terça-feira, 18 de julho de 2017

TÂMEGA - BARRAGEM DE GOUVÃES: REPORTAGEM: Descoberta de pinturas preserva dólmen de barragem em Vila Pouca de Aguiar






TÂMEGA - BARRAGEM DE GOUVÃES
REPORTAGEM: Descoberta de pinturas preserva dólmen de barragem em Vila Pouca de Aguiar

Arqueólogos encontraram pinturas antigas num dos dólmenes da Chã das Arcas, Vila Pouca de Aguiar, uma descoberta que vai levar à remoção de peças do monumento desta área que ficará submersa pela barragem de Gouvães.


A subida das águas da barragem de Gouvães, uma das três que integra o Sistema Eletroprodutor do Tâmega, vai submergir precisamente este complexo de sepulturas megalíticas. 


"É uma fase da evolução humana em que o homem começa, de certa forma, a sedentarizar-se, começa a ocupar o território e, paulatinamente, a praticar a agricultura", explicou à agência Lusa o arqueólogo João Perpétuo.

Neste local, a caminho da aldeia de Gouvães, é possível ver, a alguns metros, a pedreira afeta ao empreendimento hidrelétrico. O paredão da barragem será construído no sentido oposto.

Os trabalhos de escavação decorrem apenas no monumento número três. Todos os outros dólmenes e áreas envolventes já foram anteriormente estudados, depois selados e protegidos para sobreviverem ao tempo, mesmo submersos pela albufeira.

João Perpétuo acredita que estes monumentos funcionavam como "autênticos templos", onde eram sepultadas as entidades mais importantes da comunidade, mas onde decorriam também rituais mágico religiosos.

"Para além de terem sido identificadas, na periferia do monumento, uma série de objetos idoliformes gravados associados a essas práticas, o interior revelou também a presença de pinturas", referiu.
A investigação irá ajudar a aprofundar e compreender melhor estas pinturas, em tons avermelhados, que se encontram nos esteios do monumento.

"Há a possibilidade de estar lá uma figuração antropomorfa, eventualmente com chifres na cabeça, que se poderá atribuir a um feiticeiro, o que não é de todo singular já que esta representação aparece em outras pinturas e gravuras", explicou o responsável.

Os investigadores identificaram ainda motivos retangulares e serpentiformes, aos quais é, no entanto, "difícil atribuir um significado exato".

Mas é precisamente por causa destas pinturas e para evitar a sua destruição pela água, que algumas peças do dólmen vão ser transladadas e guardadas. No futuro, este monumento poderá ser remontado.
Nesta fase final da escavação, o responsável adiantou que foram também identificados, "abaixo do nível de construção da anta, níveis de ocupação anteriores".

Em curso está, neste momento, o processo de desclassificação deste monumento nacional.
Estes trabalhos estão a decorrer no âmbito do plano de salvaguarda do património cultural do Sistema Eletroprodutor do Tâmega, concessionado à espanhola Iberdrola e que inclui a construção de três barragens: Gouvães, Daivões e Alto Tâmega.

Rui Pedro Barbosa, também do consórcio Arqueohoje/ Palimpsesto, referiu que, no terreno, fazem-se trabalhos preventivos e de prospeção em áreas que vão ser direta e indiretamente afetadas pelo empreendimento. Há também arqueólogos a acompanhar o trabalho junto das máquinas.
 
Para além do património arqueológico, os técnicos fazem um levantamento e registo do património etnográfico, como espigueiros, moinhos, lagares ou alambiques, bem como uma recolha oral junto da populações.

As barragens deverão estar concluídas em 2023 e o maior volume de trabalhos concentra-se entre os anos 2018 e 2020.

Lusa, in Diário de Notícias - 18 de Julho de 2017

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