Rio Tua - Barragem
O que é que se passa no Tua?
Em menos de seis meses, as obras na barragem do Tua já causaram três acidentes de trabalho, um dos quais provocou a morte de três pessoas. O que é que os trabalhadores dizem sobre estes acidentes? O que pensam e o que temem? A Renascença foi à procura de respostas.
Após curvas e mais curvas, começam a aparecer placas a alertar para o perigo. Num dos avisos lê-se que há “rebentamento de explosivos” na zona. No meio das rochas e do pó estão os trabalhadores da barragem do Tua.
A maioria afasta-se quando o gravador se aproxima. Uns dizem que é por vontade própria que não prestam declarações, outros vociferam palavras de descontentamento pela presença de jornalistas dentro da obra.
De rosto empoeirado, colete reflector vestido e capacete como a lei determina, os que aceitaram conversar lamentam os acidentes ocorridos. Ainda assim, consideram que são "ossos do ofício" ou, simplesmente, "o destino".
“Nunca me aconteceu acidentes mortais como aqui. É o rio, a rocha, a montanha...”, começa por contar um dos operadores de grua da obra. Apesar das condições desfavoráveis da própria natureza do local, acaba por culpar o destino, quando relembra 26 de Janeiro, o dia em que um deslizamento de terras tirou a vida a três trabalhadores.
“Naquele dia, tiveram que morrer aqueles três”, diz o operador de grua. Um outro trabalhador, que conduz uma das máquinas das obras, também culpa o acaso: “É como diz o meu colega - estava no destino acontecer”.
Já o encarregado de frente, Silva, não fala do destino, mas da profissão em si: “Em todas as obras há perigo, mas são seguras. Fiquei um bocadinho assustado, mas é a vida de quem trabalha na construção civil.”
Medo? Só do frio, garante o encarregado de frente. “O que me assusta é o frio. É a única coisa que me assusta.” Os termómetros andam pelos três graus quando Silva fala dos seus medos.
"Dormitórios de luxo" na pequena aldeia
As obras na barragem do Tua constituem uma espécie de pequena aldeia, com contentores brancos empoleirados nos socalcos do Tua. Os trabalhadores dizem que não falta nada.
Perto da hora do almoço, no refeitório dos trabalhadores, a Renascença aproveita a “boleia” para falar do ambiente que se vive na obra. Dois trabalhadores elogiam as condições de segurança e não só. “Tenho cem por cento de condições. Se não, não estava aqui”, diz um. “Aqui tem muito bom ambiente. Há dormitórios de luxo, com ar condicionado e tudo”, refere outro, mais novo.
Questionados sobre o valor do salário, sorriem e afirmam receber acima da média. “Mais de mil euros, talvez. Depende - não é sempre igual”, diz, entre risos, um chefe de obra. “Recebo acima da média, estou satisfeito”, conta o manobrador e condutor João, que, quando questionado sobre se compensa o esforço, devolve a pergunta: “Esforço? Não é esforço nenhum”.
Já de saída da barragem, na estrada que leva até aos homens do Tua, Youssef, operador de grua, trabalha no meio de pedregulhos, com grandes máquinas e rebentamentos constantes. Rezar é o seu conforto. “Eu rezo todos os dias, para me proteger em tudo o que é mau da vida…”
Após curvas e mais curvas, começam a aparecer placas a alertar para o perigo. Num dos avisos lê-se que há “rebentamento de explosivos” na zona. No meio das rochas e do pó estão os trabalhadores da barragem do Tua.
A maioria afasta-se quando o gravador se aproxima. Uns dizem que é por vontade própria que não prestam declarações, outros vociferam palavras de descontentamento pela presença de jornalistas dentro da obra.
De rosto empoeirado, colete reflector vestido e capacete como a lei determina, os que aceitaram conversar lamentam os acidentes ocorridos. Ainda assim, consideram que são "ossos do ofício" ou, simplesmente, "o destino".
“Nunca me aconteceu acidentes mortais como aqui. É o rio, a rocha, a montanha...”, começa por contar um dos operadores de grua da obra. Apesar das condições desfavoráveis da própria natureza do local, acaba por culpar o destino, quando relembra 26 de Janeiro, o dia em que um deslizamento de terras tirou a vida a três trabalhadores.
“Naquele dia, tiveram que morrer aqueles três”, diz o operador de grua. Um outro trabalhador, que conduz uma das máquinas das obras, também culpa o acaso: “É como diz o meu colega - estava no destino acontecer”.
Já o encarregado de frente, Silva, não fala do destino, mas da profissão em si: “Em todas as obras há perigo, mas são seguras. Fiquei um bocadinho assustado, mas é a vida de quem trabalha na construção civil.”
Medo? Só do frio, garante o encarregado de frente. “O que me assusta é o frio. É a única coisa que me assusta.” Os termómetros andam pelos três graus quando Silva fala dos seus medos.
"Dormitórios de luxo" na pequena aldeia
As obras na barragem do Tua constituem uma espécie de pequena aldeia, com contentores brancos empoleirados nos socalcos do Tua. Os trabalhadores dizem que não falta nada.
Perto da hora do almoço, no refeitório dos trabalhadores, a Renascença aproveita a “boleia” para falar do ambiente que se vive na obra. Dois trabalhadores elogiam as condições de segurança e não só. “Tenho cem por cento de condições. Se não, não estava aqui”, diz um. “Aqui tem muito bom ambiente. Há dormitórios de luxo, com ar condicionado e tudo”, refere outro, mais novo.
Questionados sobre o valor do salário, sorriem e afirmam receber acima da média. “Mais de mil euros, talvez. Depende - não é sempre igual”, diz, entre risos, um chefe de obra. “Recebo acima da média, estou satisfeito”, conta o manobrador e condutor João, que, quando questionado sobre se compensa o esforço, devolve a pergunta: “Esforço? Não é esforço nenhum”.
Já de saída da barragem, na estrada que leva até aos homens do Tua, Youssef, operador de grua, trabalha no meio de pedregulhos, com grandes máquinas e rebentamentos constantes. Rezar é o seu conforto. “Eu rezo todos os dias, para me proteger em tudo o que é mau da vida…”
Liliana Carona, in Rádio Renascença - 15 de Fevereiro de 2012