quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Barragem de Fridão - Fundação da EDP: Evocando Pascoaes








Barragem de Fridão - Fundação da EDP
Evocando Pascoaes

Que diferença nos separa, que sentimentos diferem dos de Pascoaes, que à semelhança de outros grandes poetas que elegeram nas suas poesias os seus rios (Eduardo Lourenço: Teixeira de Pascoaes e a saudade), também cantou o seu Rio Tâmega, agora que por todo o lado anunciam a sua morte? Transcrevo apenas duas quadras da poesia “sombras” do livro com o mesmo nome com o desejo que os meus conterrâneos dissipem as sombras e até as trevas, e combatam os que só pretendem realizar os seus projectos e os seus grandes interesses, destruindo os nossos mais legítimos direitos patrimoniais, ambientais e até de segurança. 

Há comportamentos que neutralizam e até limitam a participação do cidadão, agora que já se distribuem por aí umas migalhitas, e a experiência da caritativa Fundação da EDP, intervindo na vida da comunidade através dos vários grupos beneficiados, e muito caladinhos, mas o resto da população fica á margem, discriminados, já não interessa reclamar, está tudo encaminhado e organizado para um só objectivo: Barragem de Fridão a qualquer preço. 


Há alguns princípios que poderiam apontar para o sentido crítico dos Amarantinos e das suas responsabilidades na discussão de um problema que diz respeito a todos, mas porque delegam essa responsabilidade nos políticos, com os piores resultados, ou porque participar na coisa pública é uma espiga, remete-nos mais tarde para o fatalismo, ou aquele se eu sabia….

A progressiva intervenção da Fundação da EDP nas instituições de Amarante, ou o rebuçado da EDP barragens solidária (belo título), obedece a acções consertadas, muito bem planeadas, para adormecer o cidadão, naquele ritual de acordo com os seus interesses, que só limitam a consciencialização e a participação dos cidadãos entorpecidos, sem qualquer rumo e interesse. 


E lembrem-se também que as migalhitas não duram sempre.
Não me resigno ao peso de futuras desgraças ou de um futuro sem remédio. A ignorância não duvida porque desconhece o que ignora. Oxalá que a próxima geração não nos rotule de ignorantes porque transigimos e a razão não nos serviu de guia, nem uniu vontades e forças contra a Barragem de Fridão.

Ó Sena, Eurotas, Tibre! Grandes águas!
Que a voz de Homero, de Hugo e de Virgílio
Juntaste o clamor de vossas mágoas…
Pegos de drama e de dor, margens de idílio!
Ó meu Tâmega obscuro, água dormente…
Ó rio, à noite, a arder, todo estrelado!
Água meditativa, ao luar nascente,
Água coberta de asas ao sol nado!


(Sombras - Teixeira de Pascoaes).

Hernâni Carneiro, in O Jornal de Amarante, N.º 1631, Ano 32 (p. 9) - 25 de Agosto de 2011

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