terça-feira, 30 de outubro de 2018

PNBEPH - IBERDROLA: Mondim de Basto reforça oposição à passagem de linha de muito alta tensão







PNBEPH - IBERDROLA
Mondim de Basto reforça oposição à passagem de linha de muito alta tensão

O município de Mondim de Basto mostrou-se hoje desfavorável à passagem pelo concelho da linha de muito alta tensão Carrapatelo - Vila Pouca de Aguiar devido aos "impactos irreversíveis" para o território e populações.

Para o município liderado pelo socialista Humberto Cerqueira, esta linha trará "impactes significativos e irreversíveis para o território e as suas populações".

"É neste contexto que, à semelhança das tomadas de posição anteriores, a autarquia irá manifestar [em consulta pública], uma vez mais, uma posição desfavorável ao atravessamento desta linha, como forma de salvaguardar os interesses e a qualidade de vida dos seus munícipes", salientou a autarquia em comunicado.

A câmara disse que, já em 2011 e 2013, apresentou, também em consulta pública, pareceres desfavoráveis à passagem desta linha no território de Mondim de Basto.


Encontra-se em consulta pública, até ao dia 08 de novembro, o Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução (RECAPE) da Linha de Muito Alta Tensão Carrapatelo - Vila Pouca de Aguiar a 220/400Kv.

No concelho de Mondim de Basto, no distrito de Vila Real, esta linha atravessará a União das Freguesias de Campanhó e Paradança, e as freguesias de S. Cristóvão de Mondim de Basto, Vilar de Ferreiros e Atei.

A concretização deste projeto é da responsabilidade da Rede Elétrica Nacional (REN) e tem como objetivo transportar a energia proveniente do conjunto de centrais de Gouvães, Daivões e Alto Tâmega, inserido no Plano Nacional de Barragens e que estão a ser construídas pela espanhola Iberdrola.

De acordo com o projeto de execução, o início da construção desta obra está previsto para julho de 2019 e a entrada em serviço em junho de 2020.

A linha atravessará ainda território dos concelhos de Cabeceiras de Basto, Amarante, Marco de Canaveses, Ribeira de Pena e Cinfães.

O projeto da linha Carrapatelo -- Vila Pouca de Aguiar foi alvo de dois estudos de impacto ambiental e, na sequência das declarações de impacto ambiental (DIA), foi desenvolvido o projeto de execução do troço de linha, cumprindo as condicionantes e medidas estabelecidas e demonstradas em sede de RECAPE.

Lusa, in Diário de Notícias - 30 de Outubro de 2018

sábado, 20 de outubro de 2018

RIO TÂMEGA - BARRAGEM DE FRIDÃO: Amarante: "Caravana Pelo Tâmega 2018" manifesta-se contra Barragem de Fridão







RIO TÂMEGA - BARRAGEM DE FRIDÃO
Amarante: "Caravana Pelo Tâmega 2018" manifesta-se contra Barragem de Fridão



A "Caravana Pelo Tâmega 2018" está de volta. Este domingo, dia 21 de Outubro, Amarante recebe várias actividades que servem de protesto contra a construção da barragem de Fridão.

O propósito da organização passa por "sensibilizar a população local para o grave problema que poderá cair sobre a cidade de Amarante, a construção da barragem de Fridão".

O dia será marcado pela simulação intitulada "E se a barragem colapsar".  A organização acredita que a barragem trás mais desvantagens do que vantagens. Uma delas é o facto de a mesma vir a estar construída "sobre uma falha sísmica e próxima da cidade de Amarante" o que poderá gerar uma onda que se alastrará até ao centro de Amarante, em caso de colapso da barragem.

Recorde-se que a construção da barragem se encontra suspensa até Abril de 2019 a fim de se reavaliar a necessidade energética da obra. O projecto foi lançado por José Sócrates e Manuel Pinho, em 2007.

