terça-feira, 25 de março de 2008

Grande parte dos projectos serão da EDP: Novas barragens criam sete mil novos empregos e envolvem dois mil milhões de investimento









Grande parte dos projectos serão da EDP
Novas barragens criam sete mil novos empregos e envolvem dois mil milhões de investimento

Nos próximos anos serão construídas dez novas barragens de "elevado pontecial"
Manuel Roberto (arquivo)

Portugal entrou numa nova vaga de construção de barragens como não via há mais de quatro décadas. Nela, a EDP tem a parte de leão: entre novas barragens e reforços de potência das já existentes somam-se quase mais três novos mil megawatts de potência, dos quais dois mil fazem parte dos planos da EDP.

A empresa vai reforçar a potência em oito barragens, sendo que é concessionária de todas as grandes e médias barragens já existentes, vai construir o Baixo Sabor e tem direito de preferência para Foz Tua, cujas propostas são hoje conhecidas.

Construir uma barragem exige mais mão-de-obra do que uma central térmica, o que faz com que a eléctrica preveja um pico de sete mil trabalhadores nos seus diversos estaleiros, a partir do segundo semestre do próximo ano. Anda a preparar-se há mais de dois anos para o volume de trabalho que se avizinha, sendo que o último sinal partiu de dentro, ao ter travado algumas saídas de quadros que já estavam programadas.

O pico da primeira fase de investimentos deverá registar-se no segundo semestre de 2009, com quatro mil novos postos de trabalho, e o segundo pico deverá ocorrer entre 2010 e 2011, com mais 2800 novos empregos. Os projectos estão a cargo da direcção de projectos e investimento, responsável pelo planeamento, construção e operação de todos os centros produtores de energia, térmica, grande e pequena hídrica, exceptuando a eólica. Nela trabalham 250 dos 1200 trabalhadores que integram hoje a EDP Produção.

Sabor foi "pedra de toque"

A reorganização da direcção de projectos e investimento começou no final de 2006, ainda com João Talone, antecessor de António Mexia, a presidir à comissão executiva. Nessa altura, foram definidas três grandes orientações para um novo plano de recursos humanos: aposta nas competências críticas no domínio da hidroelectricidade, passagem para outsourcing das chamadas áreas não críticas (como a fiscalização de obras), reduzindo o número de trabalhadores, e ordem para rejuvenescer.

O plano esteve num impasse até Agosto de 2007, quando o processo da barragem do Baixo Sabor foi finalmente lançado. "Foi a pedra de toque", sublinha Ferreira da Costa, director de projectos e investimento da EDP. A partir daí, o plano de redução de efectivos passou a ser de crescimento, mas mantendo a orientação anterior: focalização nas áreas críticas e contratação de gente mais jovem. "Adiámos algumas saídas programadas, queremos também um reforço significativo do rejuvenescimento, porque é preciso preparar a empresa para o futuro. Voltámos a recrutar quadros no mercado", diz Ferreira da Costa.

Nos jornais, a empresa publicou, pela primeira vez, anúncios a pedir engenheiros jovens e experientes. As vagas não chegam às três dezenas, mas a empresa recebeu 1300 candidaturas. O recrutamento de novos engenheiros também está a ser feito junto das universidades.

O PÚBLICO sabe que o plano que começou por uma redução de 20 por cento dos efectivos deverá registar, pelo contrário, um aumento de oito por cento até ao final de 2011. Dentro de três anos, Ferreira da Costa aponta para uma equipa de perfil diferente da que tinha 2007: uma média etária de 44 anos, quatro anos inferior à actual, menos quadros médios e mais quadros superiores, entre contratados no exterior e "recrutados" junto de outras direcções da empresa.

Concorrência espanhola
O investimento em barragens é apenas uma parte do grande bolo que o sector da construção espera até 2017 e para o qual se diz "mais do que preparado". O presidente da federação da construção, Fepicop, que agrega as principais associações do sector, diz que o Governo não pode deixar de cumprir o Plano Nacional de Barragens que anunciou, e que não é aceitável que venha a ter mudanças de opinião e de políticas. "Trata-se de um projecto muito ambicioso e se queremos cumprir Quioto não podemos adiar mais."

