segunda-feira, 26 de setembro de 2011

EUA dizem adeus às suas represas: ''São caras e nocivas ao ambiente''

Barragens - Estados Unidos da América
EUA dizem adeus às suas represas: "São caras e nocivas ao ambiente"

Símbolo obsoleto do século XX: só resistirão as eficientes. Foram destruídas 925 represas, muitas nos últimos anos. Ressuscita o negócio da pesca e do turismo.


A reportagem é de Federico Rampini, publicada no jornal La Repubblica, 18-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A tribo Klallam está em festa há uma semana por causa da "vingança do salmão selvagem, animal sagrado". O ponto culminante das celebrações foi a grande explosão de dinamite que pulverizou ontem, em uma nuvem de detritos, a barragem deLower Elwha, um rio no Estado de Washington. "A retomada do curso natural – declarou o ministro do Interior, Ken Salazar – assinala o início de uma nova era nas relações entre os nossos rios e as comunidades que vivem em suas margens".


A barragem de Lower Elwha, uma muralha de 35 metros de altura, é apenas a última a cair sob os golpes de uma nova tendência, que está apagando da paisagem norte-americana uma das marcas distintivas do século XX.


A demolição das barragens tem sido invocada há muito tempo pelos ambientalistas, que as consideram um estupro da paisagem. 


O aliado natural nessa campanha são os índios dosEUA, descendentes de tribos indígenas que preservaram tradições ancestrais de respeito pela natureza. 

Mais recentemente, os cientistas especialistas em climatologia, geografia e geologia se uniram a uma tese "revisionista": longe de regular os rios, as barragens, muitas vezes acentuam as enchentes e as inundações, enquanto um retorno ao fluxo natural permite que se reduzam as calamidades. 

Até mesmo a direita acabou inclinando, por uma razão prosaica: manter as represas custa caro, em uma fase de altos déficits públicos, enquanto destruí-las significa ressuscitar o negócio da pesca e do turismo.

Resultado: os EUA demoliram 925 barragens, a maior parte delas nos últimos quatro anos. Um número já enorme, mas que tende a aumentar rapidamente, porque o total das barragens dos EUA gira em torno das 80 mil. 
A maioria delas foi construída há mais de meio século e estão se aproximando da sua "data de validade" de acordo com as normas de segurança.

A inversão de tendência é impressionante, porque as barragens eram um símbolo da "conquista do território" por parte dos colonos brancos, e, no século XX, um motor de modernização: das fábricas têxteis às fábricas de papel no início do século XX, muitas áreas da Costa Leste e do Centro-Oeste viram florescer o seu primeiro boom industrial justamente ao longo dos rios e perto das represas que geravam a electricidade. 

Até a Segunda Guerra Mundial, as centrais hidroeléctricas alimentadas por barragens forneceram 40% de toda a energia dos EUA.

O impulso mais vigoroso à construção das represas ocorreu na Grande Depressão, precisamente aquele período histórico que hoje os norte-americanos "redescobrem" para o seu próprio prejuízo, por causa das analogias com a crise actual. 


Para arrastar a economia dos EUA para fora da Depressão, nos anos 1930, o presidente Franklin Delano Roosevelt lançou com o New Dealum imponente programa de obras públicas. 

As barragens estavam em primeiro lugar entre as infraestruturas construídas nesse período e algumas delas entraram para a história.


Esse é o caso da Hoover Dam (foto), no Black Canyon do rio Colorado, 40 quilómetros ao sul de Las Vegas: foi inaugurada no dia 30 de setembro de 1935 por Roosevelt, que teve a elegância de dedicá-la ao seu infeliz antecessor (porque os fundos haviam sido alocados quando o presidente era Herbert Hoover, o do crack da bolsa de 1929). Na paisagem espetacular ao longo da estrada US-93, a Hoover Dam havia sido uma atração turística até hoje.

Ainda mais importante foi a experiência da Tennessee Valley Authority, instituída em 1933 para ajudar uma das áreas mais atingidas pela Depressão: essa entidade pública construiu 50 barragens e 12 centrais hidroeléctricas, tornou-se um modelo de planeamento estatal do território, copiado depois da Segunda Guerra Mundial em muitos países emergentes.


Pode surpreender a marcha a ré de hoje justamente quando a energia hidroeléctrica permite reduzir as emissões de dióxido de carbono. 


Na verdade, a National Hyrdopower Associationaumentará em 66% a produção de energia nos próximos 15 anos, concentrando-a nas grandes barragens mais novas e mais eficientes. Já agora, grande parte da hidroenergia vem de 3% das barragens. 

Quanto às outras, elas podem seguir o destino de Elhwa Dam e restituir a água aos seus proprietários. "Antigamente, nos chamavam de povo salmão", diz Robert Elofson, da tribo Klallam, "porque para nós o peixe tinha uma mesma dignidade que a espécie humana. 

Neste rio, os salmões caíram de 400 mil para 3 mil. Agora, eles podem reconquistá-lo".

Amanda, in Questões Indígenas - 26 de Setembro de 2011

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