Durante a iniciativa vai ser projectado o documentário intitulado "One for the River - The Vjosa Story". O documentário fala do rio Vjosa, um dos últimos selvagens da Europa que "estão em risco pela construção de 33 barragens de produção de energia hidroeléctrica". Embora não diga respeito à barragem de Fridão em concreto, o objectivo é fomentar a luta, "contra barragens pela protecção dos rios livres".

in A Verdade - 20 de Outubro de 2018

PNBEPH - BARRAGEM DE FRIDÃO: A oposição à barragem para Fridão faz-se em nome da segurança de Amarante









PNBEPH - BARRAGEM DE FRIDÃO
A oposição à barragem para Fridão faz-se em nome da segurança de Amarante

Iniciativa da associação GEOTA, marcada para este sábado, quer chamar a atenção para os riscos para a segurança da cidade de Amarante e para o turismo da zona, caso o projecto da barragem de Fridão, para já suspensa, avance.






Uma barragem sobre o Tâmega colapsa e a onda de inundação aí gerada submerge, num intervalo de 13 minutos, a Igreja de São Gonçalo e o Museu Municipal Amadeo de Souza Cardoso, no coração de Amarante. Mas essa barreira, por ora, está somente no papel, mais concretamente no Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH), apresentado em 2007, pelo Governo então liderado por José Sócrates. A construção da barragem do Fridão, localidade banhada pelo rio, nove quilómetros a montante de Amarante, está suspensa até Abril de 2019. Mas, a seis meses do fim dessa suspensão, a associação ambientalista GEOTA vai promover a terceira edição da Caravana pelo Tâmega, uma acção de oposição à barragem marcada para sábado, em Amarante, que vai começar precisamente com uma simulação do colapso da estrutura prevista para aquela zona.

Uma dos principais motivos para a oposição à barragem, realça a coordenadora de projectos do GEOTA, Ana Brazão, é a segurança da população amarantina. A ambientalista lembra que o paredão da barragem, com uma altura estimada em 100 metros, vai criar uma albufeira numa zona de actividade sísmica. “A Autoridade Nacional para a Protecção Civil já alertou para essa questão”, disse.


Um dos residentes na cidade de Amarante, Artur Freitas, é membro da associação cívica Pró-Tâmega, que igualmente se opõe ao aproveitamento hidroeléctrico do Fridão, cuja exploração está destinada à EDP. O cidadão argumenta que aquele núcleo urbano se encontra na zona de autossalvamento – situações em que as autoridades não têm tempo para montar um esquema de evacuação da população. “Até a EDP já reconheceu que a cidade fica na zona de auto-salvamento da barragem”, afirma ao PÚBLICO.

Artur Freitas critica ainda a postura da Câmara Municipal de Amarante neste processo, por ter mantido confidencial um protocolo com a EDP, que envolvia contrapartidas em caso de inundação. “Fizemos uma queixa à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos, e a Câmara teve de disponibilizar esse protocolo, onde se lia que não expressava uma posição clara sobre a barragem”, explica. Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da Câmara de Amarante, José Luís Gaspar, realçou que esse protocolo foi assinado antes de assumir o cargo – foi eleito em 2013 – e disse “estar frontalmente contra” a barragem de Fridão. “Eu não sou contra as barragens, mas sou contra esta barragem. Na localização prevista, trará mais prejuízos do que benefícios a Amarante”, reitera.


Acção em tribunal para anular parecer da APA



A medida, explica ao PÚBLICO Ana Brazão, procura anular a declaração de impacte ambiental, emitida pela Agência Portuguesa do Ambiente, em 30 de Abril de 2012, a dar um parecer favorável, embora condicionado, à construção da barragem. A coordenadora de projectos do GEOTA alega que o parecer, inicialmente em vigor até 2012, tem hoje validade até 2020, após ter sido prorrogado de dois em dois anos, numa manobra, a seu ver, “contrária ao espírito da lei”.

“Um estudo tem de reflectir os cenários ambiental e socioeconómico do local onde se pretende instalar a barragem. Uma declaração de 2010 não reflecte os cenários de hoje”, sublinha. Com a acção popular, a associação ambientalista pretende “um novo estudo, uma nova consulta pública e, consequentemente, uma nova decisão, à luz do que se passa no terreno”.

Em resposta enviada ao PÚBLICO, a APA confirmou que a validade da declaração de impacte ambiental se estendia originalmente até 30 de Abril de 2012, mas foi sendo prorrogada graças a alguns mecanismos legais. A última prorrogação, baseada no Memorando de Entendimento celebrado entre o Estado, a APA e a EDP em 2016, foi de três anos e entrou em vigor em 30 de Dezembro de 2017. A entidade esclareceu ainda que a validade não pode ser prorrogada além de 30 de Dezembro de 2020, portanto a data-limite para a EDP iniciar a obra.


Na sequência do parecer favorável, em Maio de 2010, a energética anunciou que iria investir 260 milhões de euros para erguer, no Fridão, uma barragem capaz de gerar anualmente 295 gigawatts-hora, de servir cinco concelhos – Amarante, Mondim de Basto, Celorico de Basto, Cabeceiras de Basto e Ribeira de Pena – e de criar cerca de 4.000 empregos. A execução do projecto, porém, está suspensa desde 18 de Abril de 2016, quando o Ministério do Ambiente apresentou a revisão do Plano Nacional de Barragens. No documento, a tutela justificou a decisão com a necessidade de “uma avaliação mais apurada das consequências a nível energético pela sua não execução”.

Receios chegam ao campo económico
A quinta de Fernando Fernandes, com uma superfície de 10,5 hectares, abeira-se do Tâmega na fronteira entre as freguesias de Arnóia e de Codeçoso, no concelho de Celorico de Basto. Está cerca de cinco quilómetros a montante do local de implementação da barragem. Se a obra avançar, cerca de 60% do terreno que detém ficará submerso, com a albufeira que irá surgir. O proprietário faz do turismo rural a sua principal actividade, mas tem notado uma procura crescente do enoturismo, com grupos de pessoas a afluírem à quinta praticamente todos os dias para fazerem a prova de um vinho de produção biológica. Com a barragem, avisa, a vinha ficaria afectada. Mas não só. Os efeitos também far-se-iam sentir na paisagem e no turismo de natureza, comum na zona. “Com a barragem, iria ser destruída a parte mais autóctone da quinta. Ficariam à vista os eucaliptos. Também deixaria de haver rafting, com o desaparecimento dos rápidos”, diz.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

PNBEPH - TÂMEGA: GEOTA avança com ação popular em tribunal contra a barragem de Fridão






PNBEPH - TÂMEGA
GEOTA avança com ação popular em tribunal contra a barragem de Fridão

O grupo ambientalista GEOTA vai avançar com uma ação popular em tribunal contra a construção da barragem de Fridão, no rio Tâmega, na zona de Amarante, disse hoje à Lusa um dirigente. 

Segundo João Labrincha, está a decorrer esta semana um périplo pelos diferentes concelhos que podem ser afetados pela barragem, com reuniões com a população.


quinta-feira, 11 de outubro de 2018

RIO TÂMEGA - MARCO DE CANAVESES: Marco de Canaveses: Há 27 anos foi notícia a implosão da ponte sobre o rio Tâmega







RIO TÂMEGA - MARCO DE CANAVESES
Marco de Canaveses: Há 27 anos foi notícia a implosão da ponte sobre o rio Tâmega


"Acaba de ser demolida a ponte de Canaveses, que ficara submersa com a construção da barragem do Tâmega I", assim começava uma notícia publicada na edição de 16 de Outubro de 1991 do Jornal A VERDADE.

O assunto foi a implosão com dinamite da antiga travessia, que aconteceu pelas 14 horas de 11 de Outubro de 1991, "tendo os rebentamentos destruído cerca de metade da ponte". Os trabalhos de demolição foram dados como concluídos no dia seguinte.

A antiga ponte "de guardas ameadas com o comprimento de 156 metros e com a largura de 6 metros de faixa de rodagem, com passeios laterais de 80 centímetros cada, com três grandes arcos em ogiva e dois circulares laterais", abriu ao trânsito em 12 de Junho de 1944, sendo o eng. Valente de Araújo o autor do projeto que teve como base a reconstituição da velha ponte romana que existiu no local.