As "indecisões constantes" e as "sucessivas mudanças de opinião" acerca dos grandes investimentos públicos são matéria de preocupação das empresas de construção. Em causa, e até 2017, está um número muito apreciável de volume de investimento: 40 mil milhões de euros. "O Governo não se pode dar ao luxo de o concretizar sem os privados. E os privados estão à altura do desafio", insistiu.

No caso das barragens, as construtoras têm responsabilidades acrescidas. Em vez da pulverização em cerca de três dezenas de contratos, como era prática no passado, a EDP tem agora um modelo bicontratual, com dois grandes contratos, um para a empreitada geral de construção (no passado, dispersa por uma trintena de contratos) e outro para o fornecimento do equipamento. São os construtores que têm agora de fornecer as actividades que a EDP colocou em outsourcing, como a fiscalização e segurança da obra, acompanhamento ambiental, hidrometria, ensaios de materiais, desenho e projecto de execução, entre outros.

Apesar da longa crise que o sector da construção atravessou, com quebras na produtividade seis anos consecutivos, Reis Campos diz que o tecido empresarial português soube reestruturar-se. "O sucesso que as empresas conseguiram nos mercados internacionais é a prova disso. E os processos de fusões e os planos estratégicos entretanto anunciados também: para já, só temos uma empresa com volume de negócio acima dos mil milhões, mas já há uma mão-cheia delas a apontar esse objectivo", afirma Reis Campos, referindo-se à Mota-Engil, que tem experiência em construção de barragens (construiu o Alto Lindoso) e facturou o ano passado 1100 milhões de euros, mas também a outras que lá querem chegar, como a Soares da Costa (que adquiriu a Contacto e que alguns rumores apontam como interessada na MonteAdriano), a Opway, que resultou da fusão da Opca com a Sopol e a espanhola Sárrion, ou a Teixeira Duarte.

Estas empresas estão ainda longe da capacidade de grupos espanhóis como a ACS ou a Ferrovial mas, segundo Reis Campos, a expectativa é que "esse grupos, que já são muito mais do que construtores, apareçam para estes concursos como investidores e não como construtores".

Luísa Pinto, Lurdes Ferreira, in PÚBLICO - 25 de Março de 2008

Barragens que criam emprego...

Barragens que criam emprego

Novas barragens criam sete mil novos empregos e envolvem dois mil milhões de investimento” - Luísa Pinto, Lurdes Ferreira, in Público - 25.03.2008

Ao contrário do que a notícia pretende sugerir, as barragens não criam empregos. As pessoas que lá trabalham é que criam barragens. As barragens represam água. A eliminação de desequilíbrios estruturais na economia é que pode gerar empregos.

João Miranda, in Blasfémias - 25 de Março de 2008

sábado, 22 de março de 2008

PNBEPH - João Joanaz de Melo à Lusa: "Este projecto é uma falácia que urge desmontar rapidamente"






PNBEPH - Declaração de João Joanaz de Melo à Lusa
"Este projecto é uma falácia que urge desmontar rapidamente"

"Efectivamente não existe uma política energética em Portugal, o que existe é um vontade enorme de agradar aos lobbies da construção civil", defendeu, salientando que "é mentira que este Plano Nacional de Barragens seja importante para o país porque ele não vem resolver problema algum".

"Enquanto se entretêm a construir dez barragens que vão causar impactos negativos profundos e irreversíveis nas margens e solos ribeirinhos, vão também estragar dez rios a troco de nada impedindo, entretanto, que se faça algo sério", disse.

João Joanaz de Melo disse à Lusa que o Plano Nacional de Barragens "não resolve problema nenhum porque as dez barragens juntas só vão produzir 3 por cento da energia que se consome em Portugal, sendo a taxa de crescimento anual de consumo de 4 por cento".

"Se em 9 meses o investimento desaparece não vejo que exista alguma virtude neste plano", afirmou.

O ambientalista disse ainda que este projecto "foi feito em cima do joelho uma vez que não foram avaliadas alternativas nem impactes cumulativos, não são preservadas as espécies e a biodiversidade, vai destruir os habitats ripícolas e o turismo de natureza e colocar em risco a segurança e bem estar das populações".
"Este projecto é uma falácia que urge desmontar rapidamente porque não tem outra virtude que não seja dar emprego à construção civil", disse João Joanaz, que considera que "o Governo só voltará atrás com este plano se o povo se mobilizar e disser alto e bom som que não quer que se faça a barragem de Almourol, nem quer que se faça barragem alguma das dez anunciadas".

O ambientalista apontou ainda para a necessidade de existir uma política energética "séria", referindo que as alternativas "passam pela melhoria da eficiência energética e pelas fileiras da energia solar, biomassa, geotérmica, eólica e ondas".

"Todas estas opções têm um potencial energético elevado ou muito elevado ao passo que o recurso às hídricas não passa de um potencial médio ou médio baixo", afirmou. 

João Joanaz de Melo, in RTP (via Lusa) - 22 de Março de 2008

sexta-feira, 21 de março de 2008

ONGs alertam UE para impacto de construção de barragens



ONGs alertam UE para impacto de construção de barragens

Lisboa, 21 mar (Lusa) - Organizações Não Governamentais do Ambiente (ONGA) alertam, no Dia Mundial da Água, o presidente da Comissão Européia (braço executivo da União Européia, UE), Durão Barroso, para o impacto da construção de 12 novas barragens na qualidade e quantidade dos ecossistemas aquáticos.

Os ambientalistas, em carta enviada a Durão Barroso, reconhecem os aspectos positivos da energia hidroelétrica, mas apontam "danos significativos nos cursos de água" e desvalorizam o impacto na redução das emissões para a atmosfera.

Em outubro, o governo português, através do Instituto da Água, apresentou o Programa de Barragens com Elevado Potencial Hidroelétrico (PNBEPH), um plano estratégico que seleciona, dentro de 25 hipóteses, a localização de dez novas barragens de acordo com critérios sociais, econômicos e ambientais.


Após um processo de avaliação ambiental estratégica, foram selecionadas seis barragens na bacia do Rio Douro, duas na bacia do Rio Tejo e uma nas bacias dos Rios Vouga e Mondego, tendo-se adicionado posteriormente o projeto do Ribeiradio e Baixo Sabor.


O PNBEPH visa aumentar o potencial hidroelétrico do país para 7000 MW, o que representa um acréscimo de 2000 MW até 2020 para reduzir a dependência energética de Portugal, diminuir as emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) e, por último, visando cumprir a meta européia de atingir 20% de produção de energia a partir de fontes renováveis até 2020.


Mas os ambientalistas não vêm apenas os aspectos positivos destes empreendimentos, detectando vários problemas para a natureza.


Em comunicado, o presidente da Liga para a Proteção da Natureza Eugénio Sequeira explica que "os planos de construção de 12 novas barragens serão responsáveis por danos significativos em alguns cursos de água naturais".


O ambientalista acusa o governo de ter "fracassado na avaliação dos impactos ecológicos" e de não ter apresentado soluções alternativas mais efetivas em termos de custos e impactos ambientais, tais como a "microgeração, a expansão da energia solar ou a redução dos consumos".


Estas organizações ambientalistas afirmam que o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável Português (BCSD Portugal) estimou que o país tem potencial para poupar até 40% do seu atual consumo energético através da gestão de procura.


No entanto, afirmam, o governo em vez de se concentrar em soluções de implementação "simples" opta por investir um bilhão de euros num Programa de Barragens, cuja produção de eletricidade é equivalente a 3,3% da energia consumida em Portugal e que apenas diminui em 1% a emissão de gases com efeito de estufa.


Estes ambientalistas denunciam a ausência de uma avaliação "correta" sobre os impactos negativos da implementação deste programa e os benefícios decorrentes da não construção.


E adiantam que o plano das barragens "não apresenta uma avaliação qualitativa ou quantitativa ou qualquer ponderação sobre potenciais alternativas energéticas para a produção da energia prevista pelas barragens propostas", desconsiderando os compromissos governamentais de um aumento de 20% da eficiência energética em 2020 e ignorando a oportunidade de usufruir de tecnologias energéticas mais baratas e renováveis.


Esta ausência de avaliação do impacto da implementação do projeto e sugestão de alternativas exigida pela Diretiva de Avaliação Estratégica de Impactos Ambientais resulta numa violação da Diretiva-Quadro da Água (DQA), consideram os ecologistas.


"O PNBEPH não cumpre os objetivos da DQA no que toca a contribuir para a mitigação dos efeitos das cheias e secas pois este projeto não gera o fornecimento de uma quantidade suficiente de água de boa qualidade para uma utilização sustentável, equilibrada e eqüitativa", referem, na carta enviada ao presidente da Comissão Européia.


Os ambientalistas defendem que, considerando as características climáticas portuguesas, o armazenamento de água em aqüíferos subterrâneos é uma forma mais eficiente de garantir a qualidade e a quantidade de água do que os reservatórios superficiais.


Assim, esta ONGA - constituída pela LPN e Quercus em parceria com as associações Aldeia, Almargem, COAGRET-Portugal, Euronatura, FAPAS, Fundação Nova Cultura da Água, GEOTA, Grupo Flamingo, SPEA e o European Environmental Bureau - exige que Durão Barroso supervisione a concretização deste projeto e garanta que este não tenha seguimento sem antes ser avaliado.


in Uol (Ciência e Saúde) - 21 de Março de 2008

ONGs alertam UE para impacto de construção de barragens







ONGs alertam UE para impacto de construção de barragens

Organizações Não Governamentais do Ambiente (ONGA) alertam, no Dia Mundial da Água, o presidente da Comissão Europeia (braço executivo da União Europeia, UE), Durão Barroso, para o impacto da construção de 12 novas barragens na qualidade e quantidade dos ecossistemas aquáticos.

Os ambientalistas, em carta enviada a Durão Barroso, reconhecem os aspectos positivos da energia hidroelétrica, mas apontam "danos significativos nos cursos de água" e desvalorizam o impacto na redução das emissões para a atmosfera.

Em Outubro, o Governo português, através do Instituto da Água, apresentou o Programa de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH), um plano estratégico que seleciona, dentro de 25 hipóteses, a localização de dez novas barragens de acordo com critérios sociais, económicos e ambientais.

Após um processo de avaliação ambiental estratégica, foram selecionadas seis barragens na bacia do Rio Douro, duas na bacia do Rio Tejo e uma nas bacias dos Rios Vouga e Mondego, tendo-se adicionado posteriormente o projeto do Ribeiradio e Baixo Sabor.

O PNBEPH visa aumentar o potencial hidroeléctrico do país para 7000 MW, o que representa um acréscimo de 2000 MW até 2020 para reduzir a dependência energética de Portugal, diminuir as emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) e, por último, visando cumprir a meta europeia de atingir 20% de produção de energia a partir de fontes renováveis até 2020.

Mas os ambientalistas não vêm apenas os aspectos positivos destes empreendimentos, detectando vários problemas para a natureza.

Em comunicado, o presidente da Liga para a Proteção da Natureza Eugénio Sequeira explica que "os planos de construção de 12 novas barragens serão responsáveis por danos significativos em alguns cursos de água naturais".

O ambientalista acusa o governo de ter "fracassado na avaliação dos impactos ecológicos" e de não ter apresentado soluções alternativas mais efetivas em termos de custos e impactos ambientais, tais como a "microgeração, a expansão da energia solar ou a redução dos consumos".

Estas organizações ambientalistas afirmam que o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável Português (BCSD Portugal) estimou que o país tem potencial para poupar até 40% do seu actual consumo energético através da gestão de procura.

No entanto, afirmam, o Governo em vez de se concentrar em soluções de implementação "simples" opta por investir um bilhão de euros num Programa de Barragens, cuja produção de electricidade é equivalente a 3,3% da energia consumida em Portugal e que apenas diminui em 1% a emissão de gases com efeito de estufa.

Estes ambientalistas denunciam a ausência de uma avaliação "correcta" sobre os impactos negativos da implementação deste programa e os benefícios decorrentes da não construção.

E adiantam que o plano das barragens "não apresenta uma avaliação qualitativa ou quantitativa ou qualquer ponderação sobre potenciais alternativas energéticas para a produção da energia prevista pelas barragens propostas", desconsiderando os compromissos governamentais de um aumento de 20% da eficiência energética em 2020 e ignorando a oportunidade de usufruir de tecnologias energéticas mais baratas e renováveis.

Esta ausência de avaliação do impacto da implementação do projecto e sugestão de alternativas exigida pela Directiva de Avaliação Estratégica de Impactos Ambientais resulta numa violação da Directiva-Quadro da Água (DQA), consideram os ecologistas.

"O PNBEPH não cumpre os objetivos da DQA no que toca a contribuir para a mitigação dos efeitos das cheias e secas pois este projecto não gera o fornecimento de uma quantidade suficiente de água de boa qualidade para uma utilização sustentável, equilibrada e equitativa", referem, na carta enviada ao presidente da Comissão Europeia.

Os ambientalistas defendem que, considerando as características climáticas portuguesas, o armazenamento de água em aquíferos subterrâneos é uma forma mais eficiente de garantir a qualidade e a quantidade de água do que os reservatórios superficiais.

Assim, esta ONGA - constituída pela LPN e Quercus em parceria com as associações Aldeia, Almargem, COAGRET-Portugal, Euronatura, FAPAS, Fundação Nova Cultura da Água, GEOTA, Grupo Flamingo, SPEA e o European Environmental Bureau - exige que Durão Barroso supervisione a concretização deste projecto e garanta que este não tenha seguimento sem antes ser avaliado.

in, UOL (via Lusa) - 21 de Março de 2008

Especialistas de engenharia não conseguem tranquilizar adversários da barragem de Fridão









Especialistas de engenharia não conseguem tranquilizar adversários da barragem de Fridão

Os quatro especialistas de engenharia civil convidados pela Câmara Municipal de Amarante para um debate, sexta-feira à noite, sobre a segurança da barragem de Fridão, no rio Tâmega, não conseguiram tranquilizar os adversários da sua construção.

Os intervenientes asseguraram "a excelência da engenharia portuguesa" na construção de aproveitamentos hidroeléctricos, reputada em todo o mundo, mas ao mesmo tempo reconheceram "que não existem risco zero", deixando na centena e meia de assistentes a ideia de que a construção de duas barragens, a apenas três e seis quilómetros a montante da cidade, "é um facto consumado".

O debate sobre segurança reuniu dois dirigentes do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), o presidente Carlos Matias Ramos e o responsável do Departamento de Barragens de Betão, Carlos Pina, um representante do Instituto da Água (INAG), João Avilez e ainda Ferreira Lemos, director do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Carlos Ramos disse à Lusa que compreende a "intranquilidade e o desconforto" da população de Amarante, mas assegura que nunca houve um acidente numa barragem em Portugal que tenha sido acompanhada pelo LNEC e que estes empreendimentos, além de cumprirem rigorosos controlos durante o projecto e a construção, são monitorizados permanentemente durante a sua fase de exploração.

Salientando que fala exclusivamente na qualidade de técnico, o presidente do LNEC considerou "ser sua obrigação aproveitar todas as oportunidades para esclarecer as pessoas e para desmistificar alguns mitos".

O risco de um colapso de uma barragem em arco, como a que está prevista para Fridão, classificada de nível 1 (o risco mais elevado), "é de um para dez milhões", afirmou Carlos Ramos, adiantando que a monitorização permitirá acompanhar ao milímetro o comportamento da obra, que será comparado com os dados do modelo numérico que foi executado a uma escala reduzida na fase de estudo e projecto da obra.

