativa atamancada e com projectos feitos à pressa". "O Plano Nacional de Barragens foi mal feito e o facto do Governo ter lançado inicialmente o concurso para a Barragem de Almourol à cota 31 e depois terem emendado para a cota 24 é a prova disso mesmo", afirmou.
Segundo disse, "o projecto da barragem concebida nos anos oitenta era efectivamente para construir à cota 31, mas partia de pressupostos totalmente diferentes dos que hoje existem no terreno". "Estava prevista a construção de diques para proteger as zonas inundáveis entre Abrantes e Vila Franca de Xira e, com esses diques, podia fazer-se um projecto integrado que resultaria, não só na edificação da Barragem de Almourol, como também em tornar o rio Tejo navegável".
Mário Samora revelou à Agência Lusa que "até hoje nada disso foi feito e, como tal, os pressupostos para a construção desta barragem não se verificam". Dias antes da abertura das propostas já vaticinava o desfecho: "Reduzir a cota de 31 para 24 metros torna inviável a produção de energia eléctrica e não acredito que alguém concorra, até porque acima da cota 24 afogar-se-á a base da Barragem de Castelo do Bode com a consequente diminuição da sua produção".
in O Mirante - 24 de Julho de 2008