A foto em destaque foi retirada da página do Facebook, Ponte de Canaveses.


in A Verdade - 11 de Outubro de 2018

terça-feira, 2 de outubro de 2018

RIO TÂMEGA - BARRAGENS DA IBERDROLA: Energia: Ecossistema da barragem








RIO TÂMEGA - BARRAGENS DA IBERDROLA

Energia: Ecossistema da barragem

Juan José Dapena (primeiro da esquerda), técnico da Iberdrola, refere que o Sistema Electroprodutor do Tâmega (SET) irá gerar 3500 empregos directos e que “80% do pessoal contratado será da região”. O responsável ambiental ressalva a preocupação da eléctrica com o ambiente, dando como exemplo disso a plantação de duas árvores por cada uma abatida. Ainda assim, multiplicam-se os alertas da comunidade científica a propósito dos danos provocados pelas três barragens do SET, as quais, entre outros impactos, irão alagar zonas como a da foto.

Alterações climáticas, vitória dos peixes invasores, potenciação de sismos. O maior empreendimento em construção em Portugal e uma das maiores barragens europeias dos últimos 25 anos.

Soldadores em arco submerso era especialidade rara, se sequer conhecida, no Alto Tâmega. Ao longo de cinco meses, o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), autarquias e a empresa austríaca que ganhou a empreitada da conduta metálica da barragem de Gouvães providenciam esta especialização. “Se não tivéssemos promovido o concurso viriam provavelmente de outros lados”, diz à FORBES Alberto Machado, presidente da Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega.
Este é um dos impactos dos 1,5 mil milhões de euros que a Iberdrola irá investir no Sistema Electroprodutor do Tâmega (SET). Mas não é tudo um lago de paz.
Viela, aldeia de Ribeira de Pena, tem a viabilidade em risco, lemos no Estudo de Impacto Ambiental de 2010. Em Santa Marinha, local de lançamento do empreendimento em Dezembro de 2014, ruas e terrenos agrícolas desaparecerão sob as águas, e o autarca local, Domingos Teixeira, assegura que as pessoas prefeririam as terras à indemnização. Outros efeitos: danos nas estradas e nas casas, devido aos camiões e às “explosões muito agressivas”, diz Domingos. Mas há ganhos no emprego, arrendamento e restauração, assume.
Alberto, autarca de Vila Pouca de Aguiar, assegura que a Iberdrola é muito exigente com os empreiteiros. Em torno da obra, a segurança, a cargo da Securitas, é feita por gente da terra, certificada num curso de dois meses. Cai o desemprego e os operários sem formação específica adquirirem-na.
“Há um número elevadíssimo de engenheiros e enfermeiros do Alto Tâmega contratados pela Iberdrola”, diz Alberto, que ainda assim considera pouco, razão para ser “sempre dos pontos mais debatidos na comissão de acompanhamento das barragens”, explica.

Barragens respondem num minuto

Diz o povo que “em Abril, águas mil”, mas a tradição e o clima já não são o que eram e desde 1931 que não havia um Abril “extremamente seco” como este. Indica ainda o Instituto Português do Mar e da Atmosfera que em 40% das suas estações não caiu “uma gota” até dia 29, e em Faro e Évora o termómetro encostou nos 33 graus Celsius.
Entre ambientalistas e no documento orientador da política do Governo (GOP 2016-2019) salienta-se, sem surpresa, o potencial das fotovoltaicas. Nestas, as variações na produção, em função do clima, oscilam abaixo dos 5%, metade da variação do eólico. Já na hidroelectricidade pode haver variações de 350% entre ano seco e mais chuvoso, explica o presidente da associação de renováveis.
O potencial hidroeléctrico neste nosso clima mediterrânico “é muito baixo”, assegura João Joanaz de Melo, engenheiro do Ambiente, professor universitário e especialista em impactos ambientais. Contudo, tanto as eléctricas como os actuais e ex-governantes defendem que com as barragens reversíveis evita-se desperdício de energia renovável.
De forma abreviada: imagine-se um lago urbano em que a água cai da fonte para o lago, segue para um reservatório e é de novo levada à fonte por intermédio de motores. Nos sistemas de barragens reversíveis, as mesmas vagas de água vão e voltam, a céu aberto e por condutas, produzindo (e gastando) electricidade pelo meio.
Em 2016, na reavaliação do Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) – lançado em 2007 com 10 barragens –, aludia-se à necessidade de armazenar a energia que o solar, biomassa, biogás, mini-hídrica e ondas produzem em excesso. As eólicas, mais produtivas à noite, são o exemplo maior de desperdício.
Na hídrica reversível, a chave do negócio é o portentoso reservatório de água, como se de uma bateria de dimensões “bíblicas” se tratasse. Aí se armazena água, para voltar a produzir electricidade em momentos de maior procura e preço de venda mais alto. E se todo o país ligar o interruptor em simultâneo, a hídrica pode acorrer a um pico de consumo num só minuto, hiato mais baixo entre todas as formas de produção.
Uma década depois de o PNBEPH ter sido lançado, só a barragem de Foz Tua e o SET avançaram. A primeira está prestes a ser inaugurada. O segundo, constituído pelas barragens de Gouvães, Daivões e Alto Tâmega, terá uma das maiores barragens europeias dos últimos 25 anos e estará em construção até 2023.

A carteira do consumidor

Artur Trindade, secretário de Estado da Energia no Governo PSD/CDS que cortou nas “rendas” às eléctricas, por pressão da “troika”, e deu o empurrão final ao PNBEPH, defendeu publicamente que “as barragens não têm qualquer custo para o consumidor”.
À FORBES, o Ministério do Ambiente assegura haver apenas o “incentivo ao investimento” previsto na Portaria 251/2012, e que vigora por 10 anos. A Iberdrola afirma ser apenas uma questão de mercado, com luta entre os produtores para vender à rede, em Portugal ou Espanha, no âmbito do Mercado Ibérico de Electricidade (MIBEL).
A questão das “rendas” voltou à agenda com o Departamento Central de Investigação Penal e Acção Criminal (DCIAP) a confirmar, no dia 2 de Junho, que já há arguidos numa investigação a esta compensação paga pelo Estado. Entre eles estão António Mexia e João Manso Neto, presidentes da EDP e da EDP Renováveis, respectivamente e João Conceição, administrador da REN.
No outro lado da fronteira, em La Muela, nas montanhas a norte de Valência, Juan José Dapena, responsável ambiental da Iberdrola no SET, leva-nos a conhecer a central de Cortes-La Muela, complexo “quase gémeo” do projecto do Alto Tâmega, diz-nos. Destaca-se um mastodôntico “tanque” com 4,5 km de largura, que a eléctrica construiu numa zona plana, e se encontra a 500 metros acima da albufeira.
No SET, o “depósito” será uma barragem, Gouvães, no Rio Torno, a 7 km do Tâmega, onde as barragens de Alto Tâmega e Daivões, separadas por 10 km, também produzirão electricidade. “Aproveitamos as energias excedentárias [quando a produção de todas as fontes é maior que o consumo] para encher o depósito”, explica Juan.
A calma do local e a aparente limpeza da água em La Muela contrasta com a agitação do lado de cá da fronteira. As trocas de água entre o Tâmega e o “depósito” no Torno acabará com a limpidez deste, antevê Rui Cortes, professor catedrático na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e especialista em hidrologia.
Puxada pelas quatro turbinas-bomba (reversíveis, capazes de sugar a água para Gouvães e expeli-la para produzir electricidade) com 880 megawatts (MW) de potência, a água vai voltar a escorrer lá do alto em direcção ao Tâmega durante o dia, quando há mais solicitação à rede. “É o complemento energético perfeito para o rendimento das centrais nucleares”, diz-nos o responsável de La Muela.
Graças ao MIBEL, a Iberdrola pode, em teoria, lucrar por ter em Portugal um empreendimento capaz de aproveitar a energia excedentária de Espanha: se a electricidade for injectada em saldo na rede – ou até a custo zero pelas centrais nucleares, que não podem parar por razão de estabilidade funcional – a companhia poupa na aquisição para bombagem no SET; disparando o valor da electricidade em período nocturno, perde na bombagem mas ganha no preço vendido pelas centrais nucleares, como a de La Muela.
Equação que, diga-se, vale para outros produtores. Com perdas de eficiência na ordem dos 20%, a bombagem é atractiva apenas com preço de venda à rede reduzido. Dos 9121 gigawatt-hora (GWh) produzidos pelas grandes hídricas, quase um terço foi consumido pela bombagem e pelo próprio funcionamento das barragens, indica a Direção-Geral de Energia e Geologia. “Este mecanismo gasta evidentemente energia, mas fá-lo num período em que o objectivo principal é equilibrar o diagrama de cargas”, explica o Ministério do Ambiente à FORBES.
A REN, por seu lado, assume que a reversibilidade que vimos em La Muela e veremos no SET em 2023, é importante para o equilíbrio do sistema e evita desperdiçar a elevada produção eólica – e fotovoltaica. No actual estágio tecnológico, “a bombagem hidroeléctrica é a única forma de armazenamento de energia em grandes quantidades”, ressalva fonte da empresa.
Mas nestes 70 anos da concessão do SET podem ser desenvolvidas mega-baterias e o próprio parque automóvel eléctrico pode tornar-se um “armazém” para a energia nocturna, nota Joanaz de Melo, um dos mais activos agentes anti-PNBEPH e colaborador do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA).
Esta associação ambientalista entregou uma queixa crime na Procuradoria-Geral da República relativa às decisões políticas e técnicas que rodearam o programa, processo que, de acordo com o noticiado pelo “Jornal Económico”, já está a ser investigado pelo Ministério Público.