Primeiro caso de uma cidade no sopé de uma barragem
O responsável do LNEC, que se escusou naturalmente a dizer se era a favor ou contra a construção de Fridão, reconheceu, contudo, que não há nenhum caso em Portugal de uma cidade situada quase no sopé de uma grande barragem.

"É verdade, é verdade. Reconheço isso. Há um sentimento [de insegurança] que eu entendo perfeitamente, mas entendo também que a nossa lógica é técnica, de quem dedicou toda uma vida a este tipo de obras e à melhoria dos procedimentos tendo em vista uma antecipação dos problemas e um melhor dimensionamento", disse Carlos Ramos à Lusa.

"O que sabemos hoje é muito mais do que sabíamos em 1954 [quando foi construída a barragem do Cabril, no rio Zêzere, a primeira construída exclusivamente pela engenharia portuguesa]", concluiu o presidente do LNEC.

O responsável do LNEC pela área de barragens, Carlos Pina, insistiu que qualquer empreendimento deste tipo terá obrigatoriamente planos de emergência internos e externos e assegurou que num hipotético acidente há tempo suficiente para executar um plano de evacuação, colocando a salvo a população da cidade.

O debate girou também em redor do tempo de evacuação da população da cidade no caso de um acidente, que os ambientalistas e adversários da barragem estimam ser de apenas meia hora, mas há também respostas que apenas vão ser obtidas na fase de execução do projecto, como é a questão de "até onde chegará a onda", ou seja, que zonas de Amarante serão inundadas, no caso de ocorrer um colapso do paredão da barragem.

Por esclarecer ficou também a questão da sismicidade da zona, assinalada num relatório elaborado há 17 anos, mas que os técnicos procuraram minimizar, garantindo que serão feitos estudos rigorosos para o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e que a barragem, a ser construída, será dotada de instrumentos de registo de sismicidade.
Construção de Fridão já aparece como “facto consumado”
Na fase de debate, o líder do movimento local de contestação à obra acusou os técnicos de serem pessoas ligadas à engenharia das barragens, apesar da sua elevada reputação técnica, e de terem vindo ao debate com o intuito de "defender a sua dama".

Para esta ideia, que perpassou em parte da assistência, contribuiu a apresentação inicial do vice-presidente do LNEC, ao deixar a "profecia" de que nenhum argumento conseguirá travar a construção das barragens no rio Tâmega, sobretudo se atentarmos à sua valia económica.

"Nos próximos anos passaremos várias vezes por esta cidade na visita às barragens que se vão construir no Tâmega", afirmou Carlos Pina, ao saudar a hospitalidade de Amarante.

Ferreira Lemos, da FEUP, realçou a "cultura de segurança" dos empreendimentos hidroeléctricos e, socorrendo-se de material da EDP, mostrou a antevisão das duas barragens, indicando que os planos da empresa prevêem que comece a produzir energia em 2016 e que a sua construção iniciar-se-á em 2012.

Para João Avilez, do INAG, a adjudicação à EDP é ainda provisória mas também este responsável salienta a valia económica da barragem de Fridão que contribuirá, com os outros nove empreendimentos lançados pelo Governo, para elevar a produção hidroeléctrica portuguesa para os 8.000 MW.

O estudo prévio da EDP relativamente a Fridão define a construção de uma barragem principal com quase uma centena de metros de altura e de um contra-embalse com 30 metros, este a apenas três quilómetros de Amarante, que os técnicos asseguram ser necessário para "modelar" [regularizar] o caudal do rio Tâmega na área urbana da cidade.

A Câmara de Amarante promete realizar outro debate sobre a barragem, este sobre os impactes ambientais sobre a cidade, uma área onde os ambientalistas e adversários da obra esperam ganhar algum terreno e ter argumentos mais convincentes para contrapor ao designado "lóbi dos engenheiros e do betão".

in Marão Online - 21 de Março de 2008