quarta-feira, 5 de maio de 2010
Grandes Barragens (6 para o Tâmega!): ENERGIA – A FUGA PARA A FRENTE
1. A capacidade instalada de energia eólica (cerca de 3 500 MW) está a ser paga por nós, consumidores, a cerca de 90 euros/ MWh e a fotovoltaica instalada (cerca de 75 MW) a cerca de 350 euros/ MWh. O preço de mercado da rede andará pelos 30‐40 euros/ MWh.
Já temos energia intermitente em excesso em certas alturas, o que nos obriga a exportar para Espanha a preço zero a tal eólica em excesso, como o Expresso noticiou recentemente.
Se o “mix” energético já estava desequilibrado, vem agora o governo numa autêntica fuga para a frente propor‐se aumentar a capacidade instalada da eólica para 8 500 MW e da fotovoltaiva para 1 500 MW!
Concordo que se tenha introduzido uma componente eólica de geração por razões de diversificação do mix energético. Mas com a dimensão que sequer ter, só poderemos ter a electricidade cada vez mais cara. É preciso um “stand‐by” na eólica. E quanto à fotovoltaica, com a tecnologia existente e os custos actuais, só quem não sabe o que fazer ao dinheiro é que avançará para os 1 500 MW!
Esse excesso de eólica vai também gerar grande instabilidade na rede, podendo provocar apagões…
Tudo isto consubstancia um desvario e uma irracionalidade económica que todos já estamos a pagar, e que já é bem visível com o famoso défice tarifário, que terá um efeito bola de neve.
2. Essa nova eólica será complementada por novas barragens de bombagem. Se para a eólica já existente, e cujo investimento é um custo afundado (“sunk cost”), se justificava a instalação dessas hídricas para armazenar a eólica produzida em excesso nas horas de menor consumo, a decisão de investimentos novos no binómio eólica‐bombagem é um erro pois aos custos da nova eólica haverá que somar os custos do investimento na bombagem, num processo em que a bombagem tem perdas de energia da ordem dos 25%, devido às perdas de carga nos circuitos hidráulicos. Tais perdas anulam pois parte da electricidade produzida!
Como tal, os investimentos nas centrais de bombagem terão que ser considerados basicamente como um sobrecusto a onerar o custo da energia eólica, já de si muito elevado como referido em 1.
3. Não tem havido o cuidado de esclarecer devidamente a opinião pública acerca da discrepância entre as potências instaladas nos parques eólicos e fotovoltaicos e os valores da energia efectivamente produzida. De facto, em virtude da sua intermitência, estas fontes primárias apenas poderiam ser complementares dos centros produtores tradicionais, mais controláveis e muito mais disponíveis.
4. Por outro lado, os opositores da energia nuclear dizem (e bem) que essa energia só produz electricidade, não permitindo reduzir as importações de petróleo. Ora a eólica e a fotovoltaica também só produzem electricidade e por isso, ao contrário do que agora se insinua, esta nova fuga para a frente não vai reduzir a factura petrolífera!
5. Verdadeiramente delirante é a previsão de 130 mil novos postos de trabalho.
As novas barragens só criam emprego na fase de construção. Em funcionamento serão telecomandadas e, segundo um Administrador da EDP citado no Expresso em Maio de 2009, o número de empregos permanentes nas novas barragens será só de 85! Que se saiba, a fábrica de componentes para os geradores eólicos em Viana do Castelo criará mil empregos. Juntemos-lhe mais alguns na produção das torres noutras empresas portuguesas.
Mesmo com um multiplicador de emprego (relação empregos indirectos/empregos directos criados) generoso, não consigo ver como se chega a tais números. Por outro lado, os sobrecustos destas renováveis destroem empregos na economia devido às suas consequências na competitividade empresarial e na retracção do poder de compra das famílias.
Assim, em vez de criação de postos de trabalho temos é destruição de postos de trabalho com a actual política energética.
Tudo isto vem referido em três relatórios arrasadores sobre o balanço negativo da criação de emprego nestas renováveis em três economias que, ao contrário de nós, até conseguiram desenvolver o “cluster” industrial na eólica e na fotovoltaica: a Espanha, a Alemanha e a Dinamarca.
Recomendo pois vivamente a leitura de: “Study of the Effects on Employement of Public Aid to Renewable Energy Sources” em Espanha (http://www.juandemariana.org/pdf/090327‐employement‐public‐aidrenewable.pdf) e “Economic Impacts from the Promotion of Renewable Energies” na Alemanha (http://www.instituteforenergyresearch.org/germany/Germany_Study_‐_FINAL.pdf.); “Wind Energy The Case of Denmark” (http://www.cepos.dk)
Desde 2004 que a Dinamarca terminou com o sistema de “feed‐in tariffs” (semelhante ao português em que o consumidor paga pesadamente, quer precise ou não de energia).
6. O Ministro da Economia admite “algum sobrecusto que todos nós temos de suportar para viabilizar este tipo de alternativas”.
A seguir, põe‐se numa perspectiva de longo prazo dizendo que “as renováveis têm que procurar o caminho de rentabilização que as torne competitivas”.
Mas logo a seguir rejeita essa perspectiva de longo prazo, ao dizer “sobre o nuclear não seria solução pois necessitaria de 10 e 15 anos, pelo menos”!
7. Quanto ao investimento anunciado de 31 mil milhões de euros, deverá ser o tal investimento sem qualquer risco para o investidor, pois o governo, como acontece com a eólica e a fotovoltaica, garante o preço da energia e a sua venda à rede, quer precisemos ou não de energia.
Assim, tratar-se-á mais uma vez de investimentos totalmente garantidos pelos consumidores ou pelos contribuintes, no caso do défice tarifário gerado ser passado para a dívida pública.
Assim é fácil investir !
8. No que toca ao carro eléctrico, o Ministro da Economia já é mais prudente (e bem) sobre a incorporação nacional.
Com efeito, a grande limitação dos carros eléctricos é a actual tecnologia das baterias eléctricas. Será o desenvolvimento tecnológico na electroquímica que permitirá eventualmente virmos a ter futuro as baterias que viabilizarão o automóvel eléctrico.
Neste contexto, a fábrica da NISSAN a fazer em Portugal recorrerá à tecnologia das actuais baterias, a qual não é sustentável a prazo.
Assim, o que importa saber para a viabilidade a prazo do projecto NISSAN para o carro eléctrico em Portugal, é se está assegurado o desenvolvimento e a produção em Portugal das tais baterias de futuro, sem as quais o automóvel eléctrico não terá plena viabilidade.
9. Não obstante os enormes subsídios entretanto concedidos aos investimentos nas “novas energias renováveis”, o total conjunto da rubrica “Eólica, Geotérmica e Fotovoltaica“ em 2008 representou apenas 2,11 % do consumo total de energia primária em Portugal, tendo‐se mantido a dependência energética em redor de 83 % ao longo dos últimos dez anos. Isto mostra bem a falência da actual política. Simples e claro, como diria o Dr. Manuel Pinho…
Luís Mira Amaral (Professor de Economia e Gestão‐IST), in Instituto Francisco Sá Carneiro
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