Vieram para ficar

Francisco Nunes Correia, ministro do Ambiente de José Sócrates, assume que “é inquestionável” que qualquer barragem interfere nos rios. “Nada foi feito levianamente, sem preocupações ambientais”, defende um dos “pais” do PNBEPH. Nem todos os danos são inaceitáveis, desde que garantidas as condições essenciais e contrapartidas, diz.
As hidroeléctricas têm “carácter prioritário” nesta altura de maturidade tecnológica, sobretudo num país com 54% da sua capacidade hídrica ainda por explorar, diz o Ministério do Ambiente. Reforçar a capacidade hídrica num momento em que já há potencial de produção acima do consumo (muitas das fontes estão em stand-by para acorrer a períodos de maior procura) “é como ter quatro pneus sobressalentes no carro”, diz Joanaz.
Em 2016, o tempo de apagão na rede foi de 34 segundos, menos de metade do ocorrido em 2010, o ano recorde de consumo de electricidade em Portugal. Desperdiçar menos, via eficiência energética, e não gastar mais, recomenda o professor, advogando que estes investimentos em barragens resultarão inevitavelmente em prejuízos.
Juan assegura que o risco do investimento recai sobre os accionistas da Iberdrola. Além dos lucros que espera obter da operação, a Iberdrola “fica mais conhecida e declara que está em Portugal para mais 70 anos”, diz o engenheiro da eléctrica quando perguntamos qual o racional de vir “empatar” 1,5 mil milhões de euros em Portugal.
Para este período da concessão – que poderá ser prorrogado –, há riscos identificados em estudos (e que valem para a generalidade das barragens reversíveis). Um deles, da Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos, indica que a viabilidade dependerá “muito da evolução do custo da energia, do crescimento dos consumos e, sobretudo, da evolução do diferencial entre as tarifas das horas de vazio e das horas cheias”.
Acresce o papel da indústria, que pode desviar produção para o período diurno se não lhe agradar a revisão que o actual Governo está a fazer ao “serviço de interruptibilidade” – os consumidores pagarão este ano 112 milhões de euros a cerca de 50 empresas para que estas parem a produção se o sistema eléctrico nacional estiver sobrecarregado.
A “Directiva de Energias Renováveis”, de 2009, assume que para atingirem critérios de renováveis, os países podem trocar electricidade entre si, o que pode abrir novos mercados a Portugal, tal como o fim do nuclear. Variável essencial, o consumo só no ano passado igualou valores de 2011, ainda a 5,6% do máximo histórico registado em 2010.
Irá crescer para o dobro em 2050 – dentro de 33 anos, menos de metade do período de concessão do SET –, como se previa em 2012?

