terça-feira, 7 de julho de 2009

No valor de 500 mil euros - Ambientalistas boicotam fundo da EDP para a biodiversidade








No valor de 500 mil euros
Ambientalistas boicotam fundo da EDP para a biodiversidade

Oito associações de defesa do Ambiente vão boicotar a edição de 2009 do Fundo EDP Biodiversidade, no valor de 500 mil euros, em protesto contra uma campanha publicitária que a empresa lançou este ano, associando as barragens à protecção da natureza. Para as próximas semanas estão previstas outras acções de protesto.

“Esta publicidade junta a calúnia à injúria”, comentou João Joanaz de Melo, representando o Geota. “Passar a mensagem de que as barragens são boas para o Ambiente quando, na verdade, são extremamente destrutivas é algo indigno para a EDP”, disse ao PÚBLICO.

Este ano, oito associações – Quercus-Associação Nacional de Conservação da Natureza, LPN (Liga para a Protecção da Natureza), Geota (Grupo de Estudos do Ordenamento do Território e Ambiente), CEAI (Centro de Estudos da Avifauna Ibérica), Aldeia, Fapas (Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens), Coagret (confederação ibérica de movimentos que defendem os rios e os afectados pelos rios destruídos) e Spea (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves) – decidiram não se candidatar aos 500 mil euros do Fundo da EDP, cujo prazo para apresentação de candidaturas termina a 12 de Julho.

“A nossa acção é um sinal de alarme, uma posição de princípio e uma denúncia contra a política errada do Governo de promover as barragens” e também “contra a hipocrisia e o branqueamento de acções pela EDP”, explicou Joanaz de Melo, engenheiro do Ambiente e docente na Universidade Nova de Lisboa.

Em comunicado divulgado ontem, as associações argumentam que a campanha se destina a “convencer os cidadãos de que as grandes barragens trazem benefícios consideráveis para a natureza, omitindo os custos ambientais e sociais por demais evidentes”.

As grandes barragens, acrescentam, “nunca se traduzem nos benefícios múltiplos previamente anunciados”. Além disso, “as medidas de compensação obrigatórias no quadro do licenciamento não ultrapassam os danos causados”.

Este é o mais recente capítulo de um enredo que dura há vários anos entre ambientalistas e o Governo e EDP. Em 2007, o Governo apresentou o Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (até 2020), reforçando a sua aposta. Se o Governo vê nas barragens uma fonte de energia limpa, com capacidade para reduzir as emissões poluentes das centrais térmicas, e uma fonte de postos de trabalho, os ambientalistas denunciam as barragens como destruidoras de ecossistemas e obras com poucos benefícios sociais.

“Em Portugal existe o mito de que as barragens são uma energia limpa”, considerou Joanaz de Melo. “Seria dez vezes mais barato o Governo apostar na eficiência energética”. Além disso, estas criam postos de trabalho temporário. “Poderiam ser criados mais empregos com outro tipo de projectos de investimento público, como a requalificação urbana”, exemplificou.

O ambientalista avançou que “para as próximas semanas já estão previstas outras acções relacionadas com este dossier” e garantiu que as organizações estão “dispostas a negociar com quem quiser negociar”.

Contactada pelo PÚBLICO, a EDP escusou-se a comentar o assunto. A campanha publicitária em causa terminou no final de Maio.

O Fundo EDP Biodiversidade – que tem 2,5 milhões de euros para aplicar até 2011 – foi lançado em 2008, ano em que recebeu 105 candidaturas. Os projectos vencedores foram o BrioAtlas Portugal, Movimentos locais e regionais do Sisão e Plano Nacional de Conservação da lampreia-de-rio e da lampreia-de-riacho.

Helena Geraldes, in Público - 7 de Julho de 2009

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