sábado, 23 de setembro de 2006

Manuel Alegre: "Por uma nova cultura da água"

Manuel Alegre em Viana do Castelo
"Por uma nova cultura da água"

Intervenção feita no Encontro “Água: Mercadoria ou Direito Humano” promovido pelo MIC


A água é o suporte básico da vida no nosso planeta e surgiu muito antes da existência dos seres humanos. É e sempre foi considerada um bem público.

1.
Faz amanhã um ano que anunciei publicamente em Águeda a intenção de me candidatar às eleições para a Presidência da República. Disse então que alargar a cidadania era o sentido do meu combate. No meu Contrato Presidencial e ao longo de toda a campanha insisti na necessidade da afirmação do poder dos cidadãos. A resposta que tive nas urnas mostrou que mais de um milhão de portugueses corresponderam a esse apelo. Disse também que a nossa Constituição consagra um conjunto de direitos fundamentais que não podem ser esquecidos, incluindo neles o direito a um ambiente humano e ecologicamente equilibrado. Não podia por isso deixar de estar presente nesta iniciativa do MIC de Viana do Castelo, destinada a debater a Água, um dos principais problemas do século XXI.

2.
A água é o suporte básico da vida no nosso planeta e surgiu muito antes da existência dos seres humanos. É e sempre foi considerada um bem público.
Um em cada seis habitantes do planeta não tem acesso à água potável, enquanto um em cada três não dispõe de condições sanitárias adequadas. Isto significa que uma grande parte da humanidade não tem garantidas condições mínimas de acesso à vida e à saúde.
A desigualdade no acesso à água potável é muito grande. A classe média ou alta das cidades consome 50 a 150 litros por dia e por pessoa, ou mais, enquanto os habitantes dos bairros ou países pobres têm de se contentar com 5 a 10 litros. Nesses locais é sobre as mulheres e as crianças que recai a tarefa pesada de garantir o abastecimento diário de agua potável.

3.
Em Portugal, em 2003, 92 % da população estava servida por uma rede pública de abastecimento de água potável, embora haja uma grande desigualdade regional. Na Região Norte, apesar da maior quantidade de recursos hídricos, a percentagem descia para 82,9%, enquanto em Lisboa subia para 99,1%. É de frisar que no Alentejo a percentagem, de 95%, é mais elevada que no norte do país.
Quanto ao acesso à rede pública de águas residuais, a taxa de cobertura era de apenas 73,5%. O Norte, com 59,6%, tem valores inferiores à média nacional.
Em termos comparativos, Portugal situa-se a meio da tabela, entre os países desenvolvidos, com uma taxa de cobertura de saneamento de 98%, e os países em desenvolvimento, com 49%.
Isto significa que também em Portugal há ainda um caminho a percorrer para garantir que toda a população tem acesso a água potável de qualidade e a redes de saneamento básico eficientes.

4.
A emergência do pensamento científico no final do século XVI instaurou na relação entre o homem e a natureza o paradigma do domínio. Para o filósofo e cientista Francis Bacon, contemporâneo de Descartes, "o conhecimento é em si mesmo um poder” que permite conquistar e dominar a natureza. Sabemos hoje que este domínio não pode ser ilimitado. A destruição e esgotamento dos recursos naturais, as alterações climáticas, o aquecimento global e a ruptura dos ecossistemas ameaçam a sobrevivência, não apenas da humanidade, mas da própria vida.
Um dos grandes desafios do século XXI é o da nossa reconciliação com a natureza. Não somos donos da Terra, estamos de passagem e somos devedores de gerações que ainda não nasceram. É essa a essência do conceito de sustentabilidade: encontrar modos de desenvolvimento que não ponham em causa a possibilidade de vida e bem-estar no futuro.

5.
Em muitos países europeus, as visões liberais do século XIX impuseram um processo de venda de património natural, incluindo recursos hídricos, com a convicção de que era o único modelo de produção possível.
No início do século XX, com o desenvolvimento da engenharia e com a crise de 1929, a maioria das responsabilidades na gestão da água passou para o controle público. O Estado surgiu como promotor de grandes barragens e garante do acesso à água, tanto no fornecimento urbano como no uso industrial e na irrigação.
Nos anos 80, este modelo mostrou os primeiros sinais de crise. A construção mundial de mais de 50.000 barragens de larga escala rompeu a continuidade de uma grande maioria dos rios causando um impacto irreversível no ciclo natural da água. Este impacto foi agravado pelo crescimento das áreas urbanas, pela impermeabilização dos solos e pela contaminação das águas superficiais e subterrâneas. É nas águas doces continentais que se regista o maior número de espécies extintas ou em extinção.

