segunda-feira, 21 de junho de 2010

Obras públicas recorrem a muita mão-de-obra de fora: Desemprego no distrito de Bragança não desce apesar das novas estradas e barragens










Obras públicas recorrem a muita mão-de-obra de fora
Desemprego no distrito de Bragança não desce apesar das novas estradas e barragens



(Nelson Garrido (arquivo))
Os desempregados inscritos em Abril de 2010 não são os mesmos do início de 2009

As grandes obras públicas estão a revelar-se incapazes de diminuir o desemprego no distrito de Bragança, com os inscritos nos centros de emprego a aumentarem, apesar das necessidades de mão-de-obra serem suficientes para absorver todos os desempregados da região.

O distrito está transformado num estaleiro, com empreitadas em simultâneo de estradas e barragens que representam um investimento sem precedentes no Nordeste Transmontano, superior a 1500 milhões de euros, só na fase de construção.
A criação de novos postos de trabalho tem sido apontada como a grande mais-valia destas obras, que têm já no terreno um número próximo de metade dos cerca de nove mil trabalhadores previstos no pico dos trabalhos, dentro de um ano.

Porém, a esmagadora maioria da mão-de-obra já recrutada é de fora da região e, desde o início das empreitadas, o número oficial de desempregados inscritos nos centros de emprego passou de menos de seis mil, no início de 2009, para 7333, em Abril de 2010.

O desemprego não desce principalmente pelo perfil dos desempregados. A maioria, 4266, são mulheres, e mesmo entre os 3067 homens não parece haver muitos candidatos.

Desocupados sem perfil para obras públicas
“Há situações de desemprego ligado ao sector agrícola e as pessoas não têm perfil, e aqueles que eventualmente podem ter perfil muitas vezes não se adaptam”, disse à Lusa o director do projecto da barragem da Baixo Sabor na EDP, Lopes dos Santos.

A observação é corroborada pelo responsável no terreno dos recursos humanos, António Monteiro, que mantém contacto permanente com o centro de emprego de Torre de Moncorvo, um concelho que apresenta das mais altas taxa de desemprego, a rondar os 18 por cento.

“Trabalhadores agrícolas é o que eles têm”, disse, realçando as dificuldades de adaptação a uma obra desta dimensão, “um trabalho duro e exigente”, que já levou a que, em dois anos, cerca de 200 trabalhadores tivessem entrado e saído por inadaptação.

Outro aspecto apontado pelo director de outra concessão, a das estradas do Douro Interior, que abrange o IP2 e o IC5, é a especificidade destas obras, que exigem “uma carga muito intensiva de maquinaria” que as empresas da região não têm, nem trabalhadores preparados para operarem.

Estradas com 30 a 40 por cento de trabalhadores da região

A concessionária admite que “30 a 40 por cento” dos trabalhadores destas estradas serão da região, o que equivale a cerca de 800 dos actuais 2000 no terreno, que dentro de um ano serão cinco mil para concluírem a empreitada.

Na barragem do Baixo Sabor, que começará a encher em 2013, a contratação local ultrapassa os 20 por cento, 160 dos 751 trabalhadores, um número que no próximo Verão subirá para perto de 1700.

A EDP é ainda responsável por mais 707 postos de trabalho no reforço de potência das barragens de Picote e Bemposta, no Douro Internacional, com uma percentagem idêntica à do Sabor de trabalhadores locais.

Os dados relativos às outras empreitadas apontam para cerca de mil trabalhadores locais nestas obras, mas não esclarecem se estavam desempregados ou não.

As estatísticas oficiais indicam que os desempregados inscritos em Abril de 2010 não são os mesmos do início de 2009, já que 5174 dos 7333 tinham feito a inscrição há menos de um ano.


Lusa, in Público (Economia) - 21 de Junho de 2010

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