Gestão política

Em 2015, a negociação do Partido Socialista com os partidos mais à esquerda (a designada “geringonça”) motivou a reavaliação do programa de barragens. Manuela Cunha, dirigente do PEV, admite à FORBES que “o Governo não conseguiu ou não quis parar [o SET] por considerar que já havia obras no terreno e não era possível chegar a acordo sem indemnizar”.
Em 2008, tinham sido pagos 623 milhões de euros pelas eléctricas. Uma década depois do tiro de partida dado por José Sócrates, cinco barragens ficaram sem candidato a exploração (uma delas, Almourol, previa submergir parte de Constância), duas, Girabolhos (Endesa) e Alvito (EDP), foram canceladas na reavaliação feita pelo Executivo de António Costa, e outra, Fridão (EDP) está em suspenso até 2019.
Um alívio momentâneo para a população de Amarante, contestatária da redução do caudal do Tâmega e preocupada com a submersão do centro histórico em caso de uma ruptura da barragem como a verificada em Minas Gerais há ano e meio. “Dá-nos mais tempo”, diz Manuela, antecipando novas batalhas.

A central hidroeléctrica de Cortes-La Muela, gerida pela Iberdrola, servirá como referência para o SET, que arrancou em 2014 e deverá terminar em 2023. O projecto em território nacional vai envolver um investimento de 1,5 mil milhões de euros por parte da empresa espanhola e será composto pelos aproveitamentos de Gouvães, Alto Tâmega e Daivões.
À imagem da central de Cortes-La Muela, também o SET irá recorrer a um sistema de bombagem, que permitirá enviar água que já passou pelas turbinas da barragem até um ponto mais alto – para que a mesma água volte a criar energia -, permitindo assim aproveitar a energia não usada, por exemplo, por centrais eólicas.

Impacto ambiental

Juan José Dapena (na foto ao lado), responsável da Iberdrola, explica à FORBES que há seis anos que estão a ser feitos controlos de água do Tâmega e já se sentem alterações produzidas pelas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR). Desde há um ano faz-se monitorização em mais de 100 poços, diz.
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) será respeitado, o caudal ecológico também, a pista de pesca de Cabeceiras de Basto será mantida e por cada árvore abatida serão plantadas duas, assegura. Só que também o EIA é alvo de críticas. Manuela Cunha, do Partido Ecologista “Os Verdes”, refere que a avaliação excluiu, entre outros, os corredores de alta tensão para transporte da electricidade até à rede. Rui Cortes, professor catedrático, apela a um esforço de controlo de fontes de contaminação na albufeira e uma coordenação entre autoridades.
A biodiversidade também sofrerá, com perda de flora e vitória das espécies invasoras, como já acontece no Douro e em Castelo do Bode, onde o peixe gato está a subjugar os autóctones. Com a água presa na barragem e a reversibilidade que colocará a água num vaivém, espera-se formação de marés, degradação da água, surgimento de algas com potencial de irritação cutânea e materiais em suspensão, situação propensa à formação de metano e pouco dada ao turismo, ironiza o professor catedrático.
Para compensar impactos, a Iberdrola empregará 50 milhões de euros em beneficiação de museus, parques naturais, um cemitério, relocalização de uma capela e remodelação do estádio do Desportivo de Chaves.

Permanecem razões para preocupação elevada no Tâmega, que já vem poluído de Espanha e é sobrecarregado a jusante de Chaves por agricultura, indústrias e matadouros. “Não há necessidade de espatifar mais um rio para produzir energia que não gastamos”, considera Joanaz de Melo. O engenheiro Ambiental e professor da Universidade Nova apela a que se olhe a degradação a que chegou a água a jusante, na barragem do Torrão.

, in Forbes - 2 de Outubro de 2018