RIO TÂMEGA - BARRAGEM DE FRIDÃO
"NÃO ESTAMOS À VENDA"
Será mais uma frase para a nossa história recente, "NÃO ESTAMOS À VENDA", dita pelo coronel Artur Freitas, contra a barragem de Fridão, na sua entrevista à RTP1, no programa "Sexta às Nove", como se fosse uma aula para uma boa lição, em estilo vivo, animado e conveniente, realçando o drama que esse famigerado empreendimento representaria para Amarante.
Há quem não se remeta à penumbra da história. E fica para a história documentada quem sempre tomou uma atitude corajosa, um ardor combativo e se empenhou contra o empreendimento da barragem de Fridão. Não há coração que agradeça.
às dificuldades, ao conformismo e ao peso da desventura, respondeu a convicção, e a ousadia em levantar a voz, indiferente à sentença, mais que certa da E.D.P. em levar em frente a construção da barragem, com a resignação do fatalismo apático de nada poder fazer.
Por detrás do tempo e das vigílias do coronel Artur Freitas, pena foi que o nosso minguado contingente de forças se resuma à Associação Pró-Tâmega, ao Bloco de Esquerda, e à Associação Ambientalista Geota.
Aqui, não posso deixar passar o contributo e o alerta, em 1995, pelo José Emanuel Queirós, no seu livrinho "A BARRAGEM DE FRIDÃO - Consequências previsíveis sobre o rio Tâmega e a cidade de Amarante", uma edição da Associação Cívica e Ecológica "OS AMIGOS DO RIO".
E escreve:
"Perante o cenário da construção anunciada da Barragem de Fridão, com a publicação deste estudo prospectivo efectuado sobre as consequências que aquele empreendimento hidro-eléctrico provocará sobre o rio Tâmega e a cidade de Amarante, Os Amigos do Rio vem abrir um precedente na consciencialização pública e na determinação dos argumentos de opinião relativos à defesa dos valores ambientais locais, regionais e nacionais em causa.Na defesa dos princípios que conduziram à constituição jurídica da associação, Os Amigos do Rio manifesta frontal oposição à construção da Barragem de Fridão, sabendo-se de antemão que por aí passará a existência sobrevivente da cidade de Amarante".
Escreve depois sobre as estratégias dos argumentos oficiais - "Ante os interesses que representa, o potentado técnico e económico que a EDP detém, qualquer discorrência contra-argumentativa correrá o risco da desvalorização racionalista da sua consistência lógica, estabelecendo um vazio de conhecimento propenso à proliferação de notícias desencontradas...". "Evitando-se a discussão pública e a revelação das fragilidades ou prejuízos que a Barragem de Fridão potencialmente gerará sobre a região, ignorando as consequências ao nível de cada um dos diversos factores tomados em ponderação, (...) perdidas em questões acessórias". "O argumento de regularização do rio Tâmega quando usado para justificar a construção da Barragem de Fridão tem por destinatário preferencial a população local, mas terá por beneficiário directo a E.D.P., pelo seu conhecido interesse em manter o funcionamento rendível regular das suas próprias barragens...".
Das "Consequências previsíveis no Sistema «Tâmega» resultantes da conjugação dos factores de ponderação", "A transformação do vale", "A nova situação para a cidade", "As mudanças comportamentais do rio", "A exposição da cidade à imprevisibilidade geodinâmica", "Neste contexto a Barragem de Fridão configurará uma guilhotina colectiva suspensa sobre Amarante, exposta à imprevisibilidade comportamental da geodinâmica interna geradora de algum fenómeno ocasional de causas naturais, considerado à priori de ocorrência impossível ou de considerada escassa probabilidade estatística".
Um livrinho a reler pela sua actualidade.
Ainda bem que melhores mãos que as nossas têm a vontade de dar continuidade em terminar de vez com a ambição de poder, de quem tudo pode, como é a EDP, e prosseguem na actualidade, indiferentes ao nosso desleixo e fraqueza, contra o soberano descaramento e desprezo pelo que mais prezamos: um rio livre, um património histórico e único, a nossa mais legítima riqueza, que corre mundo em milhões de fotos, e bem gostaríamos que quem goza do conforto dos seus escritórios, e tem bónus especiais, (numa empresa monopolista até eu atingia os objectivos), soubesse que a paciência humana, como tudo, tem um termo.
Agora que o Governo cancelou a construção da barragem de Fridão, assalta-nos a dúvida na agonia de uma crise, ou a paralisia na frouxidão ou o desacerto que se poderá tornar num verdadeiro caos futuro, quando se sabe da estampa da obra que está em causa, e que parece ficar escondida nas sombras do mistério e da dúvida.
Claro que ainda não está dita a última palavra, por parte da EDP ``a garantia feia pelo Governo, mesmo quando o Primeiro-Ministro, no debate parlamentar colocando a mão sobre o peito, afirmou a sua não construção.
Gostaria de escrever que temos muitos meios para vencer, que não nos resignamos, mas quem é que longe sabe o que é amar este rio, esta terra, que nem sabemos explicar, com tanta história, destacada da tinta comum, de costumes e imagens, e sobre este quadro, a sua própria simplicidade, com que ainda nos convida enquanto é tempo, assistir, viver, viver, e sentir o que ainda podemos usufruir.
Com estes tempos que nos servem de baliza, e no abismo das lotarias, bem gostaria de acrescentar à frase do coronel Artur Freitas: NÃO NOS CONQUISTARÃO DE ASSALTO.
(Depois do percurso desencantado do meu primo António Pedro da sua luta contra a barragem de Fridão, sei bem como ele gostaria de assistir a este "25 de Abril". Fica a minha homenagem, lembro-lhe a memória com honra de oração verdadeira).
Hernâni Carneiro, in O Jornal de Amarante n.º 1806 (Ano 38), página 2 - 9 de Maio de 2019
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