6.
Os nossos rios já não são os nossos rios. Já não aprendemos a nadar nas suas águas. Já não se encontra no rio Lima a quantidade de lampreia que lhe deu fama.
Não se trata apenas de uma nostalgia do que foi: os rios que nos viram nascer e crescer podem perder-se para sempre. Heraclito de Éfeso terá sido o primeiro ocidental a constatar que “tudo flui” ("Panta rhei") e por isso tudo muda. “Não cruzarás o mesmo rio duas vezes, porque outras são as águas que correm nele”, disse ele. Hoje sabemos que não é apenas o rio, nem somos apenas nós próprios que mudamos. É o próprio ciclo natural da água que corre o risco de colapsar, com consequências desastrosas para todas as formas de vida.

7.
Independentemente do estatuto de propriedade da água, tem prevalecido na Europa a tendência do uso do direito ao licenciamento, cabendo ao Estado garantir a democratização do acesso à água. A maioria das águas de superfície são do domínio público, podendo ser concedido o direito à sua exploração para vários fins. Quanto às água subterrâneas, em Portugal elas são geralmente propriedade privada, enquanto em Espanha, pelo contrário, são do domínio público.
Durante muito tempo a legislação sobre as diferentes formas de exploração dos recursos hídricos ignorou o ciclo da água. Mas o uso excessivo de furos e sistemas de bombagem e as descargas de efluentes sem tratamento mostraram ser métodos insustentáveis. Na Europa central e setentrional, foi preciso desencadear operações dispendiosas para restaurar a vida em rios tornados mortíferos por usos errados.
A contaminação por pesticidas e químicos usados na agricultura também atinge proporções crescentes. Mais de dois terços dos países europeus sofrem de uma poluição generalizada nas suas águas subterrâneas. Em Portugal e nas zonas mediterrânicas, a extracção abusiva de águas subterrâneas tem conduzido à salinização progressiva, ao esgotamento de reservas de água doce, à secagem de fontes e à diminuição dos fluxos de água, agravando a desertificação. A expansão do eucalipto contribui para a diminuição drástica dos recursos hídricos.
Pobreza e ignorância, juntamente com a irresponsabilidade de entidades públicas e privadas, completam o ciclo da degradação e crise ecológica nos ecossistemas da água.

8.
Os processos de alteração climática estão a provocar um aumento gradual das temperaturas e a modificar o regime das chuvas. Há cada vez mais episódios extremos, como cheias catastróficas ou alterações substanciais nos níveis da água em períodos de seca. É preciso dar toda a prioridade à conservação e restauração da qualidade ecológica dos recursos hídricos. O princípio do poluidor-pagador tornou-se insuficiente. É muito mais barato e eficaz evitar a poluição na origem do que descontaminar. É preciso generalizar o princípio da precaução na gestão e uso da água.

9.
Impõe-se uma mudança cultural profunda. Temos de alterar a nossa escala de valores, a nossa concepção da natureza e os nossos estilos de vida. Trata-se no fundo da emergência de uma nova cultura da água, que reconheça as suas múltiplas dimensões, éticas, ambientais, políticas e até emocionais. A nova cultura da água baseia-se no princípio universal do respeito pela vida, considera os recursos hídricos, no seu todo, como património da biosfera e exige que eles sejam geridos e utilizados de forma democrática e sustentável.
É isto que pretende a Declaração Europeia para um nova Cultura da Água, aprovada em Fevereiro deste ano em Madrid, na sequência da aprovação pela União Europeia da Directiva Quadro da Água, de 2000, transposta para a lei portuguesa pela [/]Lei Quadro da Água, de 2005.(1)

10.
A Declaração Europeia para um nova Cultura da Água defende uma nova abordagem ética da água e estabelece novas prioridades.
A primeira prioridade é “Água para viver”. Assegurar a sobrevivência do ser humano através do acesso à agua potável deve ser um direito humano universal, na linha do que já foi expressamente reconhecido pelo Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas em 2002.(2)
Não se trata apenas de um direito individual. A lógica do neo-liberalismo tem vindo a agravar as desigualdades entre países ricos e países pobres. Muitas empresas, impedidas de poluir os recursos aquíferos nos seus países, sentem-se livres para o fazer nos países pobres ou em desenvolvimento, praticando um inadmissível “dumping” sócio-ambiental.
As funções da água na preservação da saúde pública, da coesão social e da equidade devem ser por isso a segunda prioridade. Trata-se no fundo de reconhecer o direito colectivo das comunidades ao usufruto e sustentabilidade dos seus próprios recursos hídricos.
A função da água no desenvolvimento económico, associada ao seu uso por entidades privadas, é a terceira prioridade. Mas a intervenção dos agentes económicos privados não pode ser dissociada dos objectivos sociais e ambientais globais. Também neste campo a responsabilidade social das empresas será um factor cada vez mais determinante.
Em suma, é preciso garantir a prioridade dos direitos humanos e sociais sobre os interesses de mercado e impedir o recurso à água para negócios ilegítimos, ou a sua utilização abusiva e irresponsável.

11.
Uma dimensão essencial da nova cultura da água é a democratização dos processos de decisão. O debate sobre a liberalização dos serviços de água deve ser alargado a todos, com a participação dos cidadãos e das suas organizações.
É necessário distinguir entre privatização, liberalização e desregulamentação. A privatização implica a transformação do estatuto jurídico do operador, a venda de recursos públicos ao sector privado ou a concessão da totalidade dos direitos de uso. A liberalização significa introduzir mecanismos de mercado na gestão da água. Finalmente, a desregulamentação significa reduzir a intervenção do Estado.
É útil recordar que os processos de liberalização quase sempre implicam o aumento do poder regulador do Estado, com a criação de entidades reguladoras, a definição de obrigações de serviços públicos e a protecção do consumidor.

12.
Em 2002, pronunciei-me contra o anúncio pelo governo de coligação PSD-PP de várias privatizações, entre elas a da água. Escrevi então que “a questão de saber se sectores económicos estratégicos devem permanecer ou não sob controle português não é uma questão ideológica, nem pode ser reduzida a uma polémica entre partidários do sector privado e defensores do sector público. Trata-se de uma questão nacional, de cuja solução pode depender o futuro e a viabilidade de Portugal.” E acrescentei que “só há uma maneira de garantir que esses sectores continuem portugueses, é manter sobre eles o controle do Estado”. Continuo a pensar o mesmo. O reequilíbrio orçamental não pode fazer-se à custa da sobrevivência do país.

13.
Em 2005, em plena campanha para a Presidência da República, admiti a possibilidade de recorrer a todos os poderes presidenciais para defender o direito à água, incluindo, se necessário, a dissolução da AR. Fui então muito atacado, com base no argumento de que já teria aprovado a privatização da água, ao votar a Lei Quadro da Água na Assembleia. O argumento foi intelectualmente desonesto. As leis da água então votadas não obrigam à privatização da água. Defendo que a água se deve manter no domínio e propriedade pública. A existência de concessões para a distribuição da água, que a lei permite, não significa desistir de garantir, a par de uma gestão racional e sustentável, o controle público da exploração. Pelo contrário, aumenta a necessidade da nossa vigilância.
Não estamos a discutir a “privatização” da água dos rios, das ribeiras, dos lagos, nem do mar, mas sim dos sistemas de distribuição. Qualquer concessão cem por cento privada da distribuição da água significaria transformar um monopólio natural num monopólio privado, o que é inaceitável. Mas a mercantilização da água captada é um facto inegável. Todos pagamos a água engarrafada que bebemos e a factura da água canalizada no fim do mês.
A ideia de que as empresas privadas, por definição, gerem sempre melhor que as entidades públicas é um dogma que não resiste à análise dos casos concretos. Os serviços públicos também podem servir com qualidade. Seja como for, o que é imprescindível é que haja controle e regulação por parte do Estado. E que as organizações de consumidores estejam atentas, quer quanto à qualidade da água, quer quanto à equidade das tarifas praticadas.

