quarta-feira, 6 de maio de 2015

Eléctricas submetem Municípios: O absurdo das barragens no Tâmega - José Emanuel Queirós

Eléctricas submetem Municípios
O absurdo das barragens no Tâmega


O problema das barragens no Tâmega vem trazer, literalmente, a morte do rio como rio e de todo o ecossistema ribeirinho. Incide sobre todo o Tâmega - rio e região - com consequências que são comuns em toda a extensão do seu leito, reflectindo especificidades agravadas no território, consoante a maior proximidade ao rio e à sua foz.

Decepar um rio numa sucessão de represas, retendo toda a água e colocando-o a andar para trás, é limitar o seu amplo potencial ao uso exclusivo da força motriz subordinando-o à consequente alteração química sem considerar o seu valor natural de uso depurador cíclico e renovador para a natureza e para o homem.


O rio Tâmega, nestas condições - a água, as barragens e as albufeiras - fica sob gestão das empresas eléctricas (espanhola Iberdrola e chinesa EDP) absolutamente impraticáveis e interditas a qualquer uso de recreio e lazer.


Na linha dos mesmos interesses privados, não demorarão a introduzir espécimes exóticos predadores que dissuadam qualquer uso humano e façam desaparecer as espécies ictiológicas endógenas que justificam a pesca e o lazer activo.


A possibilidade da reabilitação das tradicionais "indústrias" da moagem do pão e do linho, jamais constituirão recurso patrimonial e tecnológico industrial, bem como as melhores terras de aluvião ficarão mergulhadas no fundo do poço. Praias, ao longo do eixo fluvial do Tâmega, nunca mais em Verão algum!... Bem a exemplo do que sucede a jusante de Amarante na albufeira do Torrão - barragem que nem electricidade produz!...


Amarante, pois, com os alicerces metidos no leito permanente do rio, padecerá agravadamente toda esta enormidade, sem areais e sem renovação de depósitos aluvionares, artificializada a escorrência em descargas intermitentes, ficando à mercê de algum evento inesperado que possa ocorrer nalguma das 4 barragens a montante.


Completo absurdo aquilo em que as câmaras municipais andam embrulhadas... no saco das contrapartidas em que preferiram meter as populações.


José Emanuel Queirós - 6 de Maio de 2015
Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega

Ler: Governo suspende cinco PDM por causa da barragem de Fridão

José Morais Clemente Teixeira: No Regresso ao Pó das Estrelas - José Emanuel Queirós

José Morais Clemente Teixeira (13/05/1945 - 05/05/2015)
No Regresso ao Pó das Estrelas
A chegada ao mundo ocorre desejada como o sol despontando pela manhã atrás das encumeadas do Marão, a dissipar a noite e a novena estendida no chão de orvalho. 

Das incertezas do dia faz-se o tempo comum do permanecer, num trânsito breve e esvoaçante que devolve às alturas a depuração das formas e dos modos semeados, em partilha. 

Florescem memórias cruzadas no sonho e na saudade da comunhão, dissimuladas como se não houvera bem maior além dos territórios da posse e da conquista. Nos silêncios reservam-se instâncias finas e translúcidas indecifráveis, códigos de aproximação ao magma e ao éter onde se desenha o voo suave das gaivotas ao entardecer.

Quando as portas do mundo se encerram para um amigo quebram-se os cristais e as porcelanas ressonantes nas fibras descidas da alma à terra. Em piras e archotes de fogos voláteis se evolam vidas fraternas levadas por instantes eternos como se o próprio mundo não passasse de uma última fasquia ou uma derradeira ilusão colectiva de perdas e danos a superar sem entender as causas e os porquês.

Um amigo que parte é uma parte de nós que se perde arrancada ao parco elenco daqueles que nos são íntimos e sempre fazem por nos preservar.

Não sei por que assim é, mas sei que é assim para José Clemente (13/05/1945 - 05/05/2015), amigo que deixa amigos por todas as causas que se cruzaram em sua vida, sem lhe deixar tempo a comemorar o septuagésimo aniversário. 


Sempre disponível para todas as lutas pacíficas em se que revela a grandeza dos homens simples, capaz para os trabalhos mais ousados nas dificuldades, leva consigo a coroação terrena espelhada em Amarante na organização do empresariado comercial e industrial e nos eventos de Verão, no incremento e consolidação do futebol amador, da comunicação social à causa pública autárquica, no envolvimento pela valorização do Hospital, no atendimento aos mais desfavorecidos e aos idosos, contra a extinção da Linha do Tâmega, com os olhos, o pensamento e a acção colocados no rio Tâmega em frontal oposição à barbaridade política das barragens, como a que um alargado grupo de cidadãos empreendeu no Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega (MCDT).

Da sua entrega colhemos o seu exemplo vivificante e sem temor, de uma entrega invulgar na comunidade, num elogio permanente e sincero à vida que agora retoma uma outra dimensão da existência onde todos tivemos origem com o pó das estrelas.


José Emanuel Queirós - 6 de Maio de 2015
Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega