sexta-feira, 19 de abril de 2019

O TÂMEGA DE CIDADÃOS LIVRES - José Emanuel Queirós

O TÂMEGA DE CIDADÃOS LIVRES

                                                                RIO TÂMEGA - MONDIM DE BASTO

A notícia divulgada na comunicação social por voz do ministro do Ambiente na Assembleia da República, na passada terça-feira (16/04), de que fora cancelada a construção da famigerada barragem apontada a Fridão, foi recebida com diferenciado estado de emoção na região, entre autarcas com os olhos colocados no saco dos euros das compensações e cidadãos que jamais alienariam patrimónios naturais intemporais de todos e a segurança comum.

O efeito da nova anunciada na grande informação, repercutido no vale, teve uma dinâmica propulsora surpreendente, por tantos novos amigos o Tâmega subitamente conquistou.

De ilustres cidadãos e eleitos que celebraram a ‘decisão’ governamental, retardada por conveniências cruzadas no Ministério do Ambiente, por todos estes 12  últimos anos de esclarecimentos, de debates públicos e privados, de confronto de posições, de denúncias públicas, de moções, de votações, de petições, de comunicados, de opiniões publicadas e de voltas dadas pelo Tâmega, acima e abaixo, em jornadas de luta, jamais tive a felicidade de os reconhecer e acompanhar com semelhante empenho pela mesma causa.

Ocorre irresistível tentação de endereçar cordiais felicitações a esses novos soldados que, agora, generosa, espontânea e livremente, fazem questão de se associar à causa do Tâmega, recomendando a sua férrea e firme consciência ambiental para que prossigamos a luta pelo Tâmega livre barragens e do encascatamento que o rio está a ser alvo a montante de Mondim de Basto - dado que sobre Fridão deixaram de pesar os nevoeiros hidroeléctricos da EDP -, antes que o vale seja transformado numa cascata de águas mortas e permaneça a ameaça de montante, para a qual, todos juntos, continuaremos a ser poucos.

Do afogamento do vale, por efeito do duplo represamento do rio no escalão de Fridão, Celorico de Basto e Mondim de Basto poderão continuar a usufruir da bênção de uma paisagem de valor natural singular, enquanto a cidade de Amarante fica a salvo da configuração ameaçadora da mais próxima guilhotina, que seria erguida a 4 e 6 quilómetros a montante da cidade.

A batalha que presentemente todos celebram em Amarante e no Tâmega, a todos convocava igualmente desde o início, quando muitos observaram obediência às correntes oficiais, com a crítica aos que pareciam estar empenhados nalguma causa poética.

Para incómodo de autarcas rendidos ao garimpo e desespero dos patrões das eléctricas posicionados como proprietários ausentes do vale, do Alto ao Baixo, ainda há poetas que ousam escutar a voz do Tâmega nos seus murmúrios e apelos, a quem – a cada um dos amigos dessa estirpe que se propagou às Universidades e em Lisboa infectou os aposentos ministeriais –, endereço emocionada saudação!...

O Tâmega é um estado de alma transbordante e um compromisso existencial perene, a quem Golias não atemoriza nem diminui com o brilho do ouro ensacado para comprar concertos, instrumentos, bolas e fatos de treino para miúdos. Exige atalaias despertas, redobrados esforços e união entre combatentes ribeirinhos, nele pontuados de Vidago a Amarante, a que ficaram associados ambientalistas militando em associações e deputados posicionados em partidos autónomos das alternâncias governativas.

Muitas foram as jornadas que se prolongaram pela noite e madrugada em quilómetros de leituras e estradas percorridas, como inúmeros são os protagonistas em vários pontos do país, nos momentos e circunstâncias, convocados por convicta e inabalável fidelidade ao Tâmega.

De cidadãos disponíveis e intervenientes pelos valores presentes no meio, sem esperar tributos nem retribuições, esta conquista foi alcançada com o mesmo entusiasmo e juízo com que partimos para enfrentar quem apareceu, no Município de Amarante, na região, na administração da eléctrica, em seus mais ilustres serventuários e credibilizados avençados!...

Lembrando, por último, quem de novo se associou ao ponto final colocado no ilegal e demoníaco projecto hidroeléctrico lançado pelas eléctricas para Fridão - Amarante, cabe referir e sublinhar que, nos actos de cidadania consecutivamente desenvolvidos durante mais de uma década, ganhou o Tâmega de cidadãos livres, afrontando os mais poderosos interesses que fazem seus jogos no aparelho do Estado português e já tinham estas terras contabilizado como suas.

Amarante, 19 de Abril de 2019

José Emanuel Queirós

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