14.
Serão cada vez maiores os conflitos políticos e geoestratégicos por causa do acesso à água. A nova cultura de água é uma das dimensões essenciais de uma diplomacia de paz, baseada em valores de diálogo e envolvimento, que deverá incentivar a mediação dos conflitos internacionais acerca da água.
Espero que movimentos de cidadãos como o MIC tenham uma capacidade crescente para colocar na agenda temas como este, que são fulcrais para todos nós.
O poder dos cidadãos está a emergir um pouco por todo o lado, desde os Estados Unidos à França, passando por Portugal. Um filme de Al Gore sobre a sustentabilidade do planeta está nas salas de cinema em todo o mundo. Não é um simples documentário: é um verdadeiro manifesto eleitoral do cidadão Al Gore, com vista à sua candidatura em 2008.
A cidadania do século XXI passa por estes temas e pela capacidade auto-organizativa e participativa dos cidadãos. Para garantir o acesso à água como direito humano, não bastam proclamações das Nações Unidas ou novas leis. É preciso uma nova cultura, uma nova atitude e uma nova prática da cidadania. Como disse o poeta João Cabral de Melo Neto, “um rio precisa de muito fio de água / para refazer o fio antigo que o fez.”


(1) Esta lei define um conjunto de princípios essenciais para preservar um bem que é escasso e a cujo acesso todos devem ter direito em condições de equidade. Define ainda um novo modelo de gestão da água, baseado em Administrações Regionais associadas às bacias hidrográficas. O Minho, atravessado por quatro rios, dois dos quais internacionais, é uma das zonas do país em que a aplicação desta lei quadro tem maior relevância.

(2) Recorde-se que as Nações Unidas aprovaram em 2005 a resolução “Água para a Vida”, que proclamou uma nova década internacional da água, entre 2005 e 2015.

in ManuelAlegre - 23 de Setembro de 2006

terça-feira, 27 de junho de 2006

Brasil - Acidente com barragem - Rachadura na barragem de Campos Novos




Brasil - Acidente com barragem

Rachadura na barragem de Campos Novos



Aproximadamente R$ 1 bilhão de reais foi rio abaixo, na última semana, com o esvaziamento do reservatório da usina hidrelétrica de Campos Novos, sem que tivesse gerado um megawatt de energia. 

Localizada entre os municípios de Celso Ramos (SC) e Pinhal da Serra (RS), esta é uma das maiores barragens do mundo com um muro de mais de 200 metros de altura. 

De acordo com a Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais, o recurso para o empreendimento é proveniente de bancos públicos: R$ 619,8 milhões é empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e R$ 300 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

"Empréstimos como este continuam sendo destinados para este tipo de empreendimento que ocasionam imensos impactos socioambientais, sem de fato contribuir para o desenvolvimento local das comunidades que vivem no entorno de grandes represas. 


Os riscos de acidentes são mais um elemento para questionar a viabilidade econômica destas obras", enfatiza uma das coordenadoras da Rede Brasil, Elisangela Soldatelli Paim.

A barragem começou a apresentar problemas em outubro do ano passado, mas somente agora o fato tornou-se público devido ao esvaziamento total do reservatório. 


No entanto, em maio, o Movimento dos Atingidos por Barragens e a Rede Brasil, preocupados com esta situação, encaminharam uma carta ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA), ao Ministério de Minas e Energia (MME), ao BID e ao BNDES - sendo estes dois últimos os financiadores da obra - solicitando informações do possível problema na barragem, sendo que, até a presente data, nenhuma das instituições se manifestou.

O Núcleo Amigos da Terra/Brasil, que acompanha os financiamentos e as obras hídricas na bacia do rio Uruguai, realizou vôo na região de Campos Novos, neste sábado (24), para registrar imagens do esvaziamento e as rachaduras no empreendimento. 


A vice-presidente do NAT/Brasil e Coordenadora da Rede de ONGs da Mata Atlântica, Kathia Vasconcellos Monteiro registrou imagens inéditas dos impactos ambientais, "foi possível ver a mata Atlântica que foi afogada com a construção da barragem e que agora está descoberta com o esvaziamento", afirma. 

As fotos ainda mostram a extensão da fissura, "uma rachadura desta extensão revela os erros na construção do empreendimento e justifica a apreensão que a população da região sofre vivendo sob os riscos e os impactos das barragens no rio Uruguai", enfatiza.

Káthia Vasconcelos Monteiro, in Apremavi (Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí) - 27 de Junho de 2006

quarta-feira, 1 de março de 2006

Un repaso por Comunidades autónomas: LA DEMOLICIÓN DE PRESAS Y OTRAS OBRAS HIDRÁULICAS EN ESPAÑA.


Un repaso por Comunidades autónomas
LA DEMOLICIÓN DE PRESAS Y OTRAS OBRAS HIDRÁULICAS EN ESPAÑA.


Pedro Brufao hace un repaso comenzando por los países pioneros en demoliciones como Estados Unidos, Canadá y Francia.

En primer lugar escribe sobre el impacto de las presas en la calidad del agua, los sedimentos y la materia orgánica, deduciendo de forma lógica como afectan a las comunidades biológicas que dependen del río.


Dice que la mayoría de las presas derribadas lo han sido a petición de los mismos propietarios, por cuestiones económicas, ya que generaban altos gastos en mantenimiento y seguros. 


Al mismo tiempo aumenta cada vez más los científicos, pescadores deportivos, profesionales, grupos ecologistas, etc. que demandan la demolición de presas y obras hidráulicas de todo tipo como método eficaz para restaurar los ríos.


En EEUU se han demolido de momento 480 presas hasta el año 2001 hoy sobrepasan las 600.


En España, Pedro remite a los datos recopilados por AEMS.Ríos con vida, que ha tratado de recopilar todo lo que se hace en España en cuanto a restauración fluvial en general y a demolición de obras hidráulicas en particular.



La Presa El Castro, en el río Algodor, actualmente en desuso y será desmantelada. 
(Foto de Pedro Brufao)

Dice que:

"... No se trata de estar a favor o en contra de las demoliciones, ya que toda obra cuenta con una fecha límite, sino de cuándo y cómo ejecutar las que sean imprescindibles para recuperar los ríos más afectados, abordando problemas como la competencia jurídica para determinar el organismo público responsable, la titularidad de los derechos afectados, el empleo de la expropiación u otras formas de intervención administrativa, el sometimiento o no a evaluación de impacto ambiental, la retirada o no de los sedimentos retenidos tras los muros de las presas -especialmente si están contaminados- y el seguimiento, evaluación y financiación de las obras.
   En paralelo a estas particularidades se desarrolla la estrategia a seguir, por ejemplo, ante las resistencias o facilidades oficiales, la caducidad y revisión de las concesiones hidroeléctricas y las soluciones negociadas o con intervención judicial. Sobre las innumerables obras ilegales, hay que tener en cuenta que hace más de cuarenta años el Decreto 998/1962 recogía la demolición de obras abusivas levantadas en cauces públicos y, también, que la llamada restitutio in integrum (o vuelta al estado original del bien objeto del daño) protege la propiedad pública desde hace siglos..."

En este sentido pondré únicamente lo que ocurre en dos comunidades como son la de Cantabria por pionera y la de Galicia (donde apenas no se hizo todavía nada).

En el repaso se observan muchas actuaciones en Andalucía, en Navarra, en Castilla-La Mancha, en Aragón, Madrid, Asturias, Castilla y León. Comunidad Valenciana, Canarias y Extremadura.

Las ideas básicas son varias:

- El coste de reparar una presa pequeña resulta tres veces superior al de optar por demolerla.
                              
Estudiemos el caso y si esto beneficia el río: abajo.

- Ya va siendo hora de que se dedique el canon del agua y el dinero de las confederaciones a restaurar nuestros ríos.

Demolición de la presa de Trefilerías en el río Ansón. Cantabria ha sido una comunidad pionera a la hora de eliminar barreras y obstáculos en los cauces españoles. 
(Foto de Carlos García de Leániz).

Esto es lo que dice Pedro Brufao sobre Cantabria y Galicia:

"...Cantabria:
Por comunidades autónomas, Cantabria y su Centro Ictiológico de Arredondo pueden considerarse los impulsores nacionales en esta materia. En el año 2000, el equipo de Carlos García de Leániz consiguió eliminar cinco presas sin concesión en el río Asón, con vistas a mejorar la entrada de salmones atlánticos [Salmo salar).
Lamentablemente, este programa se ha desmantelado y la oposición de sociedades locales   de pescadores se ha dejado notar para lograr que esta especie, en verdadero peligro,siguiera concentrándose frente a muros infranqueables que facilitan su captura.
A medio plazo, confiamos en que los esfuerzos de AEMS-Ríos con Vida logren la demolición de al menos la presa de Palombera, en el río Nansa. Situada a escasa distancia del mar, ha causado la virtual desaparición del salmón atlántico y otros peces. La demolición está respaldada por el incumplimiento constante de las condiciones de concesión por parte de Saltos del Nansa y Endesa."

Embalse de Caldas de Reis, monumento a la Prepotencia da Xunta de Fraga. Un "acto de vandalismo" dijo Pedro Arrojo. Un auténtico robo, ya que la ocupación de las tierras fue ilegal. (Foto S. Lorenzo).

En lo referente a Galicia:

"...Galicia                                       
Aunque tenemos constancia de que se han eliminado algunas barreras en Galicia, aún no hemos logrado identificarlas. En todo caso, para facilitar el acceso  de salmones y truchas a sus zonas de freza, se abrieron las represas de Sinde y Couso, en el río Ulla, pero luego la Xunta volvió a cerrarlas debido a las  presiones de los pescadores locales, en contra de todo criterio científico.                                  
   Cada vez es mayor el número de ciudadanos partidarios de eliminar la presa de Ézaro (La Coruña),  en el río Xallas, que ha hecho desaparecer la única  cascada española que acaba directamente en el  mar. Un elemento fundamental del paisaje gallego  entregado por la Xunta a la industria del watio, en  este caso a la empresa Ferroatlántica.
   Por otro lado, las numerosas irregularidades en las concesiones que otorga la Xunta sirven de base para solicitar demoliciones de nuevas presas, como la que Hidroeléctricas Cortizo ha levantado en Caldas de Reís (Pontevedra), en el río Umia. El pasado mes de febrero, una exitosa Iniciativa Legislativa Popular en defensa de los ríos  incorporaba la demolición de presas, a la vez que el Plan de ordenación de recursos piscícolas incluía un listado de las barreras a  eliminar.                                           
    En enero del año 2000 se anunció la demolición de un azud en el río Támega y en  abril de 2003 se inició el expediente para eliminar la presa de Rubieras (Lugo), en el río Eo, pues provoca inundaciones. Tras quedar en suspenso todas las nuevas presas hidroeléctricas, fruto de una larga campaña (que puede seguirse en www.rios-vivos.org), ahora se esperan  propuestas para eliminar algunas de las ya existentes..."

La concesión de la minicentral de Molló (Gerona) se ha dado por caducada al incumplir el caudal de mantenimiento. Su demolición está al caer. (Foto: Pere Bonada).

Para rematar este pequeño resumen resaltar el último punto tratado por Pedro Brufao en su artículo:

"...Armas legales para restaurar los ríos.
Uno de los objetivos principales de la demolición de presas es acabar con el mito de la obra hidráulica como redentora de penurias.
Como toda obra, es un instrumento para lograr un fin determinado y, llegado el momento, ya sea porfu impacto social, económico o ambiental hay que eliminarla Si se desmantelan vías de ferrocarril, edificios o carreteras, ¿por qué las presas deben considerarse monumentos para la posteridad?                         .
   Aunque hasta la fecha son más los proyectos que las_realidades,  contamos con el respaldo legal de la Directiva Marco del Agua, las ayudas agroambientales, la necesaria eliminación de las subvenciones agrarias de la PAC la normativa sobre Protección Civil y la reactivación de la Comisión de Seguridad de Presas.
Hay que tener en cuenta que la vida de una gran presa gira en torno a los cincuenta años, por lo que pronto  habrá que tomar decisiones determinantes para el futuro de nuestros ríos.. En cuanto a la caducidad de las concesiones  los organismos de cuenca deberían incluir una cláusula que  obligara a eliminar la obra con cargo al concesionario y a blindar jurídicamente nuestros ríos, a semejanza de losWild   & Scenic Rivers de Estados Unidos.
    Para terminar, sin dinero no hay política alguna, por lo que ya va siendo hora de que el canon del agua y los ingentes presupuestos de las confederaciones hidrográficas y otras administraciones, destinados a llenar de homigón nuestros ríos,  destinen por fin a recuperarlos. Hay que dejar  esa calderilla destinada a poner parches ambientales tras el paso, por ríos y despachos, de la maquinaria pesada de la vieja incultura del agua..."


Pedro Brufao, in Revista Quercus - Marzo del 2006