O Mau Castor (ou o lobby das águas paradas)

O investimento no estupro, é já por si um enormidade - para lá de 700 milhões de euros - porque é em betão, sem contar, claro, os habituais juros da demora, derrapagens e custos da subavaliação. Sobretudo quando o mesmo valor num programa nacional de eficiência energética traria melhores resultados económicos, cívicos e de educação ambiental, sem a desfiguração absurda e inconsequente do país.
Mas assim de resumido: 4 Barragens vão prender o rio Tâmega em enormes albufeiras: Daivões, Gouvães, Padroselos e Alto Tâmega (Vidago). Uma delas criará um enorme lago em redor de Ribeira de Pena (lá se vai a ponte de arame e umas aldeias em redor) e outra, a de Padroselos, irá inundar grande parte do trajecto do rio Beça, um dos últimos rios selvagens e sem poluição da Europa, que faz a fronteira norte de Gondiães em Cabeceiras, com Boticas. Para não falar da barragem do Fridão (entre Fidrão e Codeçoso) a montante de Amarante, com um paredão de 110 metros que vai levar a cota de enchimento até à histórica ponte de Cavez.

No mar de água doce, nem sei que sabor terão as castas de vinho verde da Sub-Região demarcada, encostada ao longo do Tâmega. E as consequências de um semelhante erro compulsivo, terão também repercussões no Tua, onde a inundação daquele vale vai enterrar (passo a contradição) de vez a questão da linha ferroviária, juntamente com a riqueza única da sua fauna e flora.
Posto isto: não há exigência de fontes energias renováveis, nem de crescimento, que justifiquem a destruição de ecossitemas e paisagens culturais com esta violência e leviandade, sobretudo quando o resultado é alagar um país e sua identidade. Na verdade, estas soluções são, no efeito imediatista, erradas e ironicamente insustentáveis.
O “Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico” (PNBEPH) é assim, um dos maiores atentados ao património de todos na loucura de obras públicas do Governo e tristemente sem alvo da consulta da opinião das pessoas. Os impactos ambientais serão abafados na ilusão dos barquinhos de recreio. Enfim, no entusiasmo das cimenteiras, não admirarão os prováveis candidatos à empreitada e os vencedores. Lá está: há que alimentar os fornos da co-incineração e justificar a nomeação de ex-ministros para gestores executivos de empresas de fundação amarantina, oportunistas como a Somague e ali, tão à mão, nesta bacia hidrográfica...
A ler também: Barragem de Fridão: Consequências Previsíveis sobre o Rio Tâmega e Amarante.
Vítor Pimenta, in Mal Maior - 07 de Abril de 2008
Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega (Cabeceiras de Basto)
2 comentários:
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A foto, do monte farinha, ou senhora da Graça deveria ter referência ao autor que sou eu, José Gama, wwwjosegama.net .
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