sexta-feira, 25 de junho de 2010

Alto Tâmega em alerta: Ministério do Ambiente chumba barragem de Padroselos







Alto Tâmega em alerta vermelho
Ministério do Ambiente chumba barragem de Padroselos


Esta segunda-feira, o Ministério do Ambiente emitiu a Declaração de Impacte Ambiental (DIA) chumbando a Barragem de Padroselos, por causa da descoberta de uma espécie rara de 12 mexilhões, no rio Beça, em Boticas. Para além disto, a DIA impõe a construção dos restantes empreendimentos às cotas mais baixas.

O anúncio do chumbo da Barragem de Padroselos foi recebido, no Alto Tâmega, sem surpresa. “Era uma decisão esperada”, disse o presidente da Associação de Municípios do Alto Tâmega (AMAT), Fernando Rodrigues.

Para o autarca, a construção da Barragem de Padroselos era a que iria provocar menos impactes ambientais e criar menos problemas. Desta forma, considera que “todos os concelhos serão afectados pelas barragens, visto ser um investimento que deixa marcas terríveis nas populações locais, pelo que tem de haver contrapartidas justas para quem sofre estas penalizações”. O próximo passo, segundo Fernando Rodrigues, é continuar a lutar para que as populações afectadas tenham “as suas justas contrapartidas”.

Já o edil botiquense, Fernando Campos, lamenta a reprovação da barragem porque “de todas as barragens da Cascata do Tâmega esta é a que teria impactos locais menos significativos e as melhores condições para potenciar a eventual criação do projecto de desenvolvimento local ligado à área do turismo”, sublinhou.

Para Amílcar Salgado, membro do Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega, a Barragem de Padroselos é chumbada por interesse da Iberdrola, empresa concessionária. “Com menos investimento, a Iberdrola produzirá a mesma energia”, adiantou.

Quanto à questão da quota, Amílcar Salgado refere que a cota mínima de referência era a 312, mas a Iberdrola fez estudos de impacte ambiental a partir da cota 315. Portanto, “a cota mínima é a cota da Iberdrola”.

Por seu lado, o autarca flaviense, João Batista, mostra-se satisfeito com a decisão do Ministério do Ambiente, adiantando que “esta é a cota que menos impactos provoca no município e a que nós, autarcas e populações, sempre defendemos que seria mais benéfica para toda a região”.

O empreendimento deveria ter um total de 1.135 mega watts de potência e uma produção anual de 1.900 giga watts/hora, equivalente ao consumo de um milhão de pessoas.

Movimento cívico contra as barragens pretende impugnar Declaração de Impacte Ambiental
O Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega vai seguir a via judicial para impugnar a Declaração de Impacte Ambiental (DIA) avançou à A Voz de Chaves , Amílcar Salgado, depois de uma reunião do movimento.

Amílcar Salgado adiantou que “há uma série de directivas europeias que são violadas”, nomeadamente, “a legislação europeia sobre a água”. Aliás, um relatório da Comissão Europeia, a propósito do Plano Nacional de Barragens evidencia esse facto referindo que “vai haver uma substancial diminuição da qualidade da água”.

Por isso, é que o Movimento decidiu recorrer para os tribunais para travar o processo da construção da Cascata do Alto Tâmega, mas “a sociedade civil tem de se associar à luta”, disse.
Para o membro do Movimento a construção das barragens está associada a interesses económicos e não ao desenvolvimento da região deixando-a “desprotegida”.

Emanuel Queirós, especialista em geomorfologia e fundador do Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega adiantou que o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) não teve em conta o facto do rio Tâmega correr numa falha sismotectónica de grande fragilidade. Salientando que o “peso da água num subsolo fragilizado é indutor de sismos”.

Artur Cardoso, da Associação Pisões – Louredo, referiu que “ou as entidades portuguesas tomam providências ou seremos obrigados a seguir outras instâncias”, porque isto, “é um verdadeiro atentado ambiental onde são violadas todas as directivas comunitárias”.

Se a construção das três barragens avançar, a barragem de Gouvães será construída em plena Rede Natura e com várias espécies protegidas como o lobo ibérico. “Porque é que os mexilhões são mais importantes que o lobo ibérico?”, questiona Artur Cardoso.


Suraia Ferreira, in A Voz de Trás-os-Montes - 25 de Junho